O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />
o <strong>caso</strong> do lósofo, conhecido por «Inteligência», foi o menos «acutilante» ou o<br />
mais subtil, já que a moção 178 proposta por Diopites 179 contra to<strong>dos</strong> os que não<br />
acreditavam nos <strong>de</strong>uses ou ensinavam doutrinas sobre os fenómenos celestes,<br />
apesar <strong>de</strong> não visar um nome concreto, pretendia fazer recair as suspeitas <strong>de</strong> heresia<br />
sobre Anaxágoras e, consequent<strong>em</strong>ente, sobre Péricles. E o estadista, que já tinha<br />
probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> sobra, <strong>de</strong> sobreaviso por causa da con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Fídias e para tentar<br />
evitar <strong>em</strong>polamentos, envia Anaxágoras para fora da cida<strong>de</strong> 180 (Per. 32. 2).<br />
Também Alcibía<strong>de</strong>s (Alc. 20. 6) viu os seus familiares e amigos ser<strong>em</strong> alvo<br />
da perseguição popular, quando, ausente por causa da expedição à Sicília, os<br />
adversários tentaram a todo o custo incriminá-lo <strong>de</strong> conspiração revolucionária<br />
pela participação na <strong>de</strong>struição <strong>dos</strong> Hermes (supra p. 234, nota 124) 181 .<br />
Há uma gran<strong>de</strong> diferença entre os momentos que o povo, uma vez<br />
enfurecido, escolhe para «espetar o seu ferrão»nos amigos e familiares daqueles<br />
contra os quais a sua fúria se dirige, neste <strong>caso</strong>, Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s. Os <strong>de</strong><br />
Péricles são visa<strong>dos</strong> para <strong>de</strong>struir a imag<strong>em</strong> do estadista; os <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s,<br />
apenas são ataca<strong>dos</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> este ter sido banido e con<strong>de</strong>nado à morte. É<br />
provável que tal discrepância se relacione com a diferença <strong>de</strong> caráter <strong>dos</strong> dois<br />
Alcmeónidas: o comportamento <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s era suciente para <strong>de</strong>struir a sua<br />
credibilida<strong>de</strong>, pelo que o ataque a familiares e amigos foi mais uma vingança<br />
pelo facto <strong>de</strong> não se ter conseguido tornar efetiva a acusação e con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong><br />
Alcibía<strong>de</strong>s (Alc. 20. 6). No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles, cujo comportamento era, <strong>de</strong> acordo<br />
com <strong>Plutarco</strong>, quase irrepreensível (Per. 10. 7), tornava-se necessário inventar<br />
argumentos para atingi-lo.<br />
nunca fez por se ro<strong>de</strong>ar <strong>de</strong> bons conselheiros; à sua volta só gravitavam interesseiros que o<br />
elogiavam constant<strong>em</strong>ente. Sobre a importância da amiza<strong>de</strong> entre governantes e lósofos, vi<strong>de</strong><br />
Pérez Jiménez (1988: 89-113).<br />
178 era um tipo <strong>de</strong> processo reservado para questões graves e urgentes que não<br />
admitiam atrasos. Inicialmente <strong>de</strong>corria no Areópago e, mais tar<strong>de</strong>, na Ecclesia ou na Boulê.<br />
Estas, se necessário, po<strong>de</strong>riam r<strong>em</strong>etê-lo para os tribunais da Helieia.<br />
179 Adivinho que os comediógrafos (e.g. Ar. Eq. 1085, V. 380, Av. 88) ridicularizavam com<br />
bastante frequência pelo seu fanatismo, pelo que se compreen<strong>de</strong> que fosse contra uma interpretação<br />
racional <strong>dos</strong> fenómenos naturais. Segundo Aristófanes ( Eq. 1085), foi companheiro <strong>de</strong> Nícias, o<br />
que, por si só, não permite consi<strong>de</strong>rá-lo um extr<strong>em</strong>ista <strong>de</strong> direita. Era sobretudo um oportunista,<br />
que aproveitava as superstições <strong>dos</strong> Atenienses nas suas intervenções políticas.<br />
180 Segundo Diodoro Sículo (12. 39. 2), Anaxágoras foi acusado <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong> e, <strong>em</strong> Plu.<br />
Nic. 23. 4, diz-se que chegou a estar preso. Note-se que o biógrafo aborda este processo s<strong>em</strong><br />
se alongar <strong>em</strong> pormenores, apesar da existência <strong>de</strong> algumas fontes sobre o t<strong>em</strong>a. É provável<br />
que isso aconteça ou por consi<strong>de</strong>rar este ataque o menos grave, ou para avançar para as outras<br />
investidas <strong>de</strong> que Péricles foi vítima. Sobre a data <strong>de</strong>ste processo e outras fontes que <strong>Plutarco</strong><br />
certamente conhecia, mas cuja informação não aproveitou, vi<strong>de</strong> Stadter (1989: 298-230).<br />
181 Trata-se, na verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> um comportamento que r<strong>em</strong>onta aos primórdios da fundação <strong>de</strong><br />
Atenas. <strong>Plutarco</strong> não <strong>de</strong>senvolve o t<strong>em</strong>a, mas <strong>de</strong>ixa a sugestão <strong>de</strong> que os amigos <strong>de</strong> Teseu também<br />
foram persegui<strong>dos</strong>, pois arma que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido libertado e <strong>de</strong> ter regressado a Atenas, aqueles<br />
ainda não tinham sido <strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong> por completo (es. 35. 3). Depois <strong>de</strong> ter sido <strong>de</strong>nitivamente<br />
afastado do comando da cida<strong>de</strong>, o fundador também teve a preocupação <strong>de</strong> encontrar um local<br />
<strong>de</strong> exílio para os lhos, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rmos concluir que também eles corriam perigo (es. 35. 5).<br />
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