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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

comando da cida<strong>de</strong> à força (es. 35. 4-5), ao invés <strong>de</strong> procurar contribuir para<br />

a resolução <strong>dos</strong> probl<strong>em</strong>as da 228 .<br />

Ora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> instalada a confusão, por entre ataques e con<strong>de</strong>nações, o<br />

povo revela-se <strong>de</strong>sconcertant<strong>em</strong>ente interesseiro e complacente. É que, apesar<br />

<strong>de</strong> impie<strong>dos</strong>o para com os seus políticos, acaba por lhes perdoar as falhas,<br />

quando (privado da boa inuência das suas ações e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>, reinvestido na sua<br />

autorida<strong>de</strong> 229 , ter <strong>de</strong>scarregado a sua ira como um ferrão 230 ) sente a necessida<strong>de</strong><br />

pr<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> voltar a beneciar das suas medidas. Nesses <strong>caso</strong>s, s<strong>em</strong> qualquer<br />

pejo que não o <strong>de</strong> se ter prejudicado a si mesmo durante o período <strong>em</strong> que<br />

prescindiu 231 , por sua própria responsabilida<strong>de</strong>, das ações do estadista, manda<br />

chamá-los <strong>de</strong> volta 232 . Uns, como Alcibía<strong>de</strong>s, aceitam <strong>de</strong> imediato o convite/<br />

pedido <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpa. Só não vêm mais <strong>de</strong>pressa, porque, por precaução, quer<strong>em</strong><br />

chegar a casa com provas dadas <strong>dos</strong> benefícios que a sua ação po<strong>de</strong> oferecer<br />

à cida<strong>de</strong> ou, porque, segundo <strong>Plutarco</strong>, preten<strong>de</strong>m retribuir a compaixão e o<br />

favor do povo com feitos favoráveis e dignos <strong>de</strong> registo (Alc. 27. 1-2 233 ). Outros,<br />

como Péricles, por cansaço ou para se valorizar<strong>em</strong>, adiam um pouco mais a<br />

rentrée <strong>em</strong> glória, e só regressam instiga<strong>dos</strong> pelos amigos 234 (Per. 37. 1-2).<br />

228 Vi<strong>de</strong> supra pp. 106-107.<br />

229 Cf. Per. 35. 4.<br />

230 Aproveitámos esta imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Per. 36. 1, on<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> sugere que os probl<strong>em</strong>as com o<br />

povo, apesar <strong>de</strong> graves, foram passageiros, já que este se acalma <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarrregar a sua ira<br />

como um ferrão. Esta comparação do comportamento das massas ao <strong>de</strong> uma abelha é só mais<br />

um <strong>dos</strong> muitos ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> comparação do povo com animais, como já vimos antes (p. 225,<br />

nota 78), e terá sido inuenciada por Platão (Phd. 91c) e Aristófanes (V. 405 sq., on<strong>de</strong> os juízes<br />

<strong>ateniense</strong>s <strong>de</strong>liberam, como qu<strong>em</strong> distribui ferroadas, para punir os que têm comportamentos<br />

menos dignos).<br />

231 Em Alc. 25. 2, os Atenienses mostram-se arrependi<strong>dos</strong> da afronta que lhe zeram ao<br />

con<strong>de</strong>ná-lo à morte e obrigá-lo ao exílio, por ser<strong>em</strong> alvo da sua represália; do mesmo modo, <strong>em</strong><br />

Alc. 32. 3, recriminam-se por não o ter<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixado à frente do exército na Sicília.<br />

232 A falta que o povo sente <strong>de</strong>stes estadistas e o convite que lhes faz para regressar<strong>em</strong> ao<br />

convívio político estão <strong>em</strong> consonância com Moralia 811F, on<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> arma que o político<br />

se <strong>de</strong>ve aproximar do povo quando este o ama e <strong>de</strong>ixá-lo com sauda<strong>de</strong>s suas se se ausenta. Neste<br />

contexto, importa ainda recordar o que o biógrafo arma, <strong>em</strong> Moralia 813C, que os políticos<br />

não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> recusar os cargos legalmente ofereci<strong>dos</strong> pelo povo. Esta terá sido uma das razões<br />

que levam Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s a regressar <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> afasta<strong>dos</strong> do po<strong>de</strong>r pelos concidadãos.<br />

Em Moralia 788C, a propósito da <strong>de</strong>fesa da ativida<strong>de</strong> política <strong>dos</strong> anciãos, <strong>Plutarco</strong> arma que<br />

as cida<strong>de</strong>s, quando sofr<strong>em</strong> algum revés ou sent<strong>em</strong> medo, prefer<strong>em</strong> ser governadas por homens<br />

<strong>de</strong> ida<strong>de</strong> avançada. Chegam mesmo a chamar <strong>de</strong> volta aqueles dirigentes que elas próprias já<br />

haviam afastado (como acontece com Péricles).<br />

233 Neste passo da biograa, <strong>Plutarco</strong> resume uc. 8. 89-97.<br />

234 Um <strong>de</strong>sses amigos terá sido, <strong>de</strong> acordo com o biógrafo, o próprio Alcibía<strong>de</strong>s. A reeleição<br />

<strong>de</strong> Péricles é mencionada por uc. 2. 65. 4; D. S. 12. 45. 5. A sua data é controversa: Tucídi<strong>de</strong>s<br />

diz que tal aconteceu pouco <strong>de</strong>pois do afastamento <strong>de</strong> Péricles – assim, ou foi convocada uma<br />

eleição extraordinária algumas s<strong>em</strong>anas após a <strong>de</strong>stituição, ou os Atenienses aguardaram o<br />

escrutínio regular, que teria lugar na primavera <strong>de</strong> 429 a.C. (neste <strong>caso</strong>, Péricles apenas teria<br />

reassumido funções <strong>em</strong> julho do mesmo ano). Importa frisar que, muito provavelmente, o<br />

estratego nunca chegou a pagar a multa <strong>de</strong>terminada (Per. 35. 4).<br />

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