17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

No entanto, <strong>de</strong> acordo com o perl que <strong>Plutarco</strong> traça do estadista, não<br />

nos parece coerente aceitar a versão que faz da opção pela guerra um gesto <strong>de</strong><br />

cedência à mulher amada. É que a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que Péricles não costumava arriscar<br />

<strong>em</strong> vão a vida <strong>dos</strong> seus homens assume uma dimensão muito importante na<br />

caracterização <strong>de</strong>ste político. Assim, é <strong>caso</strong> para acreditar que Péricles até<br />

po<strong>de</strong>rá ter cedido à inuência <strong>de</strong> Aspásia, mas não para satisfazer um mero<br />

capricho f<strong>em</strong>inino. Não nos po<strong>de</strong>mos olvidar <strong>de</strong> que esta «prostituta <strong>de</strong><br />

Mileto», como os comediógrafos a <strong>de</strong>signam, era uma mulher muito avançada<br />

para a época: dominava questões do foro da retórica e da política <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

receitas <strong>de</strong> culinária 281 . Por isso, é muito possível que ela, além <strong>de</strong> amante, fosse<br />

conselheira do lho <strong>de</strong> Xantipo <strong>em</strong> diversos assuntos. E os planos conjuntos <strong>de</strong><br />

ambos tinham tudo para dar bons frutos, não fosse a «intervenção divina…» 282 ,<br />

cuja vonta<strong>de</strong> se opôs à humana – Per. 34. 4.<br />

Em relação à Guerra do Peloponeso, houve também qu<strong>em</strong> dissesse que<br />

tinha como objetivo distrair a população, que, no período que antece<strong>de</strong>u o<br />

<strong>de</strong>agrar do conito, estava <strong>de</strong>terminada <strong>em</strong> perseguir o lho <strong>de</strong> Xantipo 283 .<br />

Aristófanes 284 , b<strong>em</strong> como alguns historiadores 285 , explica a obstinação <strong>de</strong><br />

Péricles na não revogação do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Mégara como meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviar a<br />

atenção <strong>dos</strong> processos que corriam contra os seus amigos e que eram causa do<br />

<strong>de</strong>créscimo da sua popularida<strong>de</strong>. Para isso, nada melhor do que provocar uma<br />

guerra 286 … Ainda que este fator possa ter tido algum peso na <strong>de</strong>cisão tomada<br />

por Péricles, parece-nos que os verda<strong>de</strong>iros motivos terão sido o ódio gadal<br />

que o estadista nutria pelos Espartanos e sobretudo a perceção <strong>de</strong> que Atenas<br />

<strong>de</strong>veria armar o seu po<strong>de</strong>r diante <strong>dos</strong> alia<strong>dos</strong> e <strong>de</strong> Esparta, para que esses<br />

<strong>de</strong>ixass<strong>em</strong> <strong>de</strong> sonhar com uma aliança que pusesse m ao crescente po<strong>de</strong>rio<br />

<strong>de</strong> Atenas.<br />

Debruc<strong>em</strong>o-nos agora sobre o segundo motivo que terá levado <strong>Plutarco</strong><br />

a alongar-se sobre a Guerra <strong>de</strong> Samos: o orgulho que o Alcmeónida sentiu<br />

com essa vitória. A Guerra <strong>de</strong> Samos, tal como viria a acontecer com a do<br />

Peloponeso, prolongou-se por um período superior ao previsto pelo estadista. A<br />

Alcmeónida permitiu-lhes aceitar <strong>de</strong> imediato a hipótese veiculada pelos <strong>de</strong>tratores daquele,<br />

segundo os quais a sua ausência se <strong>de</strong>vera à satisfação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s pessoais (Alc. 35). Sobre<br />

este episódio e as razões que o motivaram, vi<strong>de</strong> supra p. 255.<br />

281 Sobre Aspásia, vi<strong>de</strong> supra p. 240, nota 148, passim. Cf. Blomqvist (1997: 73-97).<br />

282 Cf. p. 281, nota 330.<br />

283 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra 237 sqq.<br />

284 Ach. 515-539, Pax 601-611.<br />

285 D. S. 12. 39. 3-4; Aristo<strong>de</strong>m. FGrHist 104. 16; Ephor. FGrHist 70 F 196.<br />

286 Este tipo <strong>de</strong> comportamento costuma ser associado aos políticos <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os t<strong>em</strong>pos.<br />

Recor<strong>de</strong>mos, por ex<strong>em</strong>plo, a Guerra do Kosovo, na década <strong>de</strong> noventa do século XX, cuja<br />

responsabilida<strong>de</strong> muitos atribuíram à necessida<strong>de</strong> que Bill Clinton terá sentido <strong>de</strong> fazer cair<br />

no esquecimento o escândalo provocado pelo seu relacionamento extraconjugal com Monica<br />

Lewinsky.<br />

272

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!