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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

sucedi<strong>dos</strong>. Face a esta acusação, os Atenienses, s<strong>em</strong>pre imprevisíveis,<br />

apoiaram Péricles, naquele que é um <strong>dos</strong> poucos momentos <strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong><br />

(e a sua fonte para este passo, Tucídi<strong>de</strong>s) apresenta o povo dotado <strong>de</strong> um<br />

rasgo (esporádico) <strong>de</strong> inteligência 218 . É que enten<strong>de</strong>u que se ele estava a ser<br />

indiciado pelos Espartanos era porque estes o t<strong>em</strong>iam (e não se t<strong>em</strong>e qu<strong>em</strong><br />

não oferece perigo...). Trata-se, por assim dizer, <strong>de</strong> um reconhecimento<br />

indireto da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e <strong>de</strong> condução do povo e <strong>dos</strong> assuntos<br />

militares pela qual Péricles cou conhecido.<br />

Antes que Arquidamo, com o qual mantinha laços <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong>, tivesse<br />

t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> cong<strong>em</strong>inar nova estratégia para <strong>de</strong>sacreditá-lo, o Alcmeónida, como<br />

bom estratego e político previ<strong>de</strong>nte, tomou as <strong>de</strong>vidas precauções (Per. 33. 3) 219 .<br />

Prometeu doar ao povo todas as suas terras, se o inimigo agisse <strong>de</strong> acordo<br />

com a suspeita popular, ou seja, se, por ocasião da invasão da Ática, poupasse<br />

apenas as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Péricles 220 . Assim, minando a possível pretensão do<br />

inimigo, o lho <strong>de</strong> Xantipo – e, por sua vez, os Atenienses – ve<strong>em</strong> reforçada a<br />

sua superiorida<strong>de</strong> relativamente aos Lace<strong>de</strong>mónios: por mais que estes tent<strong>em</strong>,<br />

são os protegi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> Atena que levam a melhor.<br />

Alcibía<strong>de</strong>s foi alvo <strong>de</strong> uma investida s<strong>em</strong>elhante, cujo <strong>de</strong>sfecho não foi tão<br />

lisonjeiro para Atenas. Os Lace<strong>de</strong>mónios consi<strong>de</strong>raram que aquele era o único<br />

político <strong>de</strong> que a dispunha com capacida<strong>de</strong> para fazer reverter a situação<br />

e impedir que os Atenienses saíss<strong>em</strong> <strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong> da Guerra do Peloponeso 221 . É<br />

<strong>caso</strong> para se dizer que, mais uma vez, Péricles representa o apogeu e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

a <strong>de</strong>cadência da . Enquanto o mais velho viu a sua posição reforçada<br />

na sequência <strong>dos</strong> ataques <strong>de</strong> que foi alvo, o mais novo <strong>de</strong>stes Alcmeónidas<br />

não conseguiu anular os efeitos da tática do inimigo e acabou por morrer às<br />

suas mãos. S<strong>em</strong> ele, Atenas cou órfã e não teve forças para reagir com a<br />

<strong>de</strong>terminação necessária.<br />

218 Per. 33. 2.<br />

219 A fonte <strong>de</strong>ste passo é uc. 2. 13. 1. Como se sabe a relação <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong> era muito<br />

importante para o <strong>hom<strong>em</strong></strong> grego. T<strong>em</strong>os ex<strong>em</strong>plos disso já nos Po<strong>em</strong>as Homéricos – Il. 6,<br />

119-129 (Glauco e Diome<strong>de</strong>s, ao reconhecer<strong>em</strong> a existência <strong>de</strong> laços <strong>de</strong> hospitalida<strong>de</strong> entre as<br />

suas famílias, recusam-se a combater); Od. 7 (receção <strong>de</strong> Ulisses no palácio <strong>de</strong> Alcínoo e Arete),<br />

entre outros. Sobre as relações <strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles, vi<strong>de</strong> supra p. 165 e Gribble (1999: 50).<br />

220 Fábio Máximo, par <strong>de</strong> Péricles na obra <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, passa por uma situação s<strong>em</strong>elhante.<br />

Mas, neste <strong>caso</strong>, as suas terras são efetivamente poupadas por Aníbal (Fab. 7. 4).<br />

221 Embora nesta altura os Atenienses estivess<strong>em</strong> novamente <strong>de</strong> relações cortadas com<br />

o Alcmeónida, também eles acreditavam que aquele seria a sua única hipótese <strong>de</strong> salvação:<br />

enquanto Alcibía<strong>de</strong>s vivesse, havia esperança (Alc. 38. 3). O mesmo sentimento era partilhado<br />

pelos Trinta, que colocaram Alcibía<strong>de</strong>s sob vigilância e instigaram os Lace<strong>de</strong>mónios a ajudá-los:<br />

se Atenas voltasse a viver <strong>em</strong> <strong>de</strong>mocracia, seria mais difícil para aqueles assegurar a heg<strong>em</strong>onia<br />

sobre a Grécia. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Nep. Alc. 10. 12; Lewis (1992: 369). <strong>Plutarco</strong> (Alc. 38. 6)<br />

aponta como outra causa possível para a perseguição que os Lace<strong>de</strong>mónios zeram a Alcibía<strong>de</strong>s<br />

a vonta<strong>de</strong> daqueles <strong>de</strong> agradar ao rei Ágis, que nunca perdoara ao <strong>ateniense</strong> o facto <strong>de</strong> ter<br />

engravidado a sua real esposa. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 246.<br />

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