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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

De igual modo, a atitu<strong>de</strong> <strong>dos</strong> Alcmeónidas para com amigos e familiares<br />

ataca<strong>dos</strong> por causa <strong>de</strong>les é diferente. Péricles tudo fez para ilibá-los, ou pelo<br />

menos para protegê-los das consequências das acusações <strong>de</strong> que foram alvo<br />

(mostrou a Fídias como provar a inocência; <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u Aspásia <strong>em</strong> tribunal;<br />

«exilou», ele próprio, Anaxágoras). Alcibía<strong>de</strong>s, porém, limitou-se, <strong>em</strong> um<br />

primeiro momento, a fugir, t<strong>em</strong>endo pela própria segurança. E, por certo, o<br />

seu plano <strong>de</strong> vingança <strong>em</strong> Esparta não terá contribuído para que as condições<br />

<strong>de</strong> vida daqueles que sofriam represálias no seu lugar foss<strong>em</strong> melhoradas… Tal<br />

postura não nos <strong>de</strong>ve causar muita surpresa, porquanto, <strong>em</strong> Alc. 12, o biógrafo<br />

refere um boato, segundo o qual o jov<strong>em</strong> Alcmeónida era acusado <strong>de</strong> trair um<br />

amigo para alcançar a vitória nos Jogos Olímpicos 182 .<br />

Uma vez iniciado o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sacreditação do estadista, o povo e os seus<br />

<strong>de</strong>tratores encontram s<strong>em</strong>pre novos motivos <strong>de</strong> crítica. <strong>Plutarco</strong> t<strong>em</strong> uma frase<br />

bastante sugestiva da disposição popular naquele momento e que vai ao encontro<br />

da maneira <strong>de</strong> ser das massas, que gostam <strong>de</strong> escândalos, mexericos e <strong>de</strong> ver a ruína<br />

<strong>de</strong> qu<strong>em</strong> está <strong>em</strong> posição superior: <br />

“o povo acolhia e aceitava este tipo <strong>de</strong> ataque” (Per. 32. 3).<br />

Para aproveitar este ambiente propício, os inimigos <strong>de</strong> Péricles resolveram<br />

ainda requerer a prestação <strong>de</strong> contas <strong>dos</strong> dinheiros públicos. Uma tal exigência<br />

supõe <strong>de</strong>sconança <strong>de</strong> malversação e reforça a acusação contra Fídias, que<br />

pretendia pôr <strong>em</strong> causa a serieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles no que toca a dinheiros. Somos<br />

leva<strong>dos</strong> a crer que, <strong>em</strong> outro contexto, com o povo sereno e <strong>de</strong> feição, nenhum<br />

Dracônti<strong>de</strong>s 183 n<strong>em</strong> nenhum Hágnon 184 se atreveriam a levantar s<strong>em</strong>elhante<br />

suspeita.<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso notar que, na Vida <strong>de</strong> Péricles, o biógrafo não<br />

faz qualquer comentário às reações do visado a propósito <strong>de</strong>sta acusação. No<br />

entanto, <strong>em</strong> Alc. 7. 3 conta uma anedota que está certamente relacionada com<br />

este episódio 185 : Alcibía<strong>de</strong>s, ao saber da preocupação <strong>de</strong> Péricles com este<br />

182 Vi<strong>de</strong> supra p. 197.<br />

183 Dracônti<strong>de</strong>s e o seu <strong>de</strong>creto são menciona<strong>dos</strong> apenas por <strong>Plutarco</strong>. Trata-se provavelmente<br />

do mesmo Dracônti<strong>de</strong>s que era epistastes da Boulê por altura da aprovação do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> Cálcis<br />

<strong>em</strong> 446-445 a.C. e do general que, <strong>em</strong> 433-432 a.C., acompanhou Glauco na expedição a<br />

Corcira. Segundo Meinhardt (1957: 61), a fonte <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> <strong>em</strong> relação a este assunto terá sido<br />

a coleção <strong>de</strong> <strong>de</strong>cretos <strong>de</strong> Crátero.<br />

184 Filho <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> nome Nícias, participou na Guerra <strong>de</strong> Samos, <strong>em</strong> 440 a.C., como<br />

estratego (uc. 1. 117). É comummente aceite como provável fundador <strong>de</strong> Anfípolis (uc. 4. 102.<br />

3, 5. 11. 1). Foi novamente estratego <strong>em</strong> 431 a.C. (por ocasião do cerco <strong>de</strong> Poti<strong>de</strong>ia – cf. uc. 2. 58)<br />

e <strong>em</strong> 429 a.C. (uc. 2. 95. 3). Participou na assinatura da Paz <strong>de</strong> Nícias (uc. 5. 19. 2, 5. 24. 1) e,<br />

<strong>em</strong> 413 a.C., foi eleito proboulos. Esta sua <strong>em</strong>enda ao <strong>de</strong>creto sugere que era apoiante <strong>de</strong> Péricles.<br />

185 Esta é também a posição <strong>de</strong> Stadter (1989: 301). Alguns autores i<strong>de</strong>nticam o processo<br />

<strong>em</strong> causa nesta anedota com o <strong>de</strong> 430 a.C., na sequência do qual Péricles foi <strong>de</strong>stituído – vi<strong>de</strong><br />

Gomme (1945-1956: II, 187). Frost (1964: 69-72) e Donnay (1968: 19-36) não aceitam esta<br />

interpretação, argumentando que a acusação <strong>de</strong> 430 a.C. dizia respeito a questões militares (para<br />

estes, o processo <strong>em</strong> causa data <strong>de</strong> 438-437 a.C.).<br />

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