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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

casado, continuou a envolver-se <strong>de</strong>scaradamente com prostitutas nacionais<br />

e estrangeiras 161 ; <strong>em</strong> segundo, quando a mulher (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter saído <strong>de</strong> casa<br />

s<strong>em</strong> que aquele tivesse feito qualquer tentativa <strong>de</strong> reconciliação) se dispôs a ir<br />

pessoalmente pedir o divórcio 162 , aquele dirigiu-se ao tribunal para recuperá-la.<br />

Alcibía<strong>de</strong>s surge, <strong>de</strong> novo, como alguém que não respeita os sentimentos<br />

alheios. Não surpreen<strong>de</strong>, portanto, que, pouco <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> regressar a casa, a<br />

jov<strong>em</strong> Hipáreta tenha morrido…<br />

A relação extraconjugal <strong>de</strong> Péricles foi um ingrediente objetivo que<br />

maravilhou a criativida<strong>de</strong> <strong>dos</strong> poetas, que visavam o estadista através <strong>de</strong><br />

Aspásia. Um <strong>dos</strong> momentos <strong>em</strong> que po<strong>de</strong>mos vericá-lo é <strong>em</strong> Per. 24. 10<br />

(baseado <strong>em</strong> Cratino, fr. 259 K.-A.), on<strong>de</strong> surge como Hera 163 (já que Péricles<br />

é Zeus), lha da Impudicícia, e t<strong>em</strong> olhos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>la:<br />

244<br />

<br />

<br />

“A S<strong>em</strong>-Vergonhice dá à luz esta Hera, Aspásia, uma marafona <strong>de</strong> olhos <strong>de</strong><br />

ca<strong>de</strong>la.”<br />

Neste fragmento faz-se a genealogia <strong>de</strong> Aspásia 164 , transformando a<br />

normal conotação <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong> e nobreza do tom épico <strong>em</strong> vulgarida<strong>de</strong><br />

gritante. O epíteto homérico <strong>de</strong> Hera – – cujo signicado literal é «<strong>de</strong><br />

olhos <strong>de</strong> vaca», ao que parece, a simbolizar a gran<strong>de</strong>za <strong>dos</strong> olhos e a mansidão<br />

do olhar –, é adaptado para «olhos <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>la», transformando-se <strong>em</strong><br />

paradigma <strong>de</strong> s<strong>em</strong>-vergonhice, o que mostra b<strong>em</strong> que, pelo menos entre os<br />

comediógrafos, Aspásia não era muito b<strong>em</strong> vista 165 .<br />

161 <strong>Plutarco</strong> faz inclusive menção a relações <strong>de</strong> cariz homossexual e pe<strong>de</strong>rástico. Este assunto<br />

já foi abordado no capítulo <strong>de</strong>dicado ao ingresso na ativida<strong>de</strong> política, p. 187 sqq. Sobre os<br />

amores <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, leia-se Isoc. 16. 31 e Littman (1970: 263-276).<br />

162 Sobre o divórcio <strong>em</strong> Atenas, consult<strong>em</strong>-se, por ex<strong>em</strong>plo, Harrison (1968: 1-60);<br />

Modrzejewski (1979: 39-71) e Patterson (1991: 48-72).<br />

163 Cf. Per. 24. 9, baseado <strong>em</strong> a<strong>de</strong>sp. 704 K.-A.: <br />

«nas comédias aparece como uma nova Ônfale,<br />

Dejanira e como Hera».<br />

164 Tal como <strong>em</strong> Per. 3. 4, com base <strong>em</strong> um fragmento <strong>de</strong> Cratino (Quírones, fr. 258 K.-A.),<br />

se fazia a genealogia <strong>de</strong> Péricles (vi<strong>de</strong> supra p. 164).<br />

165 Havia qu<strong>em</strong> a admirasse e a consi<strong>de</strong>rasse uma gran<strong>de</strong> mestra <strong>de</strong> retórica. Disso nos dá<br />

test<strong>em</strong>unho Platão, que não a critica tão abertamente quanto os comediógrafos. Na sua perspetiva,<br />

tal como Péricles, ela teria forte aptidão para a arte <strong>dos</strong> discursos (cf. Mx. 235e, on<strong>de</strong> chega mesmo<br />

a dizer que teria sido Aspásia o mestre <strong>de</strong> Péricles nessa arte). Era por esse motivo que o próprio<br />

Sócrates a visitava, b<strong>em</strong> como outros companheiros, que chegavam a levar as esposas – apesar da<br />

má fama <strong>de</strong>sta Hera – para que se instruíss<strong>em</strong> na arte <strong>de</strong> b<strong>em</strong> falar. Isso é o que nos diz<strong>em</strong> Per.<br />

24. 5, 24. 7 com base no Menéxeno <strong>de</strong> Platão, diálogo segundo o qual, durante um encontro com<br />

Menéxeno, Sócrates recita uma oração fúnebre ctícia <strong>de</strong>stinada às celebrações públicas <strong>dos</strong> caí<strong>dos</strong><br />

<strong>em</strong> 386 a.C., na expedição à Sicília, e que teria sido escrita por Aspásia.

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