17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

(Per. 20. 3), e até o da estratégia adotada por altura do eclodir da Guerra<br />

do Peloponeso 270 . Mas, na verda<strong>de</strong>, foram mais numerosos os momentos<br />

que lhe proporcionaram o reconhecimento popular. Disso são ex<strong>em</strong>plo a<br />

circum-navegação do Peloponeso 271 (Per.19. 2-3), a expedição ao Ponto (Per.<br />

20. 1) ou a Guerra <strong>de</strong> Samos (Per. 25-28), na sequência das quais Péricles<br />

passou a ser visto pelo inimigo como uma ameaça terrível. Note-se, contudo,<br />

que o lho <strong>de</strong> Xantipo s<strong>em</strong>pre se esforçou por agir com humanida<strong>de</strong> <strong>em</strong><br />

relação aos inimigos. Em Per. 23. 4, essa i<strong>de</strong>ia ca clara: apenas os habitantes<br />

<strong>de</strong> Hestieia foram alvo <strong>de</strong> tratamento inexível, pois tinham feito refém uma<br />

nau ática e matado toda a tripulação 272 . O facto <strong>de</strong> só esses ser<strong>em</strong> maltrata<strong>dos</strong><br />

mostra que Péricles tinha um forte sentido <strong>de</strong> justiça e gran<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração –<br />

não se <strong>de</strong>ixou tomar pela dor e pela ira <strong>de</strong> ver os concidadãos mortos para,<br />

como vingança, massacrar o maior número possível <strong>de</strong> inimigos 273 . Quanto<br />

a Alcibía<strong>de</strong>s, ao qual estamos habitua<strong>dos</strong> a associar um caráter excessivo,<br />

também ele se revelou, no contexto das campanhas militares, um general<br />

mo<strong>de</strong>rado e <strong>de</strong> bom coração: tratou b<strong>em</strong> os prisioneiros lace<strong>de</strong>mónios<br />

(Alc. 14. 1-2); <strong>de</strong>ixou partir <strong>em</strong> liberda<strong>de</strong>, s<strong>em</strong> cobrar qualquer resgate, os<br />

sacerdotes e sacerdotisas que zera reféns aquando da investida contra a terra<br />

<strong>de</strong> Farnábazo 274 (Alc. 29. 6); não permitiu que os Trácios que integravam<br />

o seu exército pilhass<strong>em</strong> Selímbria, n<strong>em</strong> fez mal aos seus habitantes, aos<br />

quais apenas exigiu dinheiro e impôs uma guarnição (Alc. 30. 10); optou por<br />

fazer prisioneiros os adversários que sobreviveram <strong>em</strong> Bizâncio, <strong>em</strong> vez <strong>de</strong><br />

matá-los ou exilá-los (Alc. 31. 6).<br />

Esta humanida<strong>de</strong> e civismo que caracterizam a atuação <strong>dos</strong> dois<br />

Alcmeónidas enquanto estrategos é um traço que têm <strong>em</strong> comum com Teseu,<br />

caminho <strong>de</strong> Chipre, dispensou sessenta navios da sua frota a Amirteu, um príncipe egípcio, que<br />

ainda mantinha o braço <strong>de</strong> ferro com os Persas (uc. 1. 112. 3-4; Plu. Cim. 18. 5-6). Vi<strong>de</strong> Lewis<br />

(1992: 77-78, 83-87).<br />

270 Vi<strong>de</strong> infra pp. 280-281<br />

271 Esta expedição, que apenas é mencionada por <strong>Plutarco</strong>, terá ocorrido entre a Guerra <strong>de</strong><br />

Samos e a do Peloponeso e, segundo Stadter (1989: 217), é natural que tenha sido uma tentativa<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r da parte <strong>de</strong> Péricles aquando da ascensão <strong>de</strong> uma nova dinastia no<br />

Bósforo (cf. D. S. 12. 31. 1). Este episódio revela-se, assim, um bom ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> perspicácia e<br />

previsão político-militar <strong>de</strong> Péricles, que, com um único gesto, alcança dois objetivos distintos:<br />

intimidar os Bárbaros, que, perante tamanho po<strong>de</strong>rio, pensarão duas vezes antes <strong>de</strong> atacar, e<br />

satisfazer os alia<strong>dos</strong>, mostrando-lhes que os Atenienses cumpr<strong>em</strong> a missão pela qual receb<strong>em</strong><br />

o tributo.<br />

272 Esta explicação é exclusiva <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>.<br />

273 Este ex<strong>em</strong>plo funciona como excelente argumento contra a acusação <strong>de</strong> cruelda<strong>de</strong> no<br />

tratamento <strong>dos</strong> reféns <strong>de</strong> Samos feita por Dúris <strong>de</strong> Samos, <strong>em</strong> Per. 28. 2, e que logo aí <strong>Plutarco</strong><br />

nega, citando o silêncio <strong>de</strong> Éforo, Tucídi<strong>de</strong>s e Aristóteles <strong>em</strong> relação a esse acontecimento.<br />

274 Sobre Farnábazo, vi<strong>de</strong> infra p. 292, nota 405. Este comportamento torna-se ainda mais<br />

curioso por vir <strong>de</strong> alguém que, regra geral, não tinha qualquer probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> faltar ao respeito à<br />

divinda<strong>de</strong>, como no-lo test<strong>em</strong>unha a sua imitação <strong>dos</strong> Mistérios <strong>de</strong> Elêusis (Alc. 19-20, Moralia<br />

621C; Isoc. 16. 5-7).<br />

270

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!