O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
Péricles abordara com sucesso Cleândridas 188 , tutor do jov<strong>em</strong> rei Plistóanax 189 ,<br />
no sentido <strong>de</strong> retirar as tropas peloponésias da Ática. Em Per. 23. 1-2, alu<strong>de</strong><br />
à apresentação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>spesa anual <strong>de</strong> <strong>de</strong>z talentos, jamais especicada pelo<br />
estadista e nunca contestada pelos Atenienses 190 , tal era a conança que o povo<br />
outrora nele <strong>de</strong>positava! Essa verba teria servido para, adiando o início da<br />
guerra, dar mais t<strong>em</strong>po ao estratego para preparar a sua tática 191 .<br />
A primeira gran<strong>de</strong> alusão à sua incorruptibilida<strong>de</strong> surge <strong>em</strong> Per. 15. 3 192 ,<br />
on<strong>de</strong> se arma com todas as letras que era<br />
<br />
188 Era provavelmente um éforo (cf. Suda, s. u. ) que lutara com Terina (Polyaen. 2. 10. 1) e<br />
Tégea (Polyaen. 2. 10. 3). Após o <strong>de</strong>sterro a que <strong>Plutarco</strong> alu<strong>de</strong> <strong>em</strong> Per. 22. 3, participou na fundação<br />
<strong>de</strong> Túrios (Polyaen. 2. 10.), on<strong>de</strong> viveu exilado e cou famoso como general (cf. D. S. 13. 106. 10;<br />
Antioch. Hist. FGrHist 555 F 11; uc. 6. 93. 2; Polyaen. 2. 10). O suborno <strong>de</strong> Cleândridas (cf. D. S.<br />
13. 106. 10) é apontado como causa da retirada espartana <strong>em</strong> uc. 2. 21. 1, 5. 16. 3. Éforo (FGrHist<br />
70 F 193) relaciona-o com os vinte talentos que faltavam nas contas apresentadas por Péricles (<strong>em</strong><br />
Per. 23. 1, o valor indicado é <strong>de</strong> apenas <strong>de</strong>z talentos). De acordo com Per. 22. 4, a tendência para<br />
o suborno e para a pouca serieda<strong>de</strong> nas relações com o dinheiro surge como um traço <strong>de</strong> caráter<br />
hereditário que Cleândridas partilha com o lho, Gilipo. Este, foi <strong>de</strong>sterrado porque, após a rendição<br />
<strong>dos</strong> Atenienses, roubou trinta <strong>dos</strong> mil talentos do saque que Lisandro lhe conara e escon<strong>de</strong>u-os<br />
<strong>de</strong>baixo do telhado da sua casa (cf. Plu. Lis. 16. 2-17; Nic. 28. 4).<br />
189 Filho <strong>de</strong> Pausânias que reinou entre 458 e 408 a.C. (cf. D. S. 11. 88. 3). Por esta altura<br />
<strong>de</strong>via ser muito jov<strong>em</strong> – com cerca <strong>de</strong> vinte e cinco ou trinta anos – já que <strong>Plutarco</strong> salienta a<br />
sua juventu<strong>de</strong>. Depois do fracasso <strong>de</strong>sta expedição, refugiou-se no santuário <strong>de</strong> Zeus Liceu, na<br />
fronteira com a Arcádia (cf. Per. 22. 3). Foi-lhe permitido regressar a Esparta e ao trono <strong>em</strong> 427<br />
a.C., após a morte <strong>de</strong> Arquidamo, e por inuência <strong>de</strong> um oráculo pítico – vi<strong>de</strong> Lewis (1992:<br />
226). Segundo Tucídi<strong>de</strong>s (5. 16. 1-3), apoiou a Paz <strong>de</strong> Nícias <strong>em</strong> 421 a.C. e reinou até à sua<br />
morte <strong>em</strong> 408 a.C. Sobre a invasão li<strong>de</strong>rada por Plistóanax, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 90).<br />
190 Este episódio também é mencionado por Aristófanes <strong>em</strong> Nu. 858-859. Segundo o<br />
escoliasta <strong>de</strong>ste passo, que provavelmente se baseou <strong>em</strong> Éforo (FGrHist 70 F 193), a soma<br />
era <strong>de</strong> vinte talentos. Suda s. v. refere cinquenta talentos. É, porém, provável que <strong>Plutarco</strong><br />
apenas tivesse <strong>em</strong> mente a obra <strong>de</strong> Teofrasto intitulada , que abordava<br />
as diferentes respostas <strong>de</strong> um governante face a situações peculiares, ex<strong>em</strong>plicando com<br />
acontecimentos históricos, já que este episódio não é relatado <strong>em</strong> mais nenhuma parte – vi<strong>de</strong><br />
Stadter (1989: 230). No entanto, a reação <strong>dos</strong> Espartanos face ao comportamento <strong>de</strong> Plistóanax<br />
e Cleândridas não confere gran<strong>de</strong> veracida<strong>de</strong> ao test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Teofrasto: se não conseguiram<br />
admitir um suborno momentâneo, como iriam suportá-lo por <strong>de</strong>z anos?<br />
191 Sobre as qualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Péricles enquanto estratego, vi<strong>de</strong> infra p. 263 sqq.<br />
192 Este passo baseia-se <strong>em</strong> uc. 2. 65. 8:<br />
- ‘a razão era o po<strong>de</strong>r<br />
que lhe adveio da consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> que gozava e da capacida<strong>de</strong> intelectual que possuía, além <strong>de</strong><br />
ser extraordinariamente íntegro <strong>em</strong> questões <strong>de</strong> dinheiro (...)’. Também <strong>em</strong> uc. 2. 60. 5, durante<br />
o discurso que faz para acalmar a população encolerizada contra ele por causa da situação vivida,<br />
agravada pela epi<strong>de</strong>mia, Péricles diz que não é justa essa posição do povo, já que ele, entre outras<br />
coisas, não ce<strong>de</strong> ao dinheiro (). Péricles não foi o único político <strong>ateniense</strong> a<br />
possuir esta virtu<strong>de</strong>, que terá sido uma das principais razões que lhe valeu a boa relação que no<br />
geral manteve com o povo. Po<strong>de</strong>mos recordar, através do test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (para não nos<br />
alongarmos <strong>de</strong>masiado), por ex<strong>em</strong>plo, Aristi<strong>de</strong>s que, não só não se <strong>de</strong>ixava corromper, como ainda<br />
<strong>de</strong>nunciava aqueles que não resistiam à tentação, como T<strong>em</strong>ístocles (Arist. 3. 4, 4. 3, 5. 6, <strong>em</strong>. 21).<br />
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