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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

formação losóca <strong>de</strong> base que teve, da qual resultou um espírito esclarecido 333 .<br />

E conseguiu convencer os Atenienses a partir, pois explicou-lhes a mecânica<br />

do fenómeno. Mas o certo é que, apesar <strong>de</strong> Péricles consi<strong>de</strong>rar a associação<br />

do eclipse a um mau presságio uma forma <strong>de</strong> superstição e ignorância, os<br />

Atenienses saíram <strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong>.<br />

Importa abrir aqui um parêntesis para chamar a atenção para o facto <strong>de</strong> este<br />

não ter sido um episódio único durante a Guerra do Peloponeso. Efectivamente,<br />

também a expedição à Sicília foi precedida <strong>de</strong> inúmeros «avisos», aos quais<br />

Nícias 334 ainda tentou dar ouvi<strong>dos</strong>, como a mutilação <strong>dos</strong> Hermes 335 , ou a festa<br />

<strong>em</strong> honra <strong>de</strong> Adónis 336 . No entanto, Alcibía<strong>de</strong>s, na esteira <strong>de</strong> Péricles, não se<br />

<strong>de</strong>ixava intimidar por esse tipo <strong>de</strong> argumentos, pelo que a sua posição vingou<br />

e a armada partiu. E Atenas acabou humilhada… Algo s<strong>em</strong>elhante aconteceu<br />

por ocasião do regresso do lho <strong>de</strong> Clínias a Atenas após os anos <strong>de</strong> exílio:<br />

apesar <strong>de</strong> ter sido recebido com entusiasmo e esperança <strong>em</strong> um futuro melhor<br />

para a cida<strong>de</strong>, o Alcmeónida regressou <strong>em</strong> um dia consi<strong>de</strong>rado nefasto 337 . E foi<br />

relativamente curto o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po que mediou o seu retorno e a ruína<br />

<strong>de</strong>nitiva…<br />

<strong>Plutarco</strong>, que consagra um <strong>dos</strong> seus opúsculos ao t<strong>em</strong>a das superstições 338 ,<br />

não tece nas biograas <strong>em</strong> causa qualquer comentário a favor <strong>de</strong>ssas crendices.<br />

No entanto parece car no ar uma i<strong>de</strong>ia que permanece nos nossos dias: não<br />

é raro ouvir-se dizer «eu não acredito <strong>em</strong> bruxas, mas que as há, há…». É que,<br />

na sequência <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os presságios referi<strong>dos</strong>, Atenas sofreu s<strong>em</strong>pre um revés.<br />

Depois do fracasso do cerco a Epidauro, Péricles tenta novamente<br />

encorajar o povo, mas o <strong>de</strong>scontentamento <strong>de</strong>ste já atingira uma dimensão<br />

que combina uma expedição que teve lugar <strong>em</strong> 430 a.C. com um eclipse que, como já vimos,<br />

ocorreu <strong>em</strong> 431 a.C.) resulta do próprio método <strong>de</strong> composição do biógrafo: <strong>em</strong>bora estivesse<br />

a seguir <strong>de</strong> perto o texto <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, ao <strong>de</strong>dicar-se à narrativa da peste, ter-se-á esquecido<br />

da referência que o historiador faz ao fenómeno e <strong>de</strong> imediato passa para a anedota (<strong>de</strong> fonte<br />

diversa). Assim, po<strong>de</strong>-se partir do princípio <strong>de</strong> que lia as notas para organizar o pensamento,<br />

mas que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre ia reconrmar os da<strong>dos</strong>.<br />

333 Sobre a formação losóca <strong>de</strong> Péricles, vi<strong>de</strong> supra p. 178 sqq.<br />

334 Nícias (Plu. Nic. 4, 23. 1) é-nos apresentado como ex<strong>em</strong>plo máximo daqueles que<br />

se <strong>de</strong>ixam afetar por superstições, <strong>em</strong> muito por causa da sua pietas erga <strong>de</strong>os. Em Nic. 23, o<br />

biógrafo refere-se a mais um eclipse lunar, tido como sinal <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s calamida<strong>de</strong>s enviadas<br />

pelos <strong>de</strong>uses, e <strong>de</strong>senvolve o t<strong>em</strong>a da superstição e da luta do progresso cientíco contra esses<br />

t<strong>em</strong>ores infunda<strong>dos</strong>, personicada, entre outros, por Anaxágoras e Platão. Em Nic. 13, <strong>Plutarco</strong><br />

menciona ex<strong>em</strong>plos <strong>dos</strong> vários presságios e estratag<strong>em</strong>as através <strong>dos</strong> quais se tentou, s<strong>em</strong> sucesso,<br />

evitar a expedição.<br />

335 Alc. 18. 6; Nic. 1. 2. Sobre este assunto, veja-se p. 233, nota 117.<br />

336 Alc. 18. 5. Cf. Nic. 13. 11 (on<strong>de</strong> este presságio é apresentado antes do da mutilação <strong>dos</strong><br />

Hermes, ou seja, <strong>em</strong> or<strong>de</strong>m inversa relativamente à Vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s) e Ar. Lys. 387-397.<br />

Trata-se <strong>de</strong> uma festa associada à morte, durante a qual se expõe imagens que representam os<br />

mortos e se imitam ritos fúnebres. Sobre este festival, vi<strong>de</strong> Hammond – Scullard (1992: s.v.)<br />

337 Sobre esta data, vi<strong>de</strong> infra p. 299, nota 447.<br />

338 Moralia 164E-171F.<br />

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