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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

das tropas, uma vez que combatia contra inimigos profusamente nancia<strong>dos</strong><br />

pelo Rei, o general viu-se obrigado a ir angariá-lo 203 . Na sua ausência, <strong>de</strong>legou<br />

o comando ao amigo Antíoco, que, por não cumprir as suas or<strong>de</strong>ns 204 , provocou<br />

a <strong>de</strong>rrota <strong>dos</strong> Atenienses, <strong>em</strong> Nócio no ano <strong>de</strong> 406 a. C 205 . Estes, <strong>de</strong>vido ao<br />

caráter esbanjador <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s 206 e à má fama que foi construindo ao longo da<br />

vida, <strong>de</strong>ram novamente crédito às acusações <strong>dos</strong> inimigos (que até já estavam<br />

instala<strong>dos</strong> no campo <strong>de</strong> batalha) e afastaram-no <strong>de</strong>nitivamente do comando<br />

do exército (Alc. 35-36). Eis um <strong>dos</strong> poucos momentos <strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong> se<br />

põe ao lado <strong>de</strong>ste Alcmeónida: consi<strong>de</strong>ra-o vítima da sua fama, da pouca<br />

compreensão <strong>dos</strong> Atenienses, da irresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Antíoco e do conluio<br />

<strong>dos</strong> inimigos para arrasar<strong>em</strong> <strong>de</strong> vez a sua aura junto do povo 207 .<br />

O facto <strong>de</strong> Atenas dispor <strong>de</strong> dinheiro para a execução das obras <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>belezamento não impediu que os inimigos (ainda no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que<br />

Tucídi<strong>de</strong>s, lho <strong>de</strong> Melésio, representava a oposição) criticass<strong>em</strong> duramente<br />

a estratégia <strong>de</strong> Péricles 208 . Alegavam que essa medida indispunha os alia<strong>dos</strong><br />

contra Atenas, por estar a ser gasto dinheiro oriundo do fundo constituído<br />

203 Segundo Alc. 35. 5, enquanto Lisandro, o comandante das tropas inimigas sobre o qual<br />

<strong>Plutarco</strong> também redigiu uma biograa, aumentou o salário <strong>dos</strong> solda<strong>dos</strong> <strong>de</strong> três para quatro<br />

óbolos, Alcibía<strong>de</strong>s pagava a custo os três que <strong>de</strong>via a cada um <strong>dos</strong> seus homens. <strong>Plutarco</strong> é o<br />

único autor a justicar a ausência <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s com este argumento. Para possíveis explicações<br />

para esta situação, consulte-se Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2005: 141-150). De acordo com Xenofonte (HG 1. 5.<br />

11) e D. S. 13. 71. 1, o motivo da ausência <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s foi outro, respetivamente uma reunião<br />

com Trasíbulo (que estava a construir uma muralha <strong>em</strong> redor <strong>de</strong> Foceia) e uma reunião <strong>em</strong><br />

Clazómenas (que estava a ser saqueada por uns <strong>de</strong>sterra<strong>dos</strong>).<br />

204 Sobre Antíoco, vi<strong>de</strong> p. 197, nota 23. Este episódio também é narrado por X. HG. 1. 5.<br />

11-15 e D. S. 13. 71. Alcibía<strong>de</strong>s or<strong>de</strong>nara expressamente ao amigo que, mesmo se provocado<br />

pelo inimigo, não participasse <strong>em</strong> nenhum combate naval. Qual fanfarrão, Antíoco, que, apesar<br />

<strong>de</strong> bom piloto, era, nas palavras <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, um <strong>hom<strong>em</strong></strong> «estúpido e comum», fez exatamente o<br />

contrário do que Alcibía<strong>de</strong>s dissera, colocando o amigo <strong>em</strong> apuros, já que foi responsabilizado<br />

pela <strong>de</strong>rrota. Este <strong>caso</strong> conrma a i<strong>de</strong>ia – que já mencionámos supra p. 243, nota 155: os amigos<br />

e familiares próximos são, não poucas vezes, mais perigosos que o inimigo. D<strong>em</strong>ais, a <strong>de</strong>legação<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>res <strong>em</strong> Antíoco sugere uma <strong>de</strong> duas verda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> relação a Alcibía<strong>de</strong>s: ou era ingénuo<br />

a ponto <strong>de</strong> conar no amigo ou a situação nanceira do exército estava realmente muito má.<br />

205 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 353); Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong> (2005: 178).<br />

206 Apesar <strong>de</strong> ser amigo <strong>de</strong> gastar, <strong>em</strong> nenhum momento <strong>Plutarco</strong> sugere que Alcibía<strong>de</strong>s<br />

tivesse cedido ao dinheiro, isto é, que se tivesse <strong>de</strong>ixado corromper. Os únicos argumentos que<br />

o faziam vacilar e inuenciavam o seu comportamento eram a lisonja e a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser o<br />

primeiro. É nesse sentido que Nícias acusa o jov<strong>em</strong> <strong>de</strong> se lançar na expedição à Sicília por<br />

interesses pessoais e ambição (Nic. 12. 4). O comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s que mais se aproxima<br />

<strong>de</strong> corrupção é o <strong>de</strong> abuso <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a que já nos referimos (supra p. 221, nota 53), pois, ao que<br />

parece, servia-se <strong>de</strong> bens do <strong>Estado</strong> como se foss<strong>em</strong> seus.<br />

207 Retomar<strong>em</strong>os este assunto mais à frente.<br />

208 A opção pelas obras <strong>de</strong>u azo ao único gran<strong>de</strong> momento <strong>de</strong> contestação <strong>de</strong> que Péricles foi<br />

vítima antes <strong>de</strong> o povo entrar <strong>em</strong> verda<strong>de</strong>iro conito com ele. Revela, no entanto, mais uma vez,<br />

a enorme perspicácia e capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> antecipação por que o estadista cou conhecido: as obras<br />

não só foram responsáveis pela resolução <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as no imediato (como a reconstrução da<br />

cida<strong>de</strong> e a ocupação <strong>dos</strong> Atenienses <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prega<strong>dos</strong> – como já vimos supra p. 223), mas também<br />

se tornaram na imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> marca do apogeu da civilização grega <strong>em</strong> geral.<br />

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