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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

E como a relação entre Péricles e Aspásia <strong>de</strong>u fruto, n<strong>em</strong> o lho bastardo<br />

<strong>de</strong> ambos é poupado. <strong>Plutarco</strong> (Per. 24. 10) evoca Êupolis, que, <strong>em</strong> uma<br />

comédia intitulada D<strong>em</strong>os (fr. 110 K.-A.), nos apresenta Péricles, na sua gura<br />

<strong>de</strong> pai zeloso, a perguntar pelo mais novo <strong>dos</strong> seus lhos 166 :<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

“«E o meu bastardo, está <strong>de</strong> boa saú<strong>de</strong>?»<br />

E Miróni<strong>de</strong>s respon<strong>de</strong>-lhe:<br />

«Está e <strong>de</strong> há muito seria um <strong>hom<strong>em</strong></strong> feito, se não o abalasse o raio da marafona.»”<br />

A resposta que a personag<strong>em</strong> obtém parece sugerir que Aspásia seria<br />

possivelmente uma má referência para a vida pública do lho, que não seria<br />

seguramente, segundo os cómicos, o único a sofrer a inuência nefasta daquela<br />

mulher…<br />

O amor <strong>de</strong> Péricles por este lho <strong>em</strong> particular, mas também por Páralo 167<br />

e Xantipo 168 (<strong>de</strong>monstrado pelo sofrimento que a morte <strong>de</strong>stes dois últimos lhe<br />

causou e pelo <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> fazer do bastardo legítimo 169 ) contrasta, mais uma<br />

166 O fruto do relacionamento <strong>de</strong> Péricles com Aspásia recebeu o nome do pai e <strong>de</strong>ve ter<br />

nascido por volta <strong>de</strong> 440 a.C. Em 406 a.C., foi um <strong>dos</strong> generais que participou na batalha <strong>de</strong><br />

Arginusas (arquipélago constituído por três pequenas ilhas a Sul <strong>de</strong> Lesbos), no nal da qual os<br />

Lace<strong>de</strong>mónios, comanda<strong>dos</strong> por Calicráti<strong>de</strong>s, foram <strong>de</strong>rrota<strong>dos</strong>. No entanto, uma t<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong><br />

que os apanhou <strong>de</strong> surpresa impediu que resgatass<strong>em</strong> e sepultass<strong>em</strong> os cadáveres. O povo,<br />

furioso, levou a tribunal os seis comandantes que regressaram e con<strong>de</strong>nou-os à morte (cf. X.<br />

HG 1. 6. 28).<br />

167 Recebeu o seu nome, como uma das duas trirr<strong>em</strong>es sagradas, do lho <strong>de</strong> Poséidon, herói<br />

<strong>de</strong> Atenas e protetor <strong>dos</strong> marinheiros (vi<strong>de</strong> supra p. 201, nota 41). Pouco se sabe a seu respeito.<br />

Cf. Pl. Prt. 315, 319e, 328c.<br />

168 Também ele lho da primeira esposa <strong>de</strong> Péricles, provavelmente nascido <strong>em</strong> 457 a.C. Era<br />

costume dar ao lho mais velho o nome do avô paterno.<br />

169 Cf. Per. 36 e 37. 2- 6, respetivamente. Péricles instou o povo a revogar uma lei contra<br />

os lhos ilegítimos, pela qual ele próprio pugnara <strong>em</strong> 451-450 a.C., durante o arcontado <strong>de</strong><br />

Antídoto (cf. Arist. Ath. 26. 4). Segundo essa lei, para que um lho fosse legítimo, ambos os pais<br />

teriam <strong>de</strong> ser cidadãos <strong>de</strong> Atenas. Para mais pormenores sobre as leis <strong>ateniense</strong>s que concern<strong>em</strong><br />

casamentos entre cidadãos e não cidadãos e também sobre lhos ilegítimos, veja-se Harrison<br />

(1968: 61-68). Segundo Aristóteles, a única fonte antiga a avançar com uma explicação, o que<br />

conduziu à aprovação <strong>de</strong>sta lei foi a dimensão excessiva do corpo <strong>de</strong> cidadãos (Ath. 26. 4; cf. Pol.<br />

1278a). Os estudiosos mo<strong>de</strong>rnos apresentam justicações várias (vi<strong>de</strong> Stadter: 1989: 334-335)<br />

, das quais po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar a <strong>de</strong> Jacoby (FGrHist 3B suppl., 1, 477-481) que acredita que<br />

Péricles tinha motivações políticas, que pretendia atacar os inimigos, nomeadamente Címon<br />

(cuja mãe não era <strong>ateniense</strong>). Mas esta não parece ser a melhor opção, pois esta lei não atingia<br />

Címon, por não ser retroativa. Sobre esta lei, vi<strong>de</strong> Lewis (1992: 101-102, 167-168). Em Alc. 17.<br />

6, <strong>Plutarco</strong> narra um episódio que se po<strong>de</strong> comparar a este, pois revela o cuidado <strong>dos</strong> pais com<br />

a proteção da <strong>de</strong>scendência. O astrónomo Menão, quando a partida para Siracusa se mostrou<br />

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