17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

estratego e <strong>de</strong>veria estar ansioso por fazer jus à sua fama <strong>de</strong> excelente general…<br />

Algo s<strong>em</strong>elhante terá acontecido a propósito da revolta <strong>dos</strong> Calcedónios 264<br />

(Alc. 29. 6): nessa altura, sabendo que já não havia bens a saque intra muros,<br />

Alcibía<strong>de</strong>s não ataca <strong>de</strong> imediato a cida<strong>de</strong>. É que a investida seria um<br />

<strong>de</strong>sperdício inútil <strong>de</strong> energia, meios e… homens. Do mesmo modo, através da<br />

estratégia que <strong>de</strong>lineia para tomar Bizâncio (Alc. 31. 3-7), sugere a intenção<br />

<strong>de</strong> proteger os seus solda<strong>dos</strong>: simula uma <strong>de</strong>slocação à Iónia para reprimir<br />

outra revolta, mas regressa à noite, como combinara com alguns conjura<strong>dos</strong>, <strong>de</strong><br />

entre os quais Anaxilau 265 . Apesar <strong>de</strong>ste estratag<strong>em</strong>a digno <strong>de</strong> um Ulisses, não<br />

consegue evitar o combate quando os Peloponésios, Beócios e Megarenses, que<br />

tentavam impedir o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>barque <strong>dos</strong> Atenienses, se aperceb<strong>em</strong> <strong>de</strong> que um<br />

bom número <strong>de</strong> inimigos já se encontrava <strong>em</strong> terra 266 . Mas, o ex<strong>em</strong>plo mais<br />

<strong>de</strong>sinteressado da sua perspicácia e preocupação com o povo consiste no facto<br />

<strong>de</strong> ter tentado prevenir os estrategos no po<strong>de</strong>r para o perigo <strong>em</strong> que incorriam<br />

se mantivess<strong>em</strong> a mesma estratégia, que se viria a revelar fatal na batalha <strong>de</strong><br />

Egospótamo (Alc. 36. 6, 37. 4).<br />

A Péricles, tal prudência e perspicácia valeram-lhe gran<strong>de</strong>s elogios, mas<br />

também algumas acusações menos simpáticas <strong>de</strong> cobardia. Foi esse o <strong>caso</strong><br />

com a expedição <strong>de</strong> Tólmi<strong>de</strong>s contra a Beócia 267 , com a expedição à Sicília 268 ,<br />

com as incursões contra o Egito 269 e as zonas costeiras da Pérsia, que impediu<br />

264 Cf. X. HG 1. 3.<br />

265 A razão que levou Anaxilau a entregar-lhe Bizâncio é apresentada por <strong>Plutarco</strong> como<br />

um ato <strong>de</strong> nobreza e não <strong>de</strong> traição à pátria, <strong>em</strong> Alc. 31. 8: assegurar a proteção da cida<strong>de</strong> e<br />

<strong>dos</strong> concidadãos, evitando uma guerra que não era sua. Cf. X. HG 1. 3. 19. Vi<strong>de</strong> supra p. 218,<br />

nota 38.<br />

266 Em relação a este conito concreto, <strong>Plutarco</strong> parece seguir uma fonte distinta das que<br />

por norma segue quando aborda esta fase do exílio <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. De facto, fornece muita<br />

informação compl<strong>em</strong>entar à mencionada por X. HG 1. 3. 14-22; D. S. 13. 66. 5 – 67.7: dá o<br />

nome <strong>dos</strong> traidores, refere a presença <strong>de</strong> Beócios e Megarenses. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Pérez<br />

Jiménez (2006: 180, n. 147).<br />

267 Vi<strong>de</strong> supra p. 184, nota 101.<br />

268 <strong>Plutarco</strong> refere-se ao interesse pela Sicília como <br />

«uma obsessão infeliz e <strong>de</strong>sgraçada» (Per. 20.4), s<strong>em</strong> adiantar pormenores para além do<br />

facto <strong>de</strong> ter sido inamada por Alcibía<strong>de</strong>s. Esta forma abreviada e discreta como aborda o<br />

assunto na Vida <strong>de</strong> Péricles é eloquente: <strong>de</strong>ixa <strong>em</strong> nós, que comparamos a atuação <strong>dos</strong> dois<br />

Alcmeónidas, a noção clara da diferença entre um e outro enquanto estrategos.<br />

269 A primeira campanha terá sido organizada <strong>em</strong> 460-459 a.C. para ajudar Ínaro, rei da<br />

Líbia, que pretendia criar no Egito um reino in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do persa. Depois <strong>de</strong> conquistar<br />

Mareia (região próxima da futura Alexandria), sentiu diculda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> controlar o resto do<br />

território e, consequent<strong>em</strong>ente, pediu ajuda aos Atenienses. Os alia<strong>dos</strong>, escolhi<strong>dos</strong> sobretudo<br />

pelo seu po<strong>de</strong>rio naval, não hesitaram, já que era uma ótima oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar à Pérsia<br />

que era preferível ter Atenas do seu lado do que como inimiga. Na sequência do pedido <strong>de</strong> Ínaro,<br />

partiu <strong>em</strong> direção ao Egito parte do contingente da Simaquia <strong>de</strong> Delos que então se encontrava<br />

<strong>em</strong> Chipre. Nos primeiros t<strong>em</strong>pos, os Atenienses conseguiram correspon<strong>de</strong>r ao objetivo (uc.<br />

1. 104). Mas ao m <strong>de</strong> seis anos, foram <strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong> por Megabizo e per<strong>de</strong>ram duzentos navios<br />

junto à ilha <strong>de</strong> Prosopítis (uc. 1. 109-110). Porém, no verão <strong>de</strong> 450 a.C., Címon, que ia a<br />

269

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!