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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Ora, é <strong>caso</strong> para armar que Péricles foi atacado por todas as frentes, pelos<br />

inimigos, pelo próprio lho (o mais penoso <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os ataques) e até pelo<br />

<strong>de</strong>stino, que, através da peste, <strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po lhe roubou muitos familiares<br />

(Per. 36. 6. 7). Não <strong>de</strong>ixa, por isso, <strong>de</strong> ser curioso chamar a atenção para uma<br />

outra frente: a do inimigo lace<strong>de</strong>mónio. De facto, a rivalida<strong>de</strong> entre Atenas<br />

e Esparta é im<strong>em</strong>orial (cf. supra p. 87), mas tornou-se particularmente acesa<br />

<strong>de</strong>pois que os Atenienses assumiram a heg<strong>em</strong>onia, outrora espartana, sobre<br />

a Grécia 213 . Persistiram, contudo, ligações profundas <strong>de</strong> cidadãos <strong>de</strong> Atenas<br />

(inclusive políticos, como Címon 214 ou Alcibía<strong>de</strong>s 215 ) com os da Lace<strong>de</strong>mónia.<br />

Péricles, responsável <strong>em</strong> larga escala pelo engran<strong>de</strong>cimento do império<br />

<strong>ateniense</strong>, também tinha amigos entre os adversários, nomeadamente o rei<br />

Arquidamo 216 , mas era um acérrimo opositor <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios. Essa sua<br />

oposição intransigente valeu-lhe uma tentativa <strong>de</strong> sabotag<strong>em</strong> política por parte<br />

daqueles que, além <strong>de</strong> recear<strong>em</strong> cada vez mais o po<strong>de</strong>rio <strong>de</strong> Atenas, se viam a<br />

braços com um Péricles que não aceitava ce<strong>de</strong>r a nenhuma das exigências feitas<br />

para evitar a guerra, para não abrir prece<strong>de</strong>ntes que fragilizass<strong>em</strong> a posição<br />

<strong>ateniense</strong>. Por isso, julgavam que a única maneira <strong>de</strong> reverter o impasse a que<br />

se havia chegado (e <strong>de</strong> neutralizar o perigo que Atenas constituía) passava<br />

por afastar o lho <strong>de</strong> Xantipo da cena política. Assim, ao se aperceber<strong>em</strong><br />

do momento <strong>de</strong> contestação que Péricles atravessava e <strong>de</strong> que havia muita<br />

oposição interna à sua perspetiva belicista, cheios <strong>de</strong> esperança, resolveram<br />

contribuir para o ataque ao estadista. Exortaram, então, os Atenienses a exigir<br />

a expiação do crime sacrílego <strong>de</strong> Cílon 217 (Per. 33. 1), no qual a família materna<br />

<strong>de</strong> Péricles estava envolvida.<br />

Ao contrário <strong>de</strong> todas as previsões, os Espartanos não foram b<strong>em</strong><br />

213 Sobre esta alteração <strong>de</strong> papéis, vi<strong>de</strong> supra p. 127.<br />

214 Vi<strong>de</strong> supra p. 202, nota 44.<br />

215 A proxenia que ligava Alcibía<strong>de</strong>s aos Lace<strong>de</strong>mónios é mencionada por <strong>Plutarco</strong> <strong>em</strong><br />

Nic. 9. 6 e <strong>em</strong> Alc. 14. 1 (que t<strong>em</strong> por fonte uc. 6. 89. 2): π<br />

Em Alc. 14. 9, po<strong>de</strong> ler-se também que o Alcmeónida, por ocasião<br />

da <strong>em</strong>baixada que se dirigira a Atenas para tentar nova conciliação com Nícias, promete<br />

aos Lace<strong>de</strong>mónios tudo fazer para lhes agradar. Sobre o papel <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s na falha <strong>de</strong>sta<br />

tentativa, vi<strong>de</strong> supra pp. 220-221. Sobre a , consult<strong>em</strong>-se Herman (1987); Gribble<br />

(1999: 82-89).<br />

216 Arquidamo II que reinou entre 469 e 427 a.C. Foi ele qu<strong>em</strong> comandou as invasões à<br />

Ática durante a Guerra do Peloponeso <strong>em</strong> 431, 430 e 428 a. C, pelo que o primeiro período da<br />

guerra recebe o seu nome. Cf. uc. 2. 10-12, 18-20.<br />

217 Este passo t<strong>em</strong> como fonte uc. 1. 126-127. Cílon, <strong>ateniense</strong> nobre e inuente, vencedor<br />

<strong>dos</strong> Jogos Olímpicos, <strong>caso</strong>u-se com a lha do tirano <strong>de</strong> Mégara. Quando, certa vez, consultou o<br />

oráculo <strong>de</strong> Delfos, convenceu-se <strong>de</strong> que <strong>de</strong>via tornar-se tirano <strong>em</strong> Atenas, ocupando a Acrópole.<br />

Falhada a tentativa – os Atenienses aperceb<strong>em</strong>-se e há um confronto –, Cílon foge com o irmão,<br />

mas os outros que o ajudaram são assassina<strong>dos</strong>, alguns <strong>dos</strong> quais no interior <strong>dos</strong> t<strong>em</strong>plos, pelo<br />

que se consi<strong>de</strong>rava que os assassinos tinham cometido sacrilégio contra os <strong>de</strong>uses. Exortar à<br />

exclusão <strong>dos</strong> que eram amaldiçoa<strong>dos</strong> por assassinar suplicantes <strong>de</strong>ve ter parecido uma excelente<br />

réplica àquela a que os Atenienses votaram os <strong>de</strong> Mégara por sacrilégio.<br />

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