17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

assunto, diz que o seu tutor não <strong>de</strong>via pensar na forma <strong>de</strong> apresentar as contas<br />

e sim <strong>em</strong> como não fazê-lo.<br />

A maneira <strong>de</strong> ser que tal sugestão revela é diametralmente oposta<br />

à <strong>de</strong> Péricles e <strong>de</strong>monstra não só o à-vonta<strong>de</strong> com que Alcibía<strong>de</strong>s gere as<br />

mais diversas situações, mas sobretudo o <strong>de</strong>srespeito para com os outros,<br />

nomeadamente para com as massas. Só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se ter visto <strong>em</strong> apuros<br />

(isto é, após o regresso do exílio) é que parece ter começado a agir com mais<br />

cuidado e consi<strong>de</strong>ração. Péricles, que estava <strong>em</strong> uma posição <strong>de</strong>licada – ainda<br />

que, como sugere <strong>Plutarco</strong>, estivesse inocente –, sentia-se (segundo a anedota)<br />

obrigado (pela sua prudência, pela sua fama <strong>de</strong> incorruptibilida<strong>de</strong>, pelo seu<br />

bom nome e até para evitar dar mais argumentos aos seus <strong>de</strong>tratores) a ter o<br />

único comportamento digno <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> caráter, que não t<strong>em</strong> quaisquer<br />

probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> prestar contas das suas ações.<br />

Note-se, contudo, que <strong>Plutarco</strong> não menciona, na Vida <strong>de</strong> Péricles, <strong>de</strong> que<br />

modo se resolveu este probl<strong>em</strong>a, que test<strong>em</strong>unhos diversos apontam como<br />

um <strong>dos</strong> motivos que o terá levado a iniciar a Guerra do Peloponeso 186 . Tal<br />

«esquecimento» po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ver-se a dois fatores: por um lado, a inocência <strong>de</strong><br />

Péricles, cuja idoneida<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> tantas vezes enalteceu; por outro, exatamente<br />

o facto <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>dicado sobretudo o capítulo 16 ao elogio da relação <strong>de</strong> rigor<br />

que o estadista mantinha com o dinheiro, quer o público, quer o seu próprio<br />

(ou seja, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tanto <strong>de</strong>senvolver o t<strong>em</strong>a, não valia a pena per<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>po a<br />

tentar ilibar o político <strong>de</strong> mais uma acusação infundada).<br />

No entanto, se Péricles vivesse nos dias <strong>de</strong> hoje não seria consi<strong>de</strong>rado tão<br />

honesto como naquele t<strong>em</strong>po, porque agora faz<strong>em</strong>os distinção entre corrupção<br />

passiva e ativa. E, se, relativamente ao primeiro tipo <strong>de</strong> corrupção, a sua folha<br />

<strong>de</strong> serviço não registava qualquer noticação 187 , o mesmo não se po<strong>de</strong> dizer<br />

do segundo. De facto, o lho <strong>de</strong> Xantipo não se coibia <strong>de</strong> oferecer dinheiro<br />

a qu<strong>em</strong> estivesse disposto a fazer cedências que o auxiliass<strong>em</strong> na prossecução<br />

<strong>dos</strong> planos que tinha para a . Em Per. 22. 2, o biógrafo menciona que<br />

186 O estratego, seguindo o conselho <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, terá dado início à guerra (D. S. 12. 38.<br />

3-4 e 39. 3; Aristo<strong>de</strong>m., FGrHist 104 F 16 e V. Max. 3. 1).<br />

187 Se alguma noticação tivesse, seria uma menção honrosa. De facto, <strong>Plutarco</strong> (Per. 25.<br />

2-3) menciona que, por ocasião da incursão <strong>de</strong> Atenas contra Samos, o lho <strong>de</strong> Xantipo foi, por<br />

três vezes, tentado a alterar os seus planos <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> dinheiro: uma pelos reféns, outra pelos<br />

que não queriam a <strong>de</strong>mocracia na cida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira pelo persa Pissutnes, amigo <strong>dos</strong> Sâmios.<br />

Ao referir estas tentativas <strong>de</strong> suborno, o biógrafo foge ao texto <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s, que nada diz a esse<br />

respeito. Ao que parece, era até normal tentar dar dinheiro <strong>em</strong> troca <strong>de</strong> reféns. Outras fontes,<br />

no entanto, não apoiam <strong>de</strong> forma tão evi<strong>de</strong>nte a incorruptibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles. Diodoro Sículo<br />

(12. 27. 2), por ex<strong>em</strong>plo, diz que recebeu oitenta talentos <strong>dos</strong> Sâmios e que enviou para L<strong>em</strong>nos<br />

oitenta crianças.<br />

250

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!