O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
Po<strong>de</strong>mos até acrescentar que o Alcmeónida não se coibiu <strong>de</strong> espicaçar o<br />
inimigo. Ciente do cada vez maior <strong>de</strong>scontentamento <strong>de</strong> alguns alia<strong>dos</strong> (que<br />
se voltavam para Esparta <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> auxílio contra a «tirania» <strong>de</strong> Atenas 303 )<br />
e do crescente medo <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios por causa do po<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>tinham,<br />
Péricles parecia querer esclarecer rapidamente a natural or<strong>de</strong>m das coisas.<br />
Julgava que, quanto mais <strong>de</strong>pressa a guerra tivesse lugar, mais <strong>de</strong>pressa<br />
colocaria termo às contestações <strong>dos</strong> alia<strong>dos</strong> e às manobras clan<strong>de</strong>stinas com<br />
que Esparta tentava boicotar o «seu» império. Foi certamente com esse<br />
objetivo que tomou algumas <strong>de</strong>cisões nos meses que prece<strong>de</strong>ram o <strong>de</strong>agrar<br />
do confronto armado. Convenceu o povo a auxiliar os Corcireus que tinham<br />
probl<strong>em</strong>as com Corinto 304 , um <strong>dos</strong> povos que mais se opunha a Atenas (Per.<br />
Delfos e do seu tesouro (uc. 1. 112. 5), disputado por Fócios (alia<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Atenas) e pelos<br />
naturais <strong>de</strong> Delfos. Sobre este acontecimento bélico, há versões distintas da responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Filócoro (FGrHist 328 F 34), Teopompo (FGrHist 115 F 156) e Eratóstenes (FGrHist<br />
241 F 38), mas <strong>Plutarco</strong> parece ter seguido a <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, segundo o qual os Atenienses<br />
reagiram imediatamente a seguir à intervenção <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios (<strong>em</strong> 448 a.C.). O facto <strong>de</strong><br />
os Atenienses apenas avançar<strong>em</strong> após a retirada <strong>dos</strong> Espartanos evitou o recontro que seria<br />
uma violação da paz rmada entre as duas cida<strong>de</strong>s. Vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 88). A Guerra Sagrada<br />
<strong>em</strong> causa foi a segunda; a primeira ocorreu por volta <strong>de</strong> 590 a.C. e as duas últimas já no século<br />
IV a.C., respetivamente entre 356 e 346 a.C. e entre 340-338 a.C. Sobre o oráculo <strong>de</strong> Delfos<br />
e as Guerras Sagradas, vi<strong>de</strong> Parke – Wormell (1956) Sobre a invasão da Ática por Plistóanax,<br />
vi<strong>de</strong> supra p. 251, nota 189.<br />
303 Esses foram, por ex<strong>em</strong>plo, o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Egina, que se julgava oprimida e maltratada (Per.<br />
29. 5), e <strong>de</strong> Poti<strong>de</strong>ia, outra cida<strong>de</strong> aliada <strong>de</strong> Atenas, apesar <strong>dos</strong> fortes laços que a uniam à sua<br />
metrópole, Corinto (Per. 29. 6). Uma das cláusulas da Trégua <strong>dos</strong> Trinta Anos foi a concessão<br />
<strong>de</strong> autonomia a Egina, <strong>em</strong>bora a ilha continuasse a pagar tributo a Atenas e a fazer parte<br />
da Simaquia <strong>de</strong> Delos. Nos <strong>de</strong>bates <strong>em</strong> Esparta, que antece<strong>de</strong>ram o eclodir da Guerra do<br />
Peloponeso, os Eginetas acusaram os Atenienses <strong>de</strong> não ter<strong>em</strong> cumprido o combinado, pelo<br />
que incorriam <strong>em</strong> violação do acordo, legitimando assim o início <strong>de</strong> hostilida<strong>de</strong>s militares.<br />
Sobre a Trégua <strong>dos</strong> Trinta Anos, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 90-92); sobre Poti<strong>de</strong>ia, ibi<strong>de</strong>m, 184-186.<br />
Quanto a Poti<strong>de</strong>ia, <strong>de</strong>scontente por ter visto o valor do seu tributo duplicar, revoltou-se <strong>em</strong><br />
433 a.C. (uc. 1. 56-66). A sua <strong>de</strong>serção foi muito importante para a antecipação da guerra.<br />
Vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 184-186). Apesar <strong>de</strong> estas <strong>de</strong>serções (ou tentativas) ter<strong>em</strong> contribuído para<br />
a orig<strong>em</strong> da guerra, o certo é que aquelas a que <strong>Plutarco</strong> se refere no período <strong>em</strong> que Atenas<br />
esteve sob o domínio <strong>de</strong> Péricles são <strong>em</strong> número inferior às referidas na Vida <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s.<br />
304 Corcira era colónia <strong>de</strong> Corinto e, por sua vez, tinha Epidamno como colónia. Epidamno,<br />
situada na costa norte da Ilíria, viu-se <strong>de</strong>vastada por uma luta interna que culminou <strong>em</strong> guerra<br />
com os Bárbaros vizinhos, incita<strong>dos</strong> pelos aristocratas que exilara. Aos <strong>de</strong>mocratas, <strong>de</strong>vasta<strong>dos</strong><br />
por terra e mar, não restou alternativa senão pedir auxílio a Corinto, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Corcira lho<br />
ter recusado. Se o objetivo <strong>de</strong> Corinto era atacar a sua colónia, foi b<strong>em</strong> sucedido, pois Corcira<br />
<strong>de</strong> imediato contactou os Epidamnianos para que se serviss<strong>em</strong> da sua ajuda e dispensass<strong>em</strong> a<br />
<strong>dos</strong> Coríntios. Aqueles recusaram e Corcira cercou então a sua colónia. Como vericou que<br />
os Coríntios persistiam, <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong>, naquela política, enviou, <strong>em</strong> 435 a.C., uma <strong>em</strong>baixada<br />
à sua metrópole, mas não alcançou os seus intentos. Na primavera <strong>de</strong> 433 a.C., <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
cerca <strong>de</strong> um ano e meio <strong>de</strong> combates, e como Corinto persistisse na guerra, Corcira cumpriu<br />
a ameaça feita por ocasião da <strong>em</strong>baixada e pediu ajuda a Atenas. Depois <strong>de</strong> um <strong>de</strong>bate aceso<br />
entre Atenienses, Coríntios e Corcireus, os primeiros <strong>de</strong>cidiram auxiliar Corcira. Sobre os<br />
argumentos do <strong>de</strong>bate e outros pormenores sobre o episódio <strong>de</strong> Corcira, vi<strong>de</strong> Lewis (1992:<br />
177-184). Aristo<strong>de</strong>mo (FGrHist 104, 17) resume este episódio e, como Tucídi<strong>de</strong>s (1. 55. 2),<br />
276