O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
Reitamos um pouco sobre a reação <strong>dos</strong> dois Alcmeónidas quando<br />
confronta<strong>dos</strong> com a investida do povo, não s<strong>em</strong> antes distinguir, <strong>em</strong> traços<br />
gerais, as penas <strong>de</strong> que foram alvo.<br />
A <strong>de</strong>scrição que <strong>Plutarco</strong> faz da primeira perseguição movida contra<br />
Alcibía<strong>de</strong>s resulta menos contun<strong>de</strong>nte (e até mais breve, apesar <strong>de</strong> ter ocorrido<br />
<strong>em</strong> dois momentos distintos) do que a <strong>de</strong> Péricles, não obstante as consequências<br />
para o mais novo ter<strong>em</strong> sido mais graves <strong>em</strong> termos pessoais. Aquando da<br />
primeira <strong>de</strong>savença com os concidadãos (que po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar mais séria<br />
para o político), além <strong>de</strong> privado <strong>dos</strong> seus bens, Alcibía<strong>de</strong>s foi amaldiçoado 222 ,<br />
con<strong>de</strong>nado à morte e viu-se obrigado ao exílio para sobreviver 223 . Péricles,<br />
aparent<strong>em</strong>ente mais fustigado pelos ataques populares, apenas se viu, por<br />
pouquíssimo t<strong>em</strong>po, afastado do comando da cida<strong>de</strong> e foi con<strong>de</strong>nado a pagar<br />
uma «pequena» multa 224 (Per. 35. 4). No entanto, a reação <strong>de</strong> ambos aos ataques<br />
e à con<strong>de</strong>nação a que foram sujeitos foi inversamente proporcional à realida<strong>de</strong><br />
que acabámos <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver. Péricles, ao ser alvo <strong>de</strong> pressões cada vez mais<br />
intensas por parte <strong>de</strong> inimigos e amigos, resistiu convictamente, <strong>de</strong>monstrando<br />
a serenida<strong>de</strong> 225 <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> formação losóca e perl <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro <strong>hom<strong>em</strong></strong><br />
<strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, que tudo faz para manter o b<strong>em</strong>-estar da população acima <strong>dos</strong><br />
seus interesses pessoais 226 . Alcibía<strong>de</strong>s, por sua vez, respon<strong>de</strong>u como um jov<strong>em</strong><br />
mimado que, ao ver recusado um pedido ou a satisfação <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo, passa<br />
a ter como único objetivo infernizar a vida daqueles que o contrariaram. Para<br />
isso, alia-se, s<strong>em</strong> pudor, ao inimigo do povo que o traiu, pagando-lhe na mesma<br />
moeda. Esta postura é a negação daquele que <strong>de</strong>ve ser o comportamento <strong>de</strong><br />
qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> por missão proteger os concidadãos e os interesses da coletivida<strong>de</strong> 227 .<br />
Po<strong>de</strong>mos, por isso, associar o comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s ao <strong>de</strong> Teseu.<br />
Também ele se mostrou agarrado ao po<strong>de</strong>r, porque tentou recuperar o<br />
222 Cf. Nep. Alc. 4. 5. <strong>Plutarco</strong> (Alc. 22. 5) conta que uma das sacerdotisas, Téano, alegando<br />
que a sua função era abençoar os indivíduos, se recusou a amaldiçoar Alcibía<strong>de</strong>s. O biógrafo<br />
elogia a sua postura <strong>em</strong> Moralia 275D.<br />
223 Em Alc. 22. 4, o biógrafo transcreve o <strong>de</strong>creto da acusação contra Alcibía<strong>de</strong>s.<br />
224 Sobre a multa aplicada a Péricles, vi<strong>de</strong> infra p. 283, nota 339.<br />
225 No entanto, <strong>em</strong>bora <strong>Plutarco</strong> apenas veladamente faça alusão ao receio ou incómodo<br />
que Péricles terá sentido com toda esta contestação (sobretudo através da referência à opção<br />
pela guerra como forma <strong>de</strong> abafar as acusações que lhe eram dirigidas – cf. p. 277 sqq. ),<br />
Tucídi<strong>de</strong>s (2. 59-60) e Aristófanes (Pax 606-7) armam com clareza que o estadista sentiu<br />
medo do povo.<br />
226 Esta postura foi assumida sobretudo no que respeita ao seguimento da estratégia que<br />
<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u para a Guerra do Peloponeso, que foi largamente contestada pela oposição. Não nos<br />
alargar<strong>em</strong>os aqui sobre este t<strong>em</strong>a, pois pareceu-nos mais oportuno <strong>de</strong>senvolvê-lo no subcapítulo<br />
que se segue, <strong>de</strong>dicado à faceta <strong>de</strong> estratego.<br />
227 Este é o tipo <strong>de</strong> reação própria <strong>dos</strong> indivíduos <strong>de</strong> «gran<strong>de</strong> natureza» s<strong>em</strong>pre que se sent<strong>em</strong><br />
feri<strong>dos</strong> no seu orgulho, já antes ex<strong>em</strong>plicado com a «vingança» <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que engana a<br />
<strong>em</strong>baixada <strong>de</strong> Lace<strong>de</strong>mónios, porque tratavam a paz com Nícias e não com ele. Sobre estes<br />
assuntos, vi<strong>de</strong> supra pp. 207-208 .<br />
259