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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

pelos tributos daqueles. E acrescentavam, como agravante, a transferência do<br />

fundo <strong>de</strong> Delos para a , a que se proce<strong>de</strong>ra com o argumento <strong>de</strong> que aqui<br />

estaria mais protegi<strong>dos</strong> <strong>de</strong> eventuais ataques bárbaros, mas que agora parecia<br />

a saque <strong>dos</strong> Atenienses 209 . É verda<strong>de</strong> que, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> política externa, as<br />

obras não terão sido uma opção muito feliz, pois <strong>de</strong>ram aos alia<strong>dos</strong> mais um<br />

argumento para a sua vitimização enquanto alvo <strong>de</strong> violência e tirania por<br />

parte do império <strong>ateniense</strong> 210 .<br />

Péricles, servindo-se <strong>dos</strong> seus dotes oratórios e da perspicácia e bom-senso<br />

que o caracterizavam, <strong>de</strong>smontou tais objeções: qu<strong>em</strong> recebe dinheiro pela<br />

prestação <strong>de</strong> um serviço – <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o forneça efetivamente e com qualida<strong>de</strong> –<br />

t<strong>em</strong> o direito <strong>de</strong> usar o dinheiro recebido a título <strong>de</strong> pagamento como b<strong>em</strong> lhe<br />

aprouver (Per. 12. 3-4). D<strong>em</strong>ais, conhecedor da vaida<strong>de</strong> <strong>ateniense</strong>, avançou a<br />

hipótese (quanto a nós, meramente retórica 211 ) <strong>de</strong> custear do seu bolso todas as<br />

<strong>de</strong>spesas e, consequent<strong>em</strong>ente, apenas fazer constar o seu nome das inscrições<br />

(Per. 14. 1-2). Diante <strong>de</strong>sta sábia posição radical, o povo assumiu as obras<br />

como suas e pôs termo a esta contestação 212 .<br />

209 A legislação sobre o tributo que os alia<strong>dos</strong> <strong>de</strong>viam aos Atenienses foi produzida por<br />

Aristi<strong>de</strong>s, cujo caráter justo e incorruptibilida<strong>de</strong> eram reconheci<strong>dos</strong> por to<strong>dos</strong> (Arist. 24).<br />

Inicialmente, o tesouro constituído pelos tributos <strong>dos</strong> diversos m<strong>em</strong>bros da Simaquia <strong>de</strong> Delos<br />

encontrava-se <strong>de</strong>positado na ilha que dá nome à coligação. Foi transferido para Atenas por volta<br />

do ano 453 a.C., sob o pretexto <strong>de</strong> que <strong>em</strong> Delos estaria mais exposto a um hipotético saque<br />

bárbaro. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Pritchett (1969: 17-21). Embora não o mencione na Vida <strong>de</strong><br />

Péricles, <strong>em</strong> Nic. 24. 3-5, o biógrafo conta-nos que o lho <strong>de</strong> Xantipo proce<strong>de</strong>u a um aumento<br />

do tributo, que, após a sua morte, foi agravado pelos <strong>de</strong>magogos.<br />

210 Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser interessante recordar que, <strong>de</strong> acordo com os test<strong>em</strong>unhos que chegaram<br />

até nós (nomeadamente uc. 1), quando a crispação entre Atenas e os alia<strong>dos</strong> sobe <strong>de</strong> tom antes<br />

do <strong>de</strong>agrar da Guerra do Peloponeso, ninguém se queixa da violência que as obras (segundo<br />

Per. 12. 2) terão constituído. Os inimigos <strong>de</strong> Péricles chegaram a armar que, por causa das<br />

obras, os alia<strong>dos</strong> (força<strong>dos</strong> a contribuir para a guerra) acusavam Atenas <strong>de</strong> ser uma «mulher<br />

vai<strong>dos</strong>a», que gosta <strong>de</strong> se <strong>em</strong>belezar e adornar <strong>de</strong> ouro. Esta visão da toda po<strong>de</strong>rosa Atenas<br />

como entida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina sugeriu-nos três reexões. Por mais que agisse como uma mulher <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong>, a não <strong>de</strong>scurava as suas responsabilida<strong>de</strong>s viris, isto é, as ações políticas<br />

e militares que lhe permitiam controlar inimigos e alia<strong>dos</strong>. Por outro lado, o povo, que, <strong>de</strong><br />

início, tanto critica o <strong>em</strong>belezamento <strong>de</strong> Atenas enquanto traço <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, partilha com<br />

ela um t<strong>em</strong>peramento próprio <strong>de</strong> mulher: vive feliz se adulado; torna-se furioso e vingativo se<br />

contrariado. Destas duas reexões baseadas <strong>em</strong> Per. 12. 2, <strong>de</strong>corre a terceira: esta Atenas, que<br />

parece oscilar entre f<strong>em</strong>inino e masculino, terá a sua representação máxima <strong>em</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, que<br />

fun<strong>de</strong> como nenhum outro as oscilações próprias <strong>de</strong> Ares e Afrodite.<br />

211 <strong>Plutarco</strong>, por seu turno, aponta como causas da mudança <strong>de</strong> posição do povo quer a<br />

vaida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> Atenienses, quer o reconhecimento e admiração <strong>de</strong>stes pela gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> alma <strong>de</strong><br />

Péricles. Não <strong>de</strong>ixa também <strong>de</strong> ser notável o facto <strong>de</strong> Péricles, «injustamente» acusado <strong>de</strong> gastar<br />

os fun<strong>dos</strong> para <strong>em</strong>belezar Atenas, não se propor suspen<strong>de</strong>r a obras, mas antes continuá-las com<br />

o seu próprio dinheiro. Esta opção revela não só um profundo conhecimento do povo, mas<br />

sobretudo que ele não era <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> interromper o que <strong>de</strong> bom estava a fazer pela cida<strong>de</strong> apenas<br />

para ce<strong>de</strong>r a um capricho da população.<br />

212 Segundo Moralia 813A, é muitas vezes por mera animosida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>sconança para com<br />

os políticos que o povo consi<strong>de</strong>ra controversas e rejeita muitas medidas úteis.<br />

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