17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

apesar <strong>de</strong> ter lutado contra um inimigo mais difícil, não precisou <strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos<br />

para alcançar a vitória; bastaram-lhe uns escassos nove meses 299 .<br />

Outra ilação que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os retirar é o facto <strong>de</strong> Péricles ser indispensável<br />

para que Atenas se consiga reerguer, quando as coisas corr<strong>em</strong> menos b<strong>em</strong>.<br />

Também nesse sentido a Guerra <strong>de</strong> Samos constitui um prenúncio da do<br />

Peloponeso, igualmente cheia <strong>de</strong> altos e baixos, mas infeliz para os Atenienses,<br />

porque Péricles, que morre vítima da peste logo no segundo ano <strong>de</strong> conito,<br />

<strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r acudir-lhes. Note-se, no entanto, que Alcibía<strong>de</strong>s também virá a<br />

revelar-se imprescindível para que Atenas cumpra os seus objetivos: das duas<br />

vezes que os concidadãos o afastaram do cargo <strong>de</strong> estratego, a mergulhou<br />

<strong>em</strong> graves crises. Este Alcmeónida, à s<strong>em</strong>elhança <strong>de</strong> Péricles, salvou-a da<br />

primeira, mas foi impedido pela morte <strong>de</strong> repetir a proeza.<br />

Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, por causa <strong>dos</strong> seus interesses biográcos 300<br />

e da trágica importância que assumiu para Atenas <strong>em</strong> particular e para a Héla<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> geral, a outra guerra sobre a qual <strong>Plutarco</strong> se <strong>de</strong>bruça <strong>em</strong> pormenor na Vida<br />

<strong>de</strong> Péricles é a do Peloponeso. Este conito é o culminar do antagonismo que<br />

caracterizava a relação entre Atenas e Esparta e que se agravou, como já vimos<br />

(cf. supra p. 127 sqq), <strong>de</strong>pois que os Atenienses assumiram a heg<strong>em</strong>onia da<br />

Héla<strong>de</strong> após as Guerras Médicas. Péricles foi um <strong>dos</strong> maiores opositores <strong>dos</strong><br />

Lace<strong>de</strong>mónios nesse período, a ponto <strong>de</strong> ter dirigido gran<strong>de</strong> parte da sua ação<br />

militar (e mesmo da diplomática 301 ) contra esse inimigo fatal 302 (Per. 21. 1).<br />

299 O Queroneu também menciona esta comparação <strong>em</strong> Moralia 350E.<br />

300 Por causa <strong>de</strong>sses mesmos interesses biográcos que o levam a salientar o protagonismo<br />

<strong>de</strong> Péricles, <strong>Plutarco</strong> omite várias vitórias que tiveram lugar entre a expedição contra Samos e a<br />

<strong>em</strong>baixada <strong>de</strong> Corcira, motivada pela disputa da posse <strong>de</strong> Epidamno com Corinto (<strong>em</strong> mea<strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> 443 a.C.). Sobre o intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po que o Queroneu não <strong>de</strong>screve, vi<strong>de</strong> Lewis (1992:<br />

171-177).<br />

301 Em Per. 17, <strong>Plutarco</strong> menciona a convocatória para um congresso pan-helénico. O facto<br />

<strong>de</strong> este ser o único autor que conhec<strong>em</strong>os a mencioná-lo t<strong>em</strong> gerado controvérsia quanto à<br />

sua autenticida<strong>de</strong>, data e natureza. A indicação t<strong>em</strong>poral que o biógrafo avança é muito vaga –<br />

quando os Lace<strong>de</strong>mónios começaram a car incomoda<strong>dos</strong> com o ascensão <strong>dos</strong> Atenienses –, o que sugere<br />

que também ele não <strong>de</strong>ve ter tido acesso a informação mais precisa ou, pelo menos, não sentiu<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fornecer esse el<strong>em</strong>ento. Assim, <strong>de</strong> acordo com o que o Queroneu nos diz, este<br />

<strong>de</strong>creto po<strong>de</strong> datar <strong>de</strong> qualquer altura entre 460 a.C. e o início da Guerra do Peloponeso. Tendo<br />

<strong>em</strong> conta que não faria sentido <strong>de</strong>bater a <strong>de</strong>struição <strong>dos</strong> t<strong>em</strong>plos levada a cabo pelos Persas após<br />

a reconstrução do Pártenon (447 a.C.), po<strong>de</strong>mos indicar essa data como terminus ante qu<strong>em</strong>.<br />

Para terminus post qu<strong>em</strong>, é possível sugerir que coincida com o período da Paz <strong>de</strong> Cálias, o que faz<br />

com que a data oscile entre 460 e 449 a.C. Sobre este <strong>de</strong>creto, vi<strong>de</strong> MacDonald (1982: 120-123);<br />

Lewis (1992: 93-94). O maior indício <strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> um <strong>de</strong>creto verídico é a redação <strong>de</strong><br />

Per. 17. 2-3, pois reete o estilo formular <strong>dos</strong> <strong>de</strong>cretos do século V a.C. Se o consi<strong>de</strong>rarmos<br />

autêntico, aceitamos, com <strong>Plutarco</strong>, que se trata <strong>de</strong> uma importante indicação acerca da política<br />

externa <strong>de</strong> Péricles, que queria ultrapassar a pro<strong>em</strong>inência <strong>de</strong> Esparta relativamente aos alia<strong>dos</strong>.<br />

302 O biógrafo, no entanto, <strong>de</strong> toda a conituosida<strong>de</strong> que ocorreu durante o governo <strong>de</strong><br />

Péricles antes do eclodir da guerra, apenas se <strong>de</strong>bruça sobre o boicote <strong>dos</strong> Espartanos ao<br />

congresso pan-helénico, a Guerra Sagrada (Per. 21) e a invasão da Ática por Plistóanax (Per.<br />

22). A Guerra Sagrada recebeu este nome pois a sua causa foi o controlo do santuário <strong>de</strong><br />

275

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!