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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

estratego, que ele próprio consi<strong>de</strong>rava o seu feito mais belo e importante 251 .<br />

Quando, já s<strong>em</strong> esperança <strong>de</strong> cura, agonizava no leito, o lho <strong>de</strong> Xantipo<br />

interveio na conversa das visitas que elogiavam a sua superiorida<strong>de</strong> 252 e po<strong>de</strong>r,<br />

para chamar a atenção exatamente para isso:<br />

266<br />

Per. <br />

“nenhum Ateniense se vestiu <strong>de</strong> luto por culpa minha.”<br />

Seria injusto negar a Alcibía<strong>de</strong>s, que, à primeira vista, <strong>de</strong>ixa passar uma<br />

imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>svario e pouca prudência, algum reconhecimento pela sua<br />

cautela, perspicácia e até preocupação com o povo. É facto que as primeiras<br />

características são sobretudo postas <strong>em</strong> prática quando se trata da sua segurança<br />

e vida: basta recordar como, por diversas vezes, soube antecipar as <strong>de</strong>cisões<br />

do inimigo, que pretendia matá-lo, e fugir at<strong>em</strong>padamente. Primeiro, escapou<br />

aos Atenienses (por altura da sua con<strong>de</strong>nação a propósito da mutilação <strong>dos</strong><br />

Hermes) e pediu asilo aos Espartanos 253 (Alc. 22); mais tar<strong>de</strong>, fugiu <strong>de</strong>stes,<br />

quando também eles se preparavam para matá-lo, refugiando-se junto <strong>de</strong><br />

Tissafernes (Alc. 24); por m, evadiu-se da prisão <strong>em</strong> que este o encarcerara<br />

(Alc. 27), e regressou à cida<strong>de</strong> natal 254 .<br />

Além da capacida<strong>de</strong> manifestada para antever os ataques e escapar-lhes<br />

com vida, o Alcmeónida conseguiu s<strong>em</strong>pre, por prudência, qual camaleão,<br />

moldar a sua maneira <strong>de</strong> ser aos costumes <strong>dos</strong> locais on<strong>de</strong> pedia abrigo, medida<br />

avisada para qu<strong>em</strong> era conhecido por um comportamento <strong>de</strong>sconcertante<br />

(Alc. 23. 3-5) 255 . Por isso, po<strong>de</strong>mos armar que, à cautela e por amor à própria<br />

existência, pôs <strong>em</strong> prática o ditado «Em Roma, sê romano»: <strong>em</strong> Esparta, foi<br />

251 Esta opinião é partilhada por <strong>Plutarco</strong> (Moralia 781), que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que o bom governante<br />

<strong>de</strong>ve t<strong>em</strong>er prejudicar os seus súbditos. Neste contexto, o biógrafo esboça a distinção entre reis e<br />

tiranos, armando que os primeiros têm medo pelos súbditos, enquanto os segun<strong>dos</strong> têm medo<br />

<strong>dos</strong> súbditos.<br />

252 Neste contexto, Péricles atribui todas as suas glórias enquanto general à Fortuna (Per. 38.<br />

4). Este comportamento <strong>de</strong>corre certamente da i<strong>de</strong>ia que <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> <strong>em</strong> Moralia 815D:<br />

os homens atribu<strong>em</strong> a sua glória à sorte e não ao seu mérito pessoal para evitar que o <br />

lhes tolha os passos. Quer na Vida <strong>de</strong> Péricles, quer na <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, quer na <strong>de</strong> Nícias, o<br />

<strong>de</strong>sastre que provocou a ruína <strong>de</strong> Atenas é associado à intervenção divina. Sobre este assunto,<br />

vi<strong>de</strong> p. 281, nota 330; p. 285, nota 354.<br />

253 Infra p. 286.<br />

254 Antes <strong>de</strong> ser obrigado a escapar <strong>de</strong> Tissafernes, t<strong>em</strong>eu que a estratégia proposta ao<br />

Persa viesse a pôr a sua vida <strong>em</strong> risco, <strong>caso</strong> os Lace<strong>de</strong>mónios saíss<strong>em</strong> vitoriosos da Guerra do<br />

Peloponeso. Por isso, tornou-se aliado <strong>de</strong> Samos, <strong>em</strong> um claro movimento <strong>de</strong> antecipação. Sobre<br />

este assunto, infra p. 288 sqq.<br />

255 Cf. Moralia 52E. Em Alc. 24. 5, <strong>Plutarco</strong> arma mesmo que estes o admiravam<br />

particularmente por causa da sua versatilida<strong>de</strong> () e inteligência (<br />

). A era um tópico associado a este Alcmeónida na tradição biográca.<br />

Sobre este t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> supra p. 168, nota 38.

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