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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

uma reviravolta: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> nomeado estratego pelos Sâmios, os Atenienses<br />

que permaneciam na cida<strong>de</strong>, mal os Quatrocentos foram <strong>de</strong>postos, abriram os<br />

braços para recebê-lo <strong>de</strong> novo 395 . Ainda que extasiado e ansioso pelo regresso,<br />

Alcibía<strong>de</strong>s, s<strong>em</strong>pre igual a si mesmo no que respeita à vaida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

vencer, protela esse momento, porque queria fazer algo <strong>de</strong> grandioso (como<br />

recuperar uma boa parte do império que já havia sido perdido e evitar que<br />

outras cida<strong>de</strong>s aliadas se <strong>de</strong>svinculass<strong>em</strong>), não só <strong>em</strong> jeito <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento<br />

pela «bonda<strong>de</strong>» do povo, mas sobretudo (pensamos nós) para mostrar as suas<br />

capacida<strong>de</strong>s e ter um regresso apoteótico 396 (Alc. 27. 1).<br />

Perante esta conjuntura, Alcibía<strong>de</strong>s revela todo o seu potencial 397 e,<br />

arriscamos dizer, age, pela primeira vez, «ocialmente» <strong>em</strong> favor da sua<br />

cida<strong>de</strong>, fazendo-lhe um b<strong>em</strong> proporcional (ou até maior) às suas capacida<strong>de</strong>s<br />

e ao mal que lhe zera. Esta mudança <strong>de</strong> comportamento no exílio acaba<br />

por transformá-lo <strong>em</strong> algo <strong>de</strong> positivo para Atenas, que volta a beneciar do<br />

excelente general que Alcibía<strong>de</strong>s era 398 . Importa notar que, ao contrário <strong>de</strong><br />

Péricles – que tinha uma estratégia b<strong>em</strong> <strong>de</strong>lineada para levar a Guerra do<br />

Peloponeso a bom porto 399 –, a ação <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s é uma resposta direta a<br />

cada acontecimento com que se <strong>de</strong>para. Já havíamos visto 400 que a ação por<br />

reação é um traço do comportamento <strong>de</strong>ste Alcmeónida que, por norma,<br />

lhe permite alcançar gran<strong>de</strong>s sucessos. Aliás, <strong>Plutarco</strong> parece até enten<strong>de</strong>r<br />

que o reconhecimento do valor <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s enquanto general resulta <strong>de</strong><br />

este ter sido b<strong>em</strong> sucedido <strong>de</strong> todas as vezes <strong>em</strong> que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u as causas <strong>de</strong><br />

Atenas e <strong>dos</strong> gran<strong>de</strong>s danos que lhe provocou quando passou para o lado do<br />

inimigo 401 .<br />

Através <strong>de</strong>sta estratégia <strong>de</strong> reação, o general consegue <strong>de</strong>volver a Atenas<br />

o império marítimo, que então se encontrava reduzido a uma ínma parte<br />

do que fora no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> Péricles. No entanto, a sua primeira intervenção<br />

395 O <strong>de</strong>creto através do qual os Atenienses chamam Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong> volta data <strong>de</strong> 411 a.C. e<br />

foi proposto por Crítias, lho <strong>de</strong> Calescro (um poeta trágico e lírico), segundo o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong><br />

uma elegia da sua própria autoria (Alc. 33. 1). Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Hatzfeld (1940: 256-258).<br />

396 Sobre a postura <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s por ocasião do regresso a Atenas, vi<strong>de</strong> infra p. 298.<br />

397 Ninguém ousaria negar que, enquanto estratego, o Alcmeónida era excelente a planear<br />

esqu<strong>em</strong>as para alcançar os seus objetivos. Só se lhe po<strong>de</strong> apontar como <strong>de</strong>feito o facto <strong>de</strong> não ter<br />

colocado essa capacida<strong>de</strong> exclusivamente ao serviço da população, como Péricles. O seu único<br />

intuito foi s<strong>em</strong>pre satisfazer o seu ego: saciar a se<strong>de</strong> <strong>de</strong> vingança, zelar pela sua segurança pessoal<br />

ou, quando cansado do exílio, regressar a casa.<br />

398 Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2005: 176).<br />

399 Sobre a estratégia <strong>de</strong> Péricles, vi<strong>de</strong> supra p. 277.<br />

400 Cf. supra p. 286.<br />

401 Nenhum <strong>ateniense</strong> jamais fez um percurso tão recriminável. O próprio T<strong>em</strong>ístocles,<br />

quando procurou a proteção <strong>dos</strong> Persas, recusou-se a cumprir a promessa feita ao Rei <strong>de</strong> agir<br />

contra Atenas. Quando aquele lha cobrou, o Ateniense, <strong>em</strong> atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> nobreza, preferiu<br />

suicidar-se a trair a própria pátria (<strong>em</strong>. 31. 4-5).<br />

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