O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
que não lhe permitia recuar s<strong>em</strong> antes <strong>de</strong>scarregar toda a sua fúria… o lho <strong>de</strong><br />
Xantipo acaba por ser <strong>de</strong>stituído do cargo e con<strong>de</strong>nado a pagar uma multa 339 .<br />
E quando o povo acordou para a falta que Péricles lhe fazia, era tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais:<br />
o estadista ainda voltou 340 , mas sucumbiu pouco <strong>de</strong>pois, também ele vítima<br />
da peste. <strong>Plutarco</strong> não torna, por isso, a referir qualquer outra intervenção <strong>de</strong><br />
Péricles no <strong>de</strong>senvolvimento da guerra.<br />
Consequent<strong>em</strong>ente, o conito foi seguindo o seu curso com outros<br />
estrategos à frente <strong>dos</strong> <strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Atenas. De to<strong>dos</strong>, <strong>de</strong>stacamos (como não<br />
po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser) Alcibía<strong>de</strong>s, cuja intervenção – <strong>de</strong>corrente da aci<strong>de</strong>ntada<br />
relação que mantinha com o povo – foi fundamental para o trágico <strong>de</strong>sfecho<br />
da guerra, <strong>de</strong> tal maneira que po<strong>de</strong>mos armar que a Guerra do Peloponeso foi<br />
um fogo que <strong>de</strong>agrou e se extinguiu por causa <strong>dos</strong> Alcmeónidas.<br />
Antes, porém, <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>bruçarmos sobre o papel <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s na Guerra<br />
do Peloponeso, importa abrir um parêntesis para reetirmos sobre a sua<br />
atuação enquanto general. Neste sentido, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a sua vida<br />
militar passa por dois gran<strong>de</strong>s momentos: o que antece<strong>de</strong> e coinci<strong>de</strong> com o<br />
exílio e o que se lhe segue.<br />
Do primeiro, importa <strong>de</strong>stacar a inuência <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s no reacen<strong>de</strong>r<br />
do conito com Esparta e na expedição à Sicília. Na sequência do logro com<br />
que minou a Paz <strong>de</strong> Nícias 341 , Alcibía<strong>de</strong>s foi eleito estratego e, <strong>de</strong> imediato,<br />
celebrou uma aliança com Mantineus, Eleus e Argivos, com o intuito <strong>de</strong> avivar<br />
as hostilida<strong>de</strong>s com a Lace<strong>de</strong>mónia, chamando a si as principais cida<strong>de</strong>s do<br />
Peloponeso 342 . Por essa ocasião, provocou a batalha <strong>de</strong> Mantineia 343 , da qual<br />
Atenas saiu <strong>de</strong>rrotada, e ajudou a restaurar a <strong>de</strong>mocracia <strong>em</strong> Argos 344 .<br />
Destacamos também a expedição contra a Sicília (415 a.C.), porque está<br />
para a Guerra do Peloponeso sob o domínio <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, como a <strong>de</strong> Samos o<br />
estivera sob o <strong>de</strong> Péricles. Por outras palavras: do mesmo modo que a <strong>de</strong> Samos<br />
339 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s 2. 65. 3 (<strong>em</strong> parte parafraseado por <strong>Plutarco</strong>) e Diodoro<br />
Sículo 12. 45. 4. Segundo Platão (Grg. 516a), o facto <strong>de</strong> o povo afastar Péricles do comando é sinónimo<br />
<strong>de</strong> que o estadista não estava a tornar os cidadãos melhores. De acordo com esta mesma fonte,<br />
Péricles foi acusado <strong>de</strong> roubar o erário público. O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>posição chamava-se .<br />
Votava-se, então, no princípio <strong>de</strong> cada pritania, a avaliação <strong>dos</strong> generais e magistra<strong>dos</strong>. Se essa fosse<br />
consi<strong>de</strong>rada negativa, o general ou magistrado seria objeto <strong>de</strong> julgamento: se fosse con<strong>de</strong>nado, o<br />
tribunal estabeleceria a pena; se fosse absolvido, reassumiria o seu cargo (cf. Arist. Ath. 61. 2).<br />
340 O Alcmeónida foi reeleito <strong>em</strong> março <strong>de</strong> 429, mas só viria a car no po<strong>de</strong>r por três meses.<br />
Sobre a peste e o <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> Péricles, consulte-se Lewis (1992: 200-203).<br />
341 Plu. Alc. 15, Nic. 10. 9, Moralia 351B e uc. 5. 43. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Lewis (1992:<br />
249-252).<br />
342 Cf. uc. 5. 52. 2; Isoc. 15. 15; Plu. Moralia 804E.<br />
343 Esta batalha, que t<strong>em</strong> lugar <strong>em</strong> 418 a.C., é <strong>de</strong>scrita por uc. 5. 66-74. O texto <strong>de</strong><br />
<strong>Plutarco</strong> é brilhante, porque chama a atenção para o perigo que Esparta correu, refere que <strong>em</strong><br />
<strong>caso</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrota Atenas não seria muito afetada, porque a refrega teria lugar longe da Ática, mas<br />
nunca diz abertamente que foram os alia<strong>dos</strong> a sair <strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong>.<br />
344 No ano <strong>de</strong> 417 a.C. Cf. uc. 5. 81-82; D. S. 12. 80-81.<br />
283