17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

Este argumento também não parece convencer totalmente <strong>Plutarco</strong>, que,<br />

no m <strong>de</strong> apresentar todas as versões, continua a consi<strong>de</strong>rar a verda<strong>de</strong> incerta<br />

(Per. 32. 6). A nós, parece-nos que a posição <strong>de</strong> Péricles <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> toda a<br />

conjuntura que t<strong>em</strong>os vindo a expor e não <strong>de</strong> um único fator. E concordamos<br />

com o biógrafo que, <strong>em</strong>bora não o diga <strong>de</strong> modo claro, não acredita que a opção<br />

pela guerra tenha sido uma mera manobra <strong>de</strong> diversão para distrair o povo <strong>dos</strong><br />

ataques <strong>de</strong> que vinha sendo alvo. O episódio narrado <strong>em</strong> Per. 23. 1-2 (suborno<br />

<strong>de</strong> Cleândridas, já abordado noutra perspetiva na página 251, nota 188) é<br />

prova disso. De facto, o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Teofrasto clarica o <strong>de</strong>stino <strong>dos</strong> <strong>de</strong>z<br />

talentos que Péricles apresentava como gastos diversos no orçamento: serviam<br />

para comprar o adiamento da guerra, <strong>de</strong> modo a Atenas po<strong>de</strong>r preparar-se<br />

melhor para ela. É <strong>de</strong> salientar a ênfase dada a um pequeno pormenor: Péricles<br />

não comprava a paz – como alguns po<strong>de</strong>riam <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r para reforçar a tese da<br />

cobardia –, simplesmente, como bom estratego, procurava ganhar t<strong>em</strong>po para<br />

que – na hora certa – os seus homens estivess<strong>em</strong> verda<strong>de</strong>iramente aptos a<br />

combater s<strong>em</strong> qualquer restrição e s<strong>em</strong> correr riscos <strong>de</strong>snecessários.<br />

Este é mais um daqueles momentos <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>mos distinguir os dois<br />

Alcmeónidas. Ao contrário <strong>de</strong> Péricles, Alcibía<strong>de</strong>s só pensa no imediato. A<br />

espera da melhor oportunida<strong>de</strong>, da reunião <strong>de</strong> condições, não é opção para<br />

ele. Parece acreditar que o futuro é hic et nunc e que os êxitos são manipuláveis,<br />

isto é, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m exclusivamente do seu <strong>em</strong>penho e querer. E o certo<br />

é que os próprios acontecimentos nos faz<strong>em</strong> pensar que ele tinha razão: o<br />

que dizer <strong>de</strong> alguém que, <strong>em</strong>penhado <strong>em</strong> atacar o inimigo <strong>de</strong>sprevenido, é<br />

auxiliado pela própria natureza, que lhe faculta to<strong>dos</strong> os el<strong>em</strong>entos necessários<br />

para a prossecução do seu plano: chuva, trovoada e nevoeiro 324 ? Como ver<strong>em</strong>os,<br />

<strong>em</strong>bora pouco pru<strong>de</strong>nte, esta tática po<strong>de</strong> revelar-se <strong>de</strong> sucesso <strong>em</strong> pessoas que<br />

parec<strong>em</strong> agir por ímpeto, mas, no fundo, têm uma gran<strong>de</strong> visão e um raciocínio<br />

rápido, como um bom jogador <strong>de</strong> xadrez 325 . Alcibía<strong>de</strong>s agiu quase s<strong>em</strong>pre assim,<br />

por impulso, sobretudo quando ferido no seu orgulho, nomeadamente quando,<br />

perseguido pelos próprios concidadãos, se viu obrigado a pedir socorro aos<br />

Lace<strong>de</strong>mónios ou quando, perseguido por estes, se refugiou entre os Persas 326 .<br />

Mas Péricles, previ<strong>de</strong>nte e protetor do povo, tinha a sua própria estratégia<br />

para a Guerra do Peloponeso, que não se coadunava com uma resposta<br />

imediata e «a quente». Ele consi<strong>de</strong>rava arriscado combater contra uma força<br />

tão gran<strong>de</strong> às portas da cida<strong>de</strong>: é que, como ele própio disse, as árvores cortadas<br />

podiam renascer, mas os homens não (Per. 33. 5). E porque acreditava que o<br />

indicado era cont<strong>em</strong>porizar, procurou acalmar os que se indignavam por não<br />

280<br />

324 N<strong>em</strong> to<strong>dos</strong> eram auxilia<strong>dos</strong> pela natureza: cf. Nic. 21. 10.<br />

325 Fiz<strong>em</strong>os comparação s<strong>em</strong>elhante a propósito <strong>de</strong> Péricles. Vi<strong>de</strong> p. 239.<br />

326 Cf. infra p. 285.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!