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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

e contra a criação <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> Pirilampes, também amigo <strong>de</strong> Péricles, que era<br />

acusado <strong>de</strong> se servir <strong>dos</strong> pavões para subornar as mulheres com qu<strong>em</strong> Péricles<br />

andava metido.”<br />

Mais uma vez, as palavras do biógrafo revelam o pouco crédito que tais<br />

insinuações lhe merec<strong>em</strong>. Mas, a b<strong>em</strong> ver, a menção a essas acusações prévias à<br />

<strong>de</strong> Aspásia funcionam, da parte do Queroneu, como uma estratégia atenuante,<br />

na medida <strong>em</strong> que mostra que havia um historial <strong>de</strong> acusações infundadas<br />

nesse sentido. A própria reação <strong>de</strong> Péricles diante <strong>dos</strong> juízes, por ocasião<br />

do julgamento daquela, insinua o amor que os unia: trata-se da primeira<br />

vez <strong>em</strong> que o lho <strong>de</strong> Xantipo <strong>de</strong>ixa transparecer <strong>em</strong> público sentimentos<br />

<strong>de</strong> cariz privado, algo que só ocorre <strong>em</strong> momentos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> sofrimento (o<br />

outro foi a morte do seu último lho legítimo, vítima da peste 175 ). Note-se,<br />

no entanto, que estas não são (provavelmente) as lágrimas 176 <strong>de</strong> suborno do<br />

político po<strong>de</strong>roso que procura inuenciar o veredito <strong>dos</strong> juízes para salvar a sua<br />

amada, mas a reação do <strong>de</strong>fensor <strong>de</strong> Aspásia. Segundo Montuori (1981: 93),<br />

como aquela era meteca, é muito provável que, por altura da sua chegada <strong>de</strong><br />

Mileto, Péricles tivesse assumido as funções <strong>de</strong> seu representante ()<br />

e consequent<strong>em</strong>ente a responsabilida<strong>de</strong> pela sua conduta moral e civil.<br />

Aspásia, enquanto mulher da vida <strong>de</strong> Péricles (se, como <strong>Plutarco</strong>, não<br />

valorizarmos as referências a outros <strong>caso</strong>s amorosos do político) é também<br />

uma marca <strong>de</strong> distinção entre ele e Alcibía<strong>de</strong>s. Péricles escolhe uma mulher<br />

que, segundo as fontes, era uma sua igual, uma mulher com cérebro, algo não<br />

muito apreciado na altura (Per. 24. 5-7; supra p. 241, nota 149 e infra p. 271<br />

sqq). Alcibía<strong>de</strong>s, por sua vez, tinha mulheres que cuidavam <strong>de</strong>le, do seu b<strong>em</strong><br />

estar, mas que não eram verda<strong>de</strong>iramente a sua «cara-meta<strong>de</strong>». Disso são<br />

ex<strong>em</strong>plo a esposa legítima e a concubina que assistiu à sua morte.<br />

Quase <strong>em</strong> simultâneo, também o seu gran<strong>de</strong> mestre e conselheiro,<br />

Anaxágoras 177 , é atingido pelas investidas contra Péricles. Po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que<br />

175 Per. 36. 9.<br />

176 Per. 32. 5. <strong>Plutarco</strong> t<strong>em</strong> <strong>em</strong> Ateneu (589e) a sua fonte para atribuir esta informação a<br />

Ésquines, segundo o qual Péricles chorou mais por Aspásia do que nos momentos <strong>em</strong> que a sua<br />

vida ou riqueza correram perigo. Pouco se sabe acerca <strong>de</strong> Ésquines Socrático, natural <strong>de</strong> Esfeto,<br />

um <strong>dos</strong> <strong>de</strong>mos <strong>de</strong> Atenas. Escreveu alguns diálogos socráticos, <strong>dos</strong> quais conhec<strong>em</strong>os sete títulos<br />

– Aspásia, Alcibía<strong>de</strong>s, Cálias, Axíoco, Milcía<strong>de</strong>s, Rinon e Telauges – e foi, <strong>de</strong>ntre os amigos mais<br />

próximos <strong>de</strong> Sócrates, um <strong>dos</strong> poucos a estar com ele durante as horas que antece<strong>de</strong>ram a sua<br />

morte. Vi<strong>de</strong> Guthrie (1969: III, passim).<br />

177 Nos Moralia (e na senda do que Platão arma na República), o biógrafo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a<br />

importância <strong>de</strong>sse convívio para ajudar à evolução do povo (cf. supra p. 178, nota 79). Um <strong>dos</strong><br />

muitos motivos responsáveis pelo gran<strong>de</strong> apreço que <strong>Plutarco</strong> nutria por Péricles é precisamente<br />

a relação <strong>de</strong>ste com o lósofo Anaxágoras. Também o lho <strong>de</strong> Xantipo consi<strong>de</strong>rava essa<br />

ligação importante, não só pela amiza<strong>de</strong> que os unia, mas também por causa <strong>de</strong> aquele ser o<br />

seu principal conselheiro político (cf. Per. 16. 7, on<strong>de</strong> se relata a reação <strong>de</strong> Péricles ao tomar<br />

conhecimento <strong>de</strong> que Anaxágoras se preparava para morrer). Alcibía<strong>de</strong>s, à exceção <strong>de</strong> Sócrates,<br />

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