17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

magnicência 200 não foi feita a expensas próprias. Nisso Péricles foi afortunado,<br />

porque s<strong>em</strong>pre teve à sua disposição verba para levar a cabo os planos que tinha<br />

para Atenas 201 . O mesmo não se po<strong>de</strong> dizer <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s 202 que, no contexto<br />

<strong>de</strong> uma longa guerra, se foi <strong>de</strong>parando progressivamente com menos recursos.<br />

Foi a escassez do vil metal que, <strong>em</strong> última instância, azedou <strong>em</strong> <strong>de</strong>nitivo a<br />

relação <strong>de</strong>ste com o povo. Necessitado <strong>de</strong> meios para manter a produtivida<strong>de</strong><br />

facto aconteceu: se hoje, passa<strong>dos</strong> mais <strong>de</strong> vinte séculos, conseguimos vislumbrar a magnicência<br />

original <strong>dos</strong> monumentos – apesar das diversas vicissitu<strong>de</strong>s naturais e humanas por que já passaram<br />

–, qual não seria o seu esplendor no t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>? Stadter in Santoni (1991: 100) vê no<br />

elogio que o biógrafo pronuncia (Per. 12. 1) uma espécie <strong>de</strong> encorajamento aos cont<strong>em</strong>porâneos <strong>de</strong><br />

<strong>Plutarco</strong> – sobretudo os Romanos – que procuravam alcançar fama imortal com o nanciamento<br />

<strong>de</strong> obras públicas monumentais, como teatros e termas. Apesar da reconhecida rapi<strong>de</strong>z das obras,<br />

que caram prontas sob «o reinado» <strong>de</strong> Péricles» (do mesmo modo que o apogeu da cida<strong>de</strong><br />

coinci<strong>de</strong> praticamente com o período <strong>de</strong> vida do estadista), ainda houve qu<strong>em</strong> criticasse atrasos<br />

na sua execução. Como não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, trata-se da maledicência <strong>de</strong> um comediógrafo,<br />

Cratino, por causa da lentidão que caracterizou a construção da gran<strong>de</strong> muralha, que unia o Pireu<br />

diretamente a Atenas, paralela ao muro mais a norte, construído entre 445-443 a.C. As palavras<br />

<strong>de</strong> Cratino (fr. 326 K.-A:<br />

– ‘há t<strong>em</strong>pos innitos que Péricles, <strong>em</strong> palavras, é um vê se te avias, <strong>em</strong> obras n<strong>em</strong> se mexe’,<br />

po<strong>de</strong>riam ser aplicadas a qualquer político, já que têm fama <strong>de</strong> só prometer e não cumprir. No <strong>caso</strong><br />

concreto da muralha, contudo, foi a própria conjuntura que dicultou o seu avanço e não a inércia<br />

ou falta <strong>de</strong> palavra <strong>de</strong> Péricles. É que <strong>em</strong> 446 a.C. (as obras haviam começado no ano anterior),<br />

Atenas viu-se a braços com a crise política que levou à <strong>de</strong>stituição do lho <strong>de</strong> Xantipo, entrou <strong>em</strong><br />

guerra com Mégara e Eubeia, além <strong>de</strong> ter sido invadida pelos Lace<strong>de</strong>mónios… Sobre a lentidão<br />

das obras, vi<strong>de</strong> etiam Plu. Moralia 351A.<br />

200 Embora <strong>Plutarco</strong> não recorra a este termo n<strong>em</strong> faça uma caracterização direta relativamente<br />

a esta qualida<strong>de</strong>, a atuação <strong>de</strong> Péricles nestas circunstâncias faz l<strong>em</strong>brar a caracterização da<br />

magnicência – – proposta por Aristóteles <strong>em</strong> EN 1122b 6–10: <br />

<br />

<br />

O magnicente dispen<strong>de</strong>rá tais somas por uma boa<br />

causa: é que isso é comum às virtu<strong>de</strong>s. E além disso, fá-lo-á com alegria e prodigalida<strong>de</strong>, pois a<br />

parcimónia é mesquinha. E reetirá sobre como obter o melhor e o mais conveniente, mais do<br />

que sobre o preço e do que sobre o como pagar o menos possível.’<br />

201 Foi Isócrates (15. 234) que atribuiu as construções do século V a.C. à responsabilida<strong>de</strong><br />

individual <strong>de</strong> Péricles, que interpreta como manifestação da vonta<strong>de</strong> imperialista <strong>de</strong> Atenas (7. 66).<br />

202 O nome <strong>de</strong>ste Alcmeónida também surge associado a uma obra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> envergadura:<br />

a construção da muralha que ligava Argos a Atenas, por ele proposta quando ajudou esta cida<strong>de</strong><br />

aliada a repor o regime <strong>de</strong>mocrático (Alc. 15. 4-5). Nessa ocasião, Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong>slocou <strong>de</strong> Atenas<br />

para Argos um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> artíces (nomeadamente carpinteiros e canteiros), gerando<br />

uma ativida<strong>de</strong> que, mutatis mutandis, nos faz pensar nas obras <strong>de</strong> Péricles. Cf. uc.5. 82. 2-6;<br />

Romilly (1961: 169, n.3). , n. 3; Lewis (1992: 278). Também convenceu os habitantes <strong>de</strong> Patras<br />

a construir um muro s<strong>em</strong>elhante, apesar <strong>de</strong> estes ter<strong>em</strong> sido alerta<strong>dos</strong> para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

vir<strong>em</strong> a ser «<strong>de</strong>vora<strong>dos</strong>» pelos Atenienses. Para tal, argumentou que estes podiam até <strong>de</strong>vorá-los,<br />

mas fá-lo-iam <strong>de</strong> um modo mais lento do que os Lace<strong>de</strong>mónios <strong>em</strong> iguais circunstâncias (Alc.<br />

15. 6; uc. 5. 52. 2). Esta anedota sugere que o tratamento <strong>dos</strong> Espartanos para com os venci<strong>dos</strong><br />

era muito mais cruel que o <strong>dos</strong> Atenienses, uma i<strong>de</strong>ia que po<strong>de</strong>mos comprovar não só pela<br />

forma excessiva como os Lace<strong>de</strong>mónios se comportam na sequência da vitória <strong>de</strong> Egospótamo,<br />

como pela <strong>de</strong>scrição da atitu<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rada que os Atenienses adotam na maior parte das vezes<br />

para com os venci<strong>dos</strong> (pp. 129-130, 270).<br />

254

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!