O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
um indivíduo <strong>de</strong> «gran<strong>de</strong> natureza», que, como Aquiles, também prejudicou<br />
os seus companheiros <strong>de</strong> armas, os Aqueus, por ter sido ferido na sua honra<br />
por Agamémnon (Il. 1. 488-492). Decidiu, então, fazer com que os Atenienses<br />
sentiss<strong>em</strong> o duplo efeito da sua ausência: não só não dispunham das suas<br />
capacida<strong>de</strong>s para fazer frente ao inimigo, como ainda tinham <strong>de</strong> vê-las usadas<br />
contra eles próprios. É com esse intuito e por ter o seu orgulho 359 ()<br />
ferido que oferece auxílio ( ) a Esparta, <strong>em</strong><br />
troca <strong>de</strong> segurança () e conança () 360 .<br />
Aos Espartanos, tal proposta pareceu um presente <strong>dos</strong> <strong>de</strong>uses, pelo que, <strong>em</strong><br />
um momento <strong>de</strong> rara agilida<strong>de</strong>, não <strong>de</strong>moraram a enviar resposta armativa 361 .<br />
E Alcibía<strong>de</strong>s, mal chegou a Esparta, mostrou-se igual a si mesmo: <strong>de</strong>terminado,<br />
<strong>em</strong>preen<strong>de</strong>dor, dando início à campanha <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> Atenas com base <strong>em</strong><br />
medidas diversas 362 , com o mesmo <strong>em</strong>penho com que se <strong>de</strong>dicara a convencer<br />
os Atenienses a avançar com a expedição à Sicília. A primeira consistiu <strong>em</strong><br />
invalidar os planos para que Messina 363 se entregasse à , algo que não<br />
era difícil para qu<strong>em</strong> participou na <strong>de</strong>nição <strong>de</strong>ssa estratégia: bastou-lhe<br />
<strong>de</strong>nunciar a Siracusa os m<strong>em</strong>bros do partido que pretendiam aliar-se a Atenas.<br />
A segunda assentou na gran<strong>de</strong> diferença que existia entre Atenas e Esparta: a<br />
velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta. Alcibía<strong>de</strong>s «obrigou» os Lace<strong>de</strong>mónios, que há muito<br />
hesitavam, a enviar <strong>de</strong> imediato socorro aos habitantes <strong>de</strong> Siracusa 364 . Deste<br />
modo, retomavam a guerra 365 contra Atenas e concretizavam um <strong>dos</strong> maiores<br />
receios <strong>de</strong> Péricles, a dispersão das forças por várias frentes <strong>de</strong> batalha. A última<br />
foi aconselhar os seus antriões a forticar Deceleia 366 , algo a que <strong>Plutarco</strong><br />
atribui importância capital na futura <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Atenas. S<strong>em</strong> querer <strong>de</strong>sfazer<br />
das suas capacida<strong>de</strong>s, o certo é que, no que concerne ao auxílio que prestou a<br />
Esparta (e à Pérsia) durante a fase <strong>de</strong> vingança do seu exílio, uma boa parte <strong>dos</strong><br />
resulta<strong>dos</strong> alcança<strong>dos</strong> se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ao conhecimento profundo que ele tinha <strong>dos</strong><br />
assuntos da cida<strong>de</strong> (nomeadamente os seus segre<strong>dos</strong> e fraquezas) e da maneira<br />
<strong>de</strong> ser <strong>dos</strong> Atenienses 367 .<br />
359 Trata-se do mesmo sentimento que o inspirou <strong>em</strong> Selímbria ou durante a reposição da<br />
procissão <strong>de</strong> Elêusis.<br />
360 Alc. 23. 1.<br />
361 Sobre a hesitação própria <strong>dos</strong> Espartanos, vi<strong>de</strong> supra p. 120.<br />
362 Para outras medidas que <strong>Plutarco</strong> não refere na Vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, consulte-se uc. 6. 88.<br />
10 - 93. 2. Sobre esta <strong>em</strong> especial, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 292).<br />
363 uc. 6.74. 1.<br />
364 Embora <strong>Plutarco</strong> aponte o nome <strong>de</strong> Gilipo enquanto comandante da expedição,<br />
Tucídi<strong>de</strong>s não lhe faz qualquer alusão no discurso <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s que reproduz (6. 91. 4-6). Cf.<br />
D. S. 13. 7. 1-2.<br />
365 A importância do reacendimento do conito é salientada por Nep. Alc. 4. 6-7; D. S. 13. 5. 4.<br />
366 Cf. Nep. Alc. 4. 6-7; D. S. 13. 5. 4, 13. 9. 2. Deceleia era um pequeno <strong>de</strong>mo da Ática,<br />
que já existiria quando Teseu proce<strong>de</strong>u ao sinecismo (Philoc. FGrHist 328 F 94). Para mais<br />
informações, consulte-se Hammond – Scullard (1992: 435).<br />
367 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Gribble (1999: 199).<br />
286