O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
que também procurou ser justo com os inimigos com que se <strong>de</strong>frontou ao<br />
longo da sua vida 275 .<br />
Destas expedições que Péricles comandou, a Guerra <strong>de</strong> Samos 276 foi<br />
aquela que o biógrafo tratou com mais pormenor antes <strong>de</strong> abordar a Guerra<br />
do Peloponeso. Esta sua opção po<strong>de</strong> justicar-se por dois motivos. Um é o o<br />
próprio orgulho que Péricles sentia na vitória alcançada sobre os Sâmios; o<br />
outro é a razão pela qual Péricles terá envolvido Atenas <strong>em</strong> uma guerra que<br />
não era sua.<br />
Comec<strong>em</strong>os pelo segundo. A guerra <strong>em</strong> causa, não fosse pela diferença<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfecho, serviria perfeitamente <strong>de</strong> prenúncio do que viria a ser, para<br />
Atenas, a Guerra do Peloponeso. De facto, <strong>em</strong> ambos os <strong>caso</strong>s, os <strong>de</strong>tratores<br />
<strong>de</strong> Péricles acusaram-no <strong>de</strong> enveredar pela solução militar para satisfazer os<br />
caprichos <strong>de</strong> Aspásia. No que concerne à primeira guerra, a prostituta 277 teria<br />
sido movida pela rivalida<strong>de</strong> que opunha a sua cida<strong>de</strong> natal, Mileto, a Samos;<br />
no que concerne à segunda, a razão teria sido o «roubo» <strong>de</strong> algumas das suas<br />
«funcionárias» 278 . Ora, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta motivação leva-nos ao seguinte<br />
raciocínio: pelo menos duas das invasões <strong>de</strong> que a Ática foi objeto por parte da<br />
Lace<strong>de</strong>mónia estão relacionadas com o «fator mulher»: a mais antiga <strong>de</strong> todas<br />
foi consequência do rapto <strong>de</strong> Helena por Teseu 279 ; a que sobrevém no contexto<br />
da Guerra do Peloponeso <strong>de</strong>corre da inuência que Aspásia exercia sobre<br />
Péricles. Assim sendo, ca a sugestão <strong>de</strong> que a vida pessoal <strong>de</strong> um político, por<br />
melhor que ele seja, po<strong>de</strong> pôr <strong>em</strong> risco o b<strong>em</strong>-estar da cida<strong>de</strong>. 280<br />
275 Vi<strong>de</strong> supra p. 64.<br />
276 A Guerra <strong>de</strong> Samos ocorreu entre 441-439 a.C., cinco anos após a celebração do<br />
tratado <strong>de</strong> paz por trinta anos entre Atenas e Esparta (uc. 1. 115. 2). Samos fazia parte<br />
da Simaquia, mas tinha uma frota própria e tinha entrado <strong>em</strong> guerra com Mileto pela posse<br />
<strong>de</strong> Priene, uma pequena cida<strong>de</strong> iónia na foz do Meandro, próxima <strong>de</strong> Mileto (a Norte) e <strong>de</strong><br />
Mícale, que controlava o santuário comum <strong>de</strong> Paniónion. A guerra po<strong>de</strong> ter sido motivada<br />
pela mudança da festa <strong>de</strong> Priene para Éfeso – cf. Hornblower (1982: 241-245). A razão<br />
«ocial» para o apoio a Mileto contra Samos foi a <strong>de</strong>sobediência <strong>de</strong>stes últimos à proposta<br />
<strong>dos</strong> Atenienses <strong>de</strong> mediar a resolução do conito, provavelmente sob o argumento <strong>de</strong> que<br />
os m<strong>em</strong>bros da Simaquia <strong>de</strong> Delos <strong>de</strong>veriam respeitar os alia<strong>dos</strong> uns <strong>dos</strong> outros. Sobre este<br />
assunto, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 169-171).<br />
277 Em Per. 24. 5, <strong>Plutarco</strong> aceita como histórico o facto <strong>de</strong> Aspásia ser uma alcoviteira. A<br />
explicação que atribuía a Péricles e a Aspásia a responsabilida<strong>de</strong> da Guerra do Peloponeso surge,<br />
segundo Harpocrácion, s. v. , <strong>em</strong> Dúris e Teofrasto. Cf. etiam Ar. Ach. 524-527.<br />
278 De acordo com Aristófanes, a causa da guerra terá sido tão nobre como o é a<br />
vingança pelo roubo <strong>de</strong> duas prostitutas...<br />
<br />
(Ach. 524-527) - ‘mas uns rapazes <strong>de</strong> viag<strong>em</strong> para Mégara met<strong>em</strong>-se nos<br />
copos durante o jogo do cótabo e roubam a cortesã Simeta. Então os Megarenses, espicaça<strong>dos</strong><br />
pelo <strong>de</strong>sgosto, roubam a Aspásia, como represália, duas cortesãs.’ A tradução apresentada é <strong>de</strong><br />
Silva (2006).<br />
279 Vi<strong>de</strong> supra pp. 80 e 96.<br />
280 O facto <strong>de</strong> os Atenienses ter<strong>em</strong> esta perceção está na base da fúria que dirig<strong>em</strong> contra<br />
Alcibía<strong>de</strong>s quando este <strong>de</strong>ixa a frota sob o comando <strong>de</strong> Antíoco: a fama da vida <strong>de</strong>sregrada do<br />
271