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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

combater logo; ignorou protestos, pressões, ameaças, acusações e insultos 327 e<br />

tomou as medidas que consi<strong>de</strong>rava apropriadas, como a suspensão das reuniões<br />

da ass<strong>em</strong>bleia 328 e o encerramento das portas da cida<strong>de</strong>. A sua estratégia<br />

(pelo menos para ele) era clara: os Atenienses não <strong>de</strong>veriam combater nas<br />

proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Atenas, <strong>de</strong>veriam atacar o inimigo por mar e ao estadista<br />

cabia impedir reações precipitadas do povo, distraindo-o 329 . Foi nesse sentido<br />

que Péricles tentou agradar à população com novos subsídios e cleruquias (Per.<br />

34. 2) e com investidas por mar contra o Peloponeso e Mégara – nas quais não<br />

participou, porque julgou que a sua presença era mais necessária <strong>em</strong> Atenas,<br />

on<strong>de</strong> podia vigiar o inimigo e os concidadãos mais <strong>de</strong> perto. A vitória teria<br />

sido alcançada <strong>em</strong> um intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po relativamente curto, como aliás<br />

Péricles previra, não fosse a intervenção divina 330 através do surto <strong>de</strong> peste que<br />

atingiu Atenas 331 . Nessa altura, Péricles sofre nova contestação, porque o povo<br />

o responsabiliza duplamente: além <strong>de</strong> ter dado orig<strong>em</strong> à guerra, seguiu uma<br />

estratégia que obrigou a população <strong>de</strong> Atenas e arredores a viver encarcerada<br />

na cida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> o mínimo <strong>de</strong> condições (Per. 34. 5). O lho <strong>de</strong> Xantipo<br />

engendra, mais uma vez, uma forma <strong>de</strong> acalmar os ânimos. Só que <strong>de</strong>sta feita,<br />

a divinda<strong>de</strong> parece abandoná-lo <strong>de</strong> novo, porque o cerco <strong>de</strong> Epidauro corre<br />

mal, naquilo que po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os consi<strong>de</strong>rar o cumprimento do presságio <strong>de</strong> mau<br />

augúrio que antece<strong>de</strong>u a partida da expedição. De facto, no momento <strong>em</strong> que<br />

as trirr<strong>em</strong>es se preparavam para zarpar, houve um eclipse da lua, que <strong>de</strong>ixou<br />

to<strong>dos</strong> estarreci<strong>dos</strong>, à exceção <strong>de</strong> Péricles 332 . O seu comportamento pren<strong>de</strong>-se à<br />

327 Per. 33. 6. Este é um <strong>dos</strong> momentos <strong>em</strong> que Péricles é comparado a um piloto que, durante<br />

a t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>, vela pelo b<strong>em</strong>-estar da tripulação que só faz queixar-se (cf. supra p. 228). Em Per.<br />

34. 1, <strong>Plutarco</strong> insiste na imperturbabilida<strong>de</strong> do estadista, que não se <strong>de</strong>ixa abalar n<strong>em</strong> pelos<br />

ataques <strong>de</strong> Cléon n<strong>em</strong> pela ira <strong>dos</strong> concidadãos e suporta com calma e silêncio a impopularida<strong>de</strong><br />

e ódio <strong>de</strong> que é vítima.<br />

328 Sobre a relação <strong>de</strong>sta medida com o perl tirânico <strong>de</strong> Péricles, vi<strong>de</strong> pp. 211-215.<br />

329 Tucídi<strong>de</strong>s mostra-se favorável a estratégia <strong>de</strong> Péricles e acredita que, se tivesse sido<br />

mantida, Atenas teria alcançado a vitória (uc. 2. 65. 7). Sobre esta estratégia, vi<strong>de</strong> Lewis<br />

(1992: 193-200).<br />

330 Em Per. 34. 4, <strong>Plutarco</strong> aproveita a única referência <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s à divinda<strong>de</strong> (2. 64. 1)<br />

como el<strong>em</strong>ento que altera a seu prazer os planos humanos. Note-se o paralelo com Fab. 17. 1,<br />

quando Aníbal se <strong>de</strong>svia <strong>de</strong> Roma por vonta<strong>de</strong> divina.<br />

331 O surto surgiu nos começos do verão <strong>de</strong> 430 a.C. Porque ocupado a associar à peste e<br />

à <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> Atenas uma causa divina, <strong>Plutarco</strong> omitiu <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong> acontecimentos cruciais<br />

no <strong>de</strong>curso do conito (cf. uc. 2. 47 e 55; D. S. 12. 45. 1), nomeadamente a segunda invasão<br />

lace<strong>de</strong>mónia que motivou a concentração da população no interior das muralhas. Para mais<br />

informação sobre este surto epi<strong>de</strong>miológico, consulte-se Alsina Clota (1987: 1-13). Este<br />

acontecimento faz-nos l<strong>em</strong>brar a dizimação do exército <strong>dos</strong> Aqueus pela peste enviada por<br />

Apolo a pedido do seu sacerdote, Crises (Il. 1. 33-52). Sobre o papel da intervenção divina, vi<strong>de</strong><br />

infra p. 285, nota 354.<br />

332 O eclipse aqui mencionado teve lugar a 3 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 431 a.C., como arma Tucídi<strong>de</strong>s<br />

(2. 28). Cícero (Rep. 1. 16) e Valério Máximo (8. 11, ext. 1) mostram Péricles a explicar o eclipse,<br />

s<strong>em</strong> no entanto relacionar<strong>em</strong> tal explicação com o momento da partida da expedição. Segundo<br />

Stadter (1989: 320), esta pequena incongruência <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> relativamente a outras fontes (já<br />

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