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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

serviu <strong>de</strong> prenúncio da do Peloponeso pela sua extensão e pelas capacida<strong>de</strong>s<br />

que os Atenienses tinham para levá-la a bom termo, também a da Sicília foi<br />

um presságio do gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre que estava reservado a Atenas.<br />

Como já t<strong>em</strong>os visto, o interesse pela Sicília era antigo 345 . Enquanto<br />

Péricles viveu, conseguiu refrear o sonho da turba. Mas, após a sua morte, o<br />

povo começou a preparar lentamente a expedição, proce<strong>de</strong>ndo como o lho <strong>de</strong><br />

Xantipo <strong>em</strong> relação à Guerra do Peloponeso 346 . Neste <strong>caso</strong> concreto, <strong>Plutarco</strong><br />

refere que os Atenienses se dispunham a partir <strong>em</strong> socorro da Sicília s<strong>em</strong>pre<br />

que um <strong>dos</strong> povos que aí habitava era atacado por Siracusa. Esta atuação<br />

permitia uma aproximação gradual, enquanto esperavam pelo momento<br />

oportuno para uma investida <strong>de</strong> maior peso. Mas Alcibía<strong>de</strong>s não tinha feitio<br />

para <strong>de</strong>longas, pelo que arrebata o espírito da multidão e convence-a a avançar<br />

<strong>de</strong> vez para a Sicília (Alc. 17. 2), que via não como um m <strong>em</strong> si mesmo, mas<br />

como ponto <strong>de</strong> partida e plataforma <strong>de</strong> aprovisionamento, por ex<strong>em</strong>plo, para<br />

Cartago e a Líbia, para a Itália e o Peloponeso 347 (Nic. 12. 2). Nícias assume a<br />

luta <strong>de</strong> Péricles e faz <strong>de</strong> tudo para evitar a expedição 348 (Alc. 17. 3, 18. 2), mas<br />

o povo só tinha olhos e ouvi<strong>dos</strong> para os argumentos do Alcmeónida 349 (Alc. 17.<br />

4). Apesar <strong>de</strong> se <strong>de</strong>cidir<strong>em</strong> (insensatamente) pela expedição, os Atenienses, <strong>em</strong><br />

um <strong>dos</strong> raros momentos <strong>em</strong> que, enquanto conjunto, revelam alguma sensatez,<br />

optam por enviar três estrategos no seu comando: Alcibía<strong>de</strong>s, Nícias 350 e<br />

Lâmaco 351 . Procuravam, <strong>de</strong>ste modo, limitar o excesso <strong>de</strong> ambição ()<br />

e <strong>de</strong> ousadia () pelos quais Alcibía<strong>de</strong>s era conhecido 352 .<br />

345 Vi<strong>de</strong> supra p. 263, nota 242.<br />

346 Comprava t<strong>em</strong>po e não a paz. Vi<strong>de</strong> supra p. 380.<br />

347 Cf. uc. 6. 15. 2, 6. 90. 2-3; D. S. 12. 83. 5 – 84. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra pp. 263-264.<br />

348 Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, o biógrafo aprofunda esta questão <strong>em</strong> Nic. 12.<br />

349 <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>screve com especial pormenor a atitu<strong>de</strong> <strong>dos</strong> jovens, que conseguimos visualizar<br />

<strong>em</strong>beveci<strong>dos</strong> a ouvir os mais velhos falar<strong>em</strong> sobre a expedição e a fazer <strong>de</strong>senhos das ilhas no<br />

chão. Cf. Nic. 13. 1.<br />

350 Em Alc. 18. 1, o biógrafo menciona que Nícias aceitou o cargo contra a sua vonta<strong>de</strong>. Cf.<br />

uc. 6. 8. 4. Importa chamar a atenção para o facto <strong>de</strong> Nícias ter um comportamento nobre<br />

enquanto estratego <strong>de</strong> uma guerra que não era a sua: tentou até ao último momento evitar<br />

que a expedição fosse realizada; no entanto, quando viu que a <strong>de</strong>cisão era irreversível, <strong>de</strong>u o<br />

seu melhor. Não surpreen<strong>de</strong>, por isso, que o biógrafo teça rasga<strong>dos</strong> elogios à sua sabedoria e<br />

honestida<strong>de</strong> <strong>em</strong> Nic. 14. 1. Alcibía<strong>de</strong>s não seria, <strong>de</strong>certo, capaz <strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhante. Basta<br />

recordar o que fez quando se sentiu preterido na celebração <strong>dos</strong> acor<strong>dos</strong> <strong>de</strong> paz com Esparta<br />

(Alc. 14)… Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra pp. 206-208.<br />

351 Filho <strong>de</strong> Xenófanes e natural do <strong>de</strong>mo <strong>de</strong> Ea, participou <strong>em</strong> diversas expedições,<br />

nomeadamente na que foi enviada a Esparta para celebrar a Paz <strong>de</strong> Nícias (422/421a.C.).<br />

Apesar <strong>de</strong> ser mais velho, Lâmaco tinha um espírito muito parecido com o <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. Em<br />

Nic. 12. 3-6 salienta-se a sua t<strong>em</strong>erida<strong>de</strong> (), característica que, juntamente com a sua<br />

posição belicista na guerra do Peloponeso, lhe valeu o ataque <strong>de</strong> Aristófanes <strong>em</strong> Ach. 270 e Pax<br />

304. Note-se, contudo, que o comediógrafo (. 841) soube prestar-lhe a <strong>de</strong>vida homenag<strong>em</strong><br />

pelo heroísmo que <strong>de</strong>monstrou por ocasião da sua morte <strong>em</strong> Siracusa. Também é mencionado<br />

por Plu. Per. 20. 1.<br />

352 Cf. Nic. 12. 3-6. Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso notar que o biógrafo utiliza neste contexto<br />

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