17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

da posição pró-oligárquica <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que atribuía ao <strong>de</strong>sejo secreto <strong>de</strong><br />

regressar a Atenas. No entanto, vinga a vonta<strong>de</strong> da maioria, pelo que, Frínico,<br />

inimigo <strong>de</strong>clarado do Alcmeónida, põe <strong>em</strong> marcha um plano maquiavélico 385 :<br />

<strong>de</strong>nuncia ao comandante da frota adversária 386 as intenções e o jogo duplo <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s. Este, porém, não se <strong>de</strong>ixa car e retalia, mandando avisar os Sâmios<br />

<strong>de</strong> que um <strong>dos</strong> seus revelara a estratégia ao inimigo. Desta feita, Frínico vai<br />

mais longe e propõe aos Persas, através <strong>de</strong> Astíoco, entregar-lhes Atenas;<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po, por precaução e malda<strong>de</strong>, anuncia aos Atenienses que os<br />

inimigos, por ação <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, iriam atacá-los. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso,<br />

que estes tenham duvidado das verda<strong>de</strong>iras intenções do Alcmeónida, que –<br />

informado por Astíoco – os aconselhou a car <strong>de</strong> sobreaviso <strong>em</strong> relação a<br />

Frínico. Como é hábito do povo, só mais tar<strong>de</strong>, quando aquele foi assassinado<br />

na Ágora, reconheceu as boas intenções do estratego exilado 387 .<br />

Na sequência da alteração do regime <strong>em</strong> Samos, Atenas vive um <strong>dos</strong><br />

piores perío<strong>dos</strong> do século V a.C. Os amigos que Alcibía<strong>de</strong>s aí tinha enviam<br />

Pisandro à para convencer os po<strong>de</strong>rosos a aceitar a condição que<br />

aquele impunha para vir <strong>em</strong> seu socorro e conseguir-lhes uma aliança com<br />

Tissafernes: nada mais nada menos do que substituir o regime <strong>de</strong>mocrático por<br />

um oligárquico 388 ! Ora, os cidadãos que <strong>de</strong> há muito ansiavam pela mudança<br />

<strong>de</strong> constituição basearam-se neste pretexto para assumir o po<strong>de</strong>r; mas o seu<br />

intuito real era, com esta opção, tornar os Lace<strong>de</strong>mónios, partidários <strong>de</strong>ste tipo<br />

<strong>de</strong> regime, mais dóceis. Uma vez <strong>de</strong>posta a <strong>de</strong>mocracia, <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> investir<br />

na Guerra do Peloponeso e os Quatrocentos 389 passaram a oprimir o povo<br />

que Frínico estava certo: . Este comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s é comparável ao do povo,<br />

que volta atrás na sua posição <strong>de</strong>pois que a raiva esmorece (cf. supra p. 260). O muito mal que<br />

fez à sua pátria permitiu-lhe aliviar a fúria, do mesmo modo que o povo <strong>de</strong>scarregara a sua ira<br />

atacando os políticos que o governavam. Neste sentido, Alcibía<strong>de</strong>s é um excelente ex<strong>em</strong>plar da<br />

maneira <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> um <strong>ateniense</strong> legítimo.<br />

385 Cf. uc. 8. 50-51.<br />

386 Astíaco assumiu esse cargo <strong>em</strong> 412/411 a.C. Para mais informações a respeito <strong>de</strong>ste<br />

espartano, consult<strong>em</strong>-se Hammond - Scullard (1992: 199) e Westlake (1968: cap. 15).<br />

387 Alc. 25. 14. A <strong>de</strong>sconança <strong>dos</strong> Atenienses <strong>em</strong> relação a Alcibía<strong>de</strong>s também é<br />

mencionada por Polyaen. 3. 6. A forma um tanto ou quanto confusa como <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>screve<br />

as circunstâncias <strong>em</strong> que ocorreu a morte <strong>de</strong> Frínico não segue o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> uc. 8. 92.<br />

2. Frínico, que era um <strong>dos</strong> lí<strong>de</strong>res do regime <strong>dos</strong> Quatrocentos, foi <strong>de</strong>stituído do seu cargo por<br />

causa do probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> que se envolveu com Alcibía<strong>de</strong>s e Astíoco (e.g.uc. 8. 90. 1; Arist.<br />

Pol. 1305b).<br />

388 Cf. uc. 8. 49, que indica que esta <strong>em</strong>baixada teve lugar muito antes da morte <strong>de</strong> Frínico<br />

e até que antece<strong>de</strong>u a sua querela com o Alcmeónida. Trata-se, por isso, <strong>de</strong> mais uma das ocasiões<br />

<strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong> realmente veste a pele <strong>de</strong> biógrafo e aproveita os da<strong>dos</strong> históricos s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

preocupações <strong>de</strong> índole cronológica ou factual, apenas visando alcançar os efeitos pretendi<strong>dos</strong><br />

na composição das suas personagens. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 23.<br />

389 Em teoria, o novo regime era constituído por cinco mil oligarcas, <strong>dos</strong> quais quatrocentos<br />

assegurariam as funções executivas (cf. uc. 8. 67. 3).<br />

289

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!