17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

No seu contexto original, este verso é proferido por Eletra, que acusa<br />

Helena <strong>de</strong> ngir dor pela morte da irmã Clit<strong>em</strong>nestra e <strong>de</strong> preservar intacto o<br />

esnobismo <strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre. Adapta-se, portanto, ao t<strong>em</strong>a «habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s<br />

para mudar (aparent<strong>em</strong>ente) o seu comportamento», mas não o caráter, e reforça<br />

a f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> associada ao Alcmeónida 259 . Com efeito, ao longo da biograa,<br />

são atribuí<strong>dos</strong> ao herói traços e comportamentos que suger<strong>em</strong> (e ilustram) o<br />

modo como <strong>de</strong>srespeita as fronteiras entre os sexos. A vida licenciosa que leva<br />

(ilustrada pelas anedotas sobre a sedução <strong>de</strong> Timaia) costuma ser apontada<br />

como característica própria <strong>de</strong> mulheres e sugere, mais uma vez, uma natureza<br />

tirânica (pois os excessos sexuais, além <strong>de</strong> associa<strong>dos</strong> à natureza f<strong>em</strong>inina,<br />

estavam também liga<strong>dos</strong> à do tirano 260 ).<br />

Assim, <strong>em</strong>bora aparente agir com a rigi<strong>de</strong>z e correção <strong>de</strong> um Espartano,<br />

quando se vê obrigado a abandonar a Lace<strong>de</strong>mónia, <strong>de</strong>ixa a prova viva <strong>de</strong> que<br />

continuava o mesmo libertino <strong>de</strong> s<strong>em</strong>pre, já que a mulher do rei por qu<strong>em</strong> foi<br />

acolhido ca grávida <strong>de</strong> um lho seu 261 . D<strong>em</strong>ais, quando <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r conar<br />

a sua segurança aos Espartanos, vai pedir asilo ao persa Tissafernes, <strong>em</strong> cuja<br />

corte <strong>de</strong>pressa ganha pro<strong>em</strong>inência. Nessa altura, volta a revelar um caráter<br />

vingativo, pois <strong>de</strong>nigre a imag<strong>em</strong> do primeiro antrião junto do segundo (Alc.<br />

25).<br />

Mas Alcibía<strong>de</strong>s, que pelas suas reações int<strong>em</strong>pestivas e se<strong>de</strong> <strong>de</strong> vitória<br />

parecia disposto a arriscar tudo, também se preocupou com a segurança <strong>dos</strong><br />

seus concidadãos e <strong>de</strong> Atenas. Em Alc. 26. 5 262 , o biógrafo dá-nos a dimensão<br />

do <strong>de</strong>sastre evitado pelo Alcmeónida quando os Sâmios o nomearam estratego<br />

para restabelecer a <strong>de</strong>mocracia <strong>em</strong> Atenas 263 . Ao opor-se a que os solda<strong>dos</strong><br />

partiss<strong>em</strong> <strong>de</strong> rompante, impediu um confronto entre Atenienses e que a guerra<br />

chegasse à cida<strong>de</strong>; ao mesmo t<strong>em</strong>po que salvaguardou o império, não <strong>de</strong>u azo<br />

a que os inimigos controlass<strong>em</strong> a Iónia, o Helesponto ou as ilhas. <strong>Plutarco</strong><br />

chama a atenção para a forma, quase paternalista, como persuadiu a multidão<br />

e cada <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>em</strong> particular, revelando gran<strong>de</strong> preocupação com o <strong>de</strong>stino <strong>dos</strong><br />

concidadãos e da . Esta preocupação torna-se tanto mais extraordinária,<br />

vinda <strong>de</strong> um Alcibía<strong>de</strong>s, se tivermos <strong>em</strong> conta que tinha acabado <strong>de</strong> ser eleito<br />

259 <strong>Plutarco</strong> alu<strong>de</strong> a essa natureza f<strong>em</strong>inina () <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s <strong>em</strong> Alc. 1. 4-8 (a<br />

propósito da sua beleza), 2. 3 (ao armar que mor<strong>de</strong> como uma mulher), 3-6 (on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>mos<br />

ler anedotas sobre os seus amantes), mas sobretudo <strong>em</strong> 16. 1 (por causa das roupas <strong>de</strong> púrpura).<br />

Este traço da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s contrasta fort<strong>em</strong>ente com a do seu par,<br />

Coriolano.<br />

260 Cf. Antístenes – fr. V A 141 Giannantonini, passo on<strong>de</strong> se faz a aproximação entre o<br />

comportamento sexual <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s e o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se tornar um tirano. Sobre este assunto,<br />

consulte-se, por ex<strong>em</strong>plo, Du (1999: 236-237). O perl tirânico <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s encontra-se<br />

tratado entre as páginas 215-217.<br />

261 Sobre esta relação que Alcibía<strong>de</strong>s manteve com Timaia, vi<strong>de</strong> supra p. 246.<br />

262 Este passo baseia-se <strong>em</strong> uc. 8. 86. 4.<br />

263 Vi<strong>de</strong> infra p. 288 sqq.<br />

268

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!