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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte II - Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

32<br />

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<br />

<br />

<br />

“Oxalá conseguíss<strong>em</strong>os que, expurgado pela razão, o mito se adaptasse e<br />

ganhasse forma <strong>de</strong> história; mas, se alguma vez, com audácia, <strong>de</strong>sprezar a<br />

credibilida<strong>de</strong> e não admitir um acordo com o verosímil, precisar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> leitores<br />

compreensivos e que acolham com paciência as tradições antigas.”<br />

De facto, <strong>Plutarco</strong> tenta proce<strong>de</strong>r <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com estes princípios,<br />

pois, s<strong>em</strong>pre que possível, indica as diferentes versões <strong>de</strong> um mesmo episódio,<br />

chamando a atenção para aquela que lhe parece ser mais plausível. Em Rom. 6.<br />

1, por ex<strong>em</strong>plo, quando refere que os gémeos Rómulo e R<strong>em</strong>o 6 foram cria<strong>dos</strong><br />

por Fáustulo, porqueiro <strong>de</strong> Amúlio, arma que o mais certo é tê-lo feito não às<br />

escondidas <strong>de</strong> to<strong>dos</strong>, mas com o conhecimento e apoio <strong>de</strong> Numitor.<br />

O texto (es. 1. 4) parece sugerir que a formação do par Teseu/Rómulo<br />

teve por base a escolha da gura romana, já que <strong>Plutarco</strong> começa por dizer<br />

que não seria <strong>de</strong>spropositado tratar a gura <strong>de</strong> Rómulo (<br />

). A opção por Teseu acaba por ser a<br />

mais lógica <strong>em</strong> termos paralelos: <strong>em</strong>bora não sendo o verda<strong>de</strong>iro fundador<br />

() <strong>de</strong> Atenas – porque a cida<strong>de</strong> já existia há muito –, este herói foi,<br />

sobretudo a partir do século V, consi<strong>de</strong>rado o fundador <strong>de</strong> uma civilização e<br />

<strong>de</strong> um projeto político <strong>de</strong>cisivo por lhe ser atribuída a responsabilida<strong>de</strong> pela<br />

união <strong>de</strong> todas as comunida<strong>de</strong>s da Ática, que <strong>de</strong>u orig<strong>em</strong> à Atenas <strong>de</strong> que<br />

hoje se t<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória 7 .<br />

No segundo capítulo do proémio, <strong>Plutarco</strong> continua a justicar a<br />

escolha <strong>de</strong>ste par, invocando outras características que Teseu e Rómulo têm<br />

<strong>em</strong> comum: a orig<strong>em</strong> ilegítima e clan<strong>de</strong>stina, a fama <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> lhos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>uses, as capacida<strong>de</strong>s intelectuais e militares 8 , os infortúnios domésticos e<br />

6 Segundo <strong>Plutarco</strong> (Rom. 4. 1 e 6. 2), os nomes <strong>dos</strong> jovens caram a <strong>de</strong>ver-se ao facto <strong>de</strong><br />

ter<strong>em</strong> sido vistos a mamar numa loba. É que, <strong>em</strong> latim, teta dizia-se ruma, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>usa<br />

que tutelava a alimentação <strong>dos</strong> recém-nasci<strong>dos</strong> chamar-se Rumina. Por essa mesma razão, a<br />

gueira sob a qual os gémeos foram amamenta<strong>dos</strong> recebeu o nome <strong>de</strong> Ruminal. <strong>Plutarco</strong> levanta<br />

igualmente a hipótese <strong>de</strong> a <strong>de</strong>signação da gueira provir do nome <strong>de</strong> Rómulo. Trata-se, pois,<br />

<strong>de</strong> mais um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> recurso a el<strong>em</strong>entos míticos com a função <strong>de</strong> para justicar<br />

antropónimos, topónimos, tradições, festas... Voltar<strong>em</strong>os a comprová-lo mais adiante, quando<br />

nos <strong>de</strong>bruçarmos especicamente sobre a Vida <strong>de</strong> Teseu. Vi<strong>de</strong> infra pp. 99-105.<br />

7 <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>ixa transparecer esta dualida<strong>de</strong> no texto, na medida <strong>em</strong> que ora o invoca através<br />

do substantivo que <strong>de</strong>signa o fundador <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> – (es. 1. 5), ora se lhe refere<br />

com recurso à forma verbal do verbo ‘unir numa única cida<strong>de</strong>’ (es. 2. 2).<br />

Sobre a evolução do mito <strong>de</strong> Teseu, vi<strong>de</strong> infra p. 61.<br />

8 O modo como o Queroneu alu<strong>de</strong> a estas duas qualida<strong>de</strong>s revela (como vários outros passos<br />

da sua obra) o constante recurso e o profundo conhecimento da História da Guerra do Peloponeso

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