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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

é sugerida <strong>em</strong> Per. 25. 1-3. No entanto, no contexto da Guerra <strong>de</strong> Samos, a<br />

situação inverte-se e a vitória revela-se <strong>de</strong>morada e difícil <strong>de</strong> alcançar. Logo<br />

<strong>em</strong> Per. 25. 4, o biógrafo dá-nos conta <strong>de</strong> uma inesperada mudança, recorrendo<br />

ao advérbio para mostrar a velocida<strong>de</strong> com que o inimigo 293 subverte o<br />

curso natural <strong>dos</strong> acontecimentos, ou seja, a rápida vitória do lho <strong>de</strong> Xantipo.<br />

Os Sâmios, contudo, não conservam o título <strong>de</strong> vencedores por muito t<strong>em</strong>po,<br />

porque Péricles mostra-se à altura do comando <strong>de</strong> Atenas e <strong>de</strong>pressa volta<br />

a subjugar o adversário, com uma esplêndida vitória ( <br />

– Per. 25. 5), apesar <strong>de</strong> os seus meios ser<strong>em</strong> bastante inferiores 294 . Mas<br />

também este sucesso dura pouco t<strong>em</strong>po: <strong>em</strong> Per. 26. 2, <strong>de</strong>sta feita por causa<br />

da intervenção <strong>de</strong> um ousado estratego, Melisso 295 (que, pasme-se!, já antes<br />

teria <strong>de</strong>rrotado o experiente Péricles 296 ), Atenas surge novamente <strong>em</strong> situação<br />

<strong>de</strong>licada. Péricles v<strong>em</strong>, <strong>de</strong> novo, <strong>em</strong> seu socorro e não volta a abandonar o<br />

comando das tropas no local até ao <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro momento da vitória.<br />

Da <strong>de</strong>scrição que acabámos <strong>de</strong> fazer <strong>de</strong>sta guerra, impõ<strong>em</strong>-se algumas<br />

ilações. Péricles, por mais que consiga antever os passos <strong>dos</strong> inimigos, é humano,<br />

logo existe alguma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre saia vitorioso. Foi assim<br />

<strong>em</strong> Samos; será assim contra os Lace<strong>de</strong>mónios… Não surpreen<strong>de</strong>, por isso,<br />

que o estratego, consciente das suas humanas limitações e do gran<strong>de</strong> perigo<br />

que o império <strong>ateniense</strong> correu 297 , revele um orgulho 298 digno <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. O<br />

lho <strong>de</strong> Xantipo chega a ter a ousadia <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar este feito superior à vitória<br />

<strong>de</strong> Agamémnon sobre os Troianos: é que ele combatera contra os Sâmios, o<br />

mais importante <strong>dos</strong> povos Iónios, e não contra uns bárbaros quaisquer. E,<br />

estadista: a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comando e previsão, o facto <strong>de</strong> não <strong>de</strong>sanimar diante <strong>dos</strong> obstáculos<br />

ou o <strong>em</strong>penho com que protege e anima os concidadãos.<br />

293 Importa chamar a atenção para a caracterização que <strong>Plutarco</strong> faz <strong>dos</strong> adversários <strong>de</strong><br />

Atenas, e da opinião que estes tinham <strong>dos</strong> Atenienses que caram a cercar Samos quando<br />

Péricles se ausentou para intercetar os navios <strong>dos</strong> Fenícios. Em Per. 25. 4, o biógrafo apresenta<br />

os Sâmios como homens ativos, s<strong>em</strong> medo e <strong>de</strong>cidi<strong>dos</strong> a vencer, que julgavam estar cerca<strong>dos</strong> por<br />

um pequeno número <strong>de</strong> <strong>em</strong>barcações sob o comando <strong>de</strong> estrategos inexperientes (Per. 26. 2). Tal<br />

<strong>de</strong>scrição acaba por se transformar no elogio indireto <strong>dos</strong> Atenienses que conseguiram, não s<strong>em</strong><br />

gran<strong>de</strong> esforço e mérito, vencê-los.<br />

294 Per. 25. 5. Nesta fase do conito, Atenas dispunha <strong>de</strong> quarenta e quatro barcos, contra os<br />

setenta <strong>dos</strong> Sâmios.<br />

295 Pouco se sabe acerca da vida <strong>de</strong> Melisso, lho <strong>de</strong> Itágenes e um <strong>dos</strong> últimos representantes<br />

da escola eleática, além do facto <strong>de</strong> ter sido estadista <strong>de</strong> Samos e <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>rrotado Péricles no<br />

combate naval <strong>de</strong> 441 a.C. Este lósofo seguia as i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Parméni<strong>de</strong>s, <strong>em</strong>bora não se possa<br />

garantir que alguma vez se tivess<strong>em</strong> conhecido pessoalmente. Escreveu uma obra intitulada <br />

– vi<strong>de</strong> Guthrie (1969: II, 101 sq.).<br />

296 Segundo <strong>Plutarco</strong> (Per. 26. 3), esta informação t<strong>em</strong> Aristóteles (fr. 577 Rose) como fonte.<br />

É provável que o fragmento seja oriundo da Constituição <strong>de</strong> Samos ou <strong>de</strong> fontes sâmias que<br />

consi<strong>de</strong>ravam a batalha <strong>de</strong> Trágia vitória sua, já que os Sâmios tinham sido capazes <strong>de</strong> regressar<br />

<strong>de</strong> Mileto <strong>em</strong> segurança.<br />

297 Sobre os perigos <strong>em</strong> causa, cf. uc. 8. 76. 4.<br />

298 <strong>Plutarco</strong> atribui esta informação a Íon (FGrHist 392 F 16).<br />

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