17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

As suas indicações, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, surt<strong>em</strong> o efeito<br />

pretendido: Atenas sofre uma pesada <strong>de</strong>rrota na Sicília 368 (Alc. 24. 1), pelo que<br />

o Alcmeónida passa <strong>de</strong> instigador do sonho a responsável pelo pesa<strong>de</strong>lo 369 .<br />

Nessa altura, foram vários os alia<strong>dos</strong> que, como Quios, Lesbos e Cízico,<br />

consi<strong>de</strong>raram oportuno quebrar o pacto e coligar-se a Esparta 370 . Por inuência<br />

<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que passou então das palavras aos atos – pois acompanhava os<br />

generais espartanos 371 –, Quios foi ajudada <strong>em</strong> primeiro lugar e quase toda a<br />

Iónia <strong>de</strong>sertou.<br />

Quando as relações com Esparta se <strong>de</strong>gradam e Alcibía<strong>de</strong>s é informado<br />

do risco <strong>de</strong> vida que corre, proce<strong>de</strong> com discrição, como se não se passasse<br />

nada, mas <strong>de</strong>pressa busca uma solução para o seu probl<strong>em</strong>a 372 . Desta feita,<br />

contrariando, como era seu hábito, todas as expectativas, procura asilo<br />

na corte <strong>de</strong> um sátrapa do Rei 373 , Tissafernes 374 <strong>de</strong> seu nome, conhecido,<br />

segundo <strong>Plutarco</strong>, como o persa mais cruel e o que mais odiava os Gregos.<br />

Com a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cativar, Alcibía<strong>de</strong>s consegue – pelo menos<br />

aparent<strong>em</strong>ente – torná-lo seu aliado (Alc. 24). Nessa altura, o Alcmeónida,<br />

mais do que traidor <strong>de</strong> Atenas 375 (que prejudicou muito os Atenienses –<br />

, Alc. 24. 2), transforma-se no traidor da Héla<strong>de</strong>,<br />

pois sugere ao gran<strong>de</strong> inimigo da Grécia uma estratégia para <strong>de</strong>struir<br />

Atenas e Esparta <strong>em</strong> simultâneo e s<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> esforço 376 . Não surpreen<strong>de</strong>,<br />

por isso, que, mais tar<strong>de</strong>, quando promete anular o efeito nefasto que as<br />

tropas fenícias po<strong>de</strong>riam ter para Atenas, seja acusado <strong>de</strong> estar <strong>de</strong> novo a<br />

fazer este jogo duplo 377 .<br />

368 Sobre a expedição e o seu trágico <strong>de</strong>sfecho, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 282-311).<br />

369 Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2005: 167-178) sintetiza diferentes posições <strong>de</strong> autores antigos (Lísias,<br />

Tucídi<strong>de</strong>s, Isócrates e <strong>Plutarco</strong>) sobre o comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s enquanto exilado.<br />

370 uc. 8. 6. 1-3; D. S. 13. 34. 2. Vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 312-317).<br />

371 Não para pegar <strong>em</strong> armas, mas apenas para po<strong>de</strong>r aconselhar melhor. Para <strong>Plutarco</strong>, este<br />

pormenor é fundamental, pois permite-lhe consi<strong>de</strong>rar o mal que Alcibía<strong>de</strong>s faz à sua pátria<br />

menos grave do que igual comportamento por parte <strong>de</strong> Coriolano (Comp. Cor.-Alc. 2. 6-9). Esta<br />

<strong>de</strong>sculpabilização <strong>de</strong>corre do facto <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que, como Coriolano, tinha ótima reputação<br />

no novo meio (Cor. 29. 1, Alc. 23. 3, 24. 3), nunca se ter tornado ocialmente comandante do<br />

exército espartano, ainda que os seus conselhos tenham tido muito peso nas <strong>de</strong>cisões do inimigo<br />

(Alc. 23. 2, 24. 1-2).<br />

372 Sobre os planos <strong>de</strong> Ágis e <strong>de</strong> alguns Lace<strong>de</strong>mónios para eliminar Alcibía<strong>de</strong>s, vi<strong>de</strong> uc.<br />

8. 45. 1 e Nep. Alc. 5. 1-2.<br />

373 Nessa altura, era Dario II qu<strong>em</strong> estava no po<strong>de</strong>r.<br />

374 <strong>Plutarco</strong> segue uc. 8. 45. 2 - 46. 1 e não D. S. 13. 37. 4-5, segundo o qual Alcibía<strong>de</strong>s se<br />

aliou não a Tissafernes mas a Farnábazo.<br />

375 Alcibía<strong>de</strong>s é consi<strong>de</strong>rado um <strong>dos</strong> maiores traidores da antiguida<strong>de</strong>. Cf. Gribble (1999:<br />

55, 58-60). Note-se que, segundo uc. 8. 47, ao propor esta estratégia, o Alcmeónida já tinha<br />

<strong>em</strong> mente uma aproximação aos concidadãos, i<strong>de</strong>ia que ca esbatida no texto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, que<br />

dá mais atenção ao facto <strong>de</strong> os Atenienses se mostrar<strong>em</strong>, mais uma vez, arrependi<strong>dos</strong> por ter<strong>em</strong><br />

repudiado Alcibía<strong>de</strong>s (Alc. 25. 2).<br />

376 Cf. uc. 8. 46; X. HG 1. 5. 8-9.<br />

377 Alc. 26. 7. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 273, nota 290.<br />

287

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!