17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> Samos pareceu, <strong>de</strong> início, ganha <strong>em</strong> um curto espaço <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. No entanto,<br />

mal Péricles partiu, julgando que já podia voltar para casa e <strong>de</strong>dicar-se a outras<br />

situações pen<strong>de</strong>ntes, a resistência aboliu a recém-instaurada <strong>de</strong>mocracia 287 ,<br />

repôs o regime oligárquico, pelo que o estratego se viu obrigado a regressar.<br />

Consequent<strong>em</strong>ente, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a forma como esta guerra se<br />

<strong>de</strong>senvolveu foi importante para provar que a obstinação <strong>de</strong> Péricles por limitar<br />

os objetivos expansionistas da população era fundamentada. É que, apesar<br />

<strong>de</strong> ter evitado dispersar os recursos bélicos com expedições além-fronteiras,<br />

houve ocasiões <strong>em</strong> que, como nesta, se viu obrigado a circular entre cenários<br />

<strong>de</strong> guerra 288 : nomeadamente quando, conando o cerco aos concidadãos que<br />

vieram <strong>de</strong> Atenas para reforçar a frota 289 , se afastou das muralhas para ir ao<br />

encontro <strong>dos</strong> navios fenícios 290 que vinham <strong>em</strong> auxílio <strong>dos</strong> Sâmios 291 .<br />

O relato que <strong>Plutarco</strong> faz da Guerra <strong>de</strong> Samos <strong>de</strong>marca-se <strong>dos</strong> que foram<br />

feitos a propósito <strong>de</strong> outras incursões comandadas por Péricles. Dos anteriores,<br />

sobressa<strong>em</strong> a invencibilida<strong>de</strong> e a ecácia ultrarrápida do estratego 292 , que ainda<br />

287 Enquanto Péricles <strong>em</strong>preen<strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> esforço para criar um regime <strong>de</strong>mocrático <strong>em</strong><br />

Samos (Per. 25. 2), Alcibía<strong>de</strong>s tudo faz para repor a oligarquia, o que acaba por ter consequências<br />

nefastas para Atenas (Alc. 25-26). Sobre este assunto, infra p. 288-289. Apesar <strong>de</strong>sta discrepância<br />

no que diz respeito a Samos, Alcibía<strong>de</strong>s, quando assumiu pela primeira vez o cargo <strong>de</strong> estratego,<br />

ajudou a população <strong>de</strong> Argos a repor a <strong>de</strong>mocracia na sequência do golpe <strong>de</strong> estado <strong>dos</strong> oligarcas<br />

(Alc. 15. 3-4).<br />

288 Outro ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>sta situação ocorreu quando <strong>de</strong>frontava os Eubeus (Per. 22. 1-2). Nessa<br />

altura, além <strong>de</strong> se ver a braços com os Megarenses que começavam a dar probl<strong>em</strong>as, foi obrigado<br />

a acorrer <strong>em</strong> socorro da Ática, invadida pelos Lace<strong>de</strong>mónios comanda<strong>dos</strong> por Plistóanax (cf.<br />

supra p. 251, nota 189).<br />

289 Constituída por quarenta navios vin<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Atenas e vinte e cinco <strong>de</strong> Lesbos e Quios, o<br />

que perfazia o total <strong>de</strong> cento e vinte e cinco <strong>em</strong>barcações (cf. uc. 1. 116. 2).<br />

290 Cf. uc. 1. 116. 3; D. S. 12. 27. 5. Os Atenienses, por causa <strong>de</strong> Pissutnes, t<strong>em</strong>iam que a<br />

Pérsia tentasse aproveitar-se da revolta <strong>de</strong> Samos para fragilizar o controlo que tinham do mar<br />

Egeu, muito <strong>em</strong>bora a Paz <strong>de</strong> Cálias estivesse <strong>em</strong> vigor. Esta não foi a única vez <strong>em</strong> que as tropas<br />

fenícias constituíram ameaça para Atenas. Também Alcibía<strong>de</strong>s – ainda que indiretamente – se<br />

viu obrigado a afastar esse perigo para segurança da . Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra p. 317<br />

sq. 291 <strong>Plutarco</strong>, a partir do test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Estesímbroto (FGrHist 107 F 8), apresenta um<br />

outro motivo para esta <strong>de</strong>slocação: o interesse por Chipre. A nós, como já antes a <strong>Plutarco</strong>, tal<br />

propósito agura-se pouco verosímil por causa da opção pela contenção do alargamento do<br />

império acima exposta. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do motivo, <strong>Plutarco</strong> consi<strong>de</strong>ra que Péricles cometeu<br />

um erro, porque <strong>de</strong>u azo a que os Sâmios se tornass<strong>em</strong> senhores do mar (durante catorze dias,<br />

segundo uc. 1. 117. 2), <strong>de</strong>struíss<strong>em</strong> barcos <strong>dos</strong> Atenienses e se abastecess<strong>em</strong> para a guerra. Se<br />

compararmos o comportamento <strong>de</strong> Péricles com o <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, vericamos que ambos foram<br />

infelizes s<strong>em</strong>pre que, cheios <strong>de</strong> boas intenções, conaram o comando da frota a terceiros. Sobre<br />

Alcibía<strong>de</strong>s e a <strong>de</strong>legação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res <strong>em</strong> Antíoco, vi<strong>de</strong> supra p. 255, nota 204 e infra p. 295 e 300.<br />

292 Parece-nos que tal celerida<strong>de</strong> resulta sobretudo da <strong>de</strong>scrição abreviada <strong>de</strong> cada uma das<br />

expedições anteriores a Samos. Consequent<strong>em</strong>ente, a sugestão do prolongamento t<strong>em</strong>poral<br />

<strong>de</strong>sta guerra <strong>de</strong>corre do facto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> se esten<strong>de</strong>r mais sobre o assunto. Neste <strong>caso</strong>, o nosso<br />

ponto <strong>de</strong> comparação é Tucídi<strong>de</strong>s (1. 115. 2 - 1. 117. 3), que, como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser,<br />

enquanto historiador, se alonga mais sobre os pormenores que diz<strong>em</strong> respeito ao conito. Ao<br />

Queroneu, interessava-lhe apenas mencioná-los na medida <strong>em</strong> que revelam traços <strong>de</strong> caráter do<br />

273

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!