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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Convenções literárias associadas à vida <strong>de</strong> um fundador<br />

Como já foi dito 1 , <strong>em</strong>bora se assuma como biógrafo e não como historiador,<br />

<strong>Plutarco</strong> baseia a redação das suas Vidas nos critérios normalmente observa<strong>dos</strong><br />

no relato historiográco. Esta atitu<strong>de</strong> justica o facto <strong>de</strong> a quase totalida<strong>de</strong><br />

<strong>dos</strong> indivíduos por ele retrata<strong>dos</strong> ser<strong>em</strong> personagens históricas, regra apenas<br />

<strong>de</strong>srespeitada no <strong>caso</strong> do par Teseu/Rómulo, segundo o autor 2 . No proémio da<br />

Vida <strong>de</strong> Teseu (1. 4), <strong>Plutarco</strong> explica a Sóssio Senecião 3 que <strong>de</strong>cidiu escrever<br />

sobre duas personagens cujas vidas não estão <strong>de</strong>ntro <strong>dos</strong> limites a que se<br />

costuma cingir, porque as investigações que fez a propósito do par Licurgo/<br />

Numa o zeram recuar até à fronteira do período mitológico:<br />

<br />

<br />

<br />

“Contudo, ao publicarmos o texto sobre o legislador Licurgo e o rei Numa,<br />

pareceu-nos que não seria <strong>de</strong>spropositado recuarmos até Rómulo, pois a nossa<br />

investigação já nos havia conduzido a um período próximo do seu...”<br />

Assim sendo, e <strong>de</strong>vido à importância <strong>de</strong> Teseu e Rómulo, não se justicava<br />

não tratar as guras daqueles que são consi<strong>de</strong>ra<strong>dos</strong> os fundadores da «bela<br />

e ilustre» Atenas ( ) e da «invencível e<br />

gloriosa» Roma () 4 apenas com base<br />

no argumento da falta <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>. Esse «senão», o biógrafo procurará<br />

colmatá-lo através da racionalização do mito (que consiste na escolha das<br />

versões mais credíveis e na tentativa <strong>de</strong> libertar a narrativa <strong>dos</strong> el<strong>em</strong>entos mais<br />

fantasiosos 5 ), algo que, ele sabe, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre será possível (es. 1. 5).<br />

1 Vi<strong>de</strong> supra p. 22.<br />

2 No entanto, somos leva<strong>dos</strong> a crer que Licurgo e Numa também foram uma exceção à regra.<br />

Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Flacelière (1948: 68-69); Pérez Jiménez (2000: 139 e 153).<br />

3 Romano, amigo <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, cuja vida <strong>de</strong>correu entre os reina<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Domiciano e Trajano.<br />

Segundo Jones (1971: 55), o Queroneu <strong>de</strong>dicou-lhe as Vitae Parallelae por consi<strong>de</strong>rar que<br />

ninguém simbolizava melhor a fusão cultural entre a Grécia e Roma.<br />

4 es. 1. 5.<br />

5 Como ex<strong>em</strong>plos, po<strong>de</strong>mos invocar a forma como lida com o facto <strong>de</strong> Poséidon ser<br />

frequent<strong>em</strong>ente apontado como pai <strong>de</strong> Teseu (vi<strong>de</strong> infra p. 54) e com a crença <strong>de</strong> que Rómulo<br />

e R<strong>em</strong>o teriam sido amamenta<strong>dos</strong> por uma loba (Rom. 4. 3-5), dizendo que a mesma palavra<br />

latina (lupa) servia para <strong>de</strong>signar a fêmea do lobo e as mulheres que, como Aca Larência, se<br />

<strong>de</strong>dicavam à prostituição. Heródoto proce<strong>de</strong>u <strong>de</strong> modo s<strong>em</strong>elhante no livro primeiro das suas<br />

Histórias, quando se refere a Cino. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra p. 36 nota 19.<br />

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