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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

precavido, o rol <strong>de</strong> acusações <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassidão sexual teria sido b<strong>em</strong> maior.<br />

Péricles, como se não lhe chegass<strong>em</strong> as investidas <strong>dos</strong> comediógrafos e inimigos<br />

políticos, foi alvo <strong>de</strong> insinuações <strong>de</strong>ste teor por parte do próprio primogénito,<br />

Xantipo, revoltado com a parcimónia com que o pai administrava a vida<br />

doméstica 155 . Acusou-o, por isso, segundo o test<strong>em</strong>unho <strong>de</strong> Estesímbroto 156 , <strong>de</strong><br />

se ter envolvido com a própria nora. <strong>Plutarco</strong> não se alonga <strong>em</strong> comentários<br />

sobre o <strong>caso</strong>, porque não lhe atribui qualquer veracida<strong>de</strong>, não só por acreditar<br />

na retidão <strong>de</strong> caráter do estadista, como também por causa do contexto <strong>em</strong> que<br />

a acusação é feita.<br />

Alcibía<strong>de</strong>s foi igualmente acusado por Antístenes (FGrHist 1004 F 5a-b)<br />

<strong>de</strong> manter relações incestuosas 157 com a mãe, com a irmã e com uma lha. Mas,<br />

<strong>em</strong>bora o biógrafo também não se alongue <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rações sobre o assunto,<br />

somos mais tenta<strong>dos</strong> a pôr <strong>em</strong> causa a inocência do lho <strong>de</strong> Dinómaca por<br />

causa do seu historial <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassidão.<br />

Concentr<strong>em</strong>o-nos, porém, <strong>de</strong> novo <strong>em</strong> Aspásia. e, já agora, também nas<br />

investidas <strong>dos</strong> comediógrafos a propósito <strong>dos</strong> amores <strong>de</strong> Péricles 158 .<br />

A única ligação extraconjugal que o nosso estadista seguramente manteve,<br />

pela qual pôs m ao seu casamento, foi a que o uniu a Aspásia. Neste <strong>caso</strong>, mais<br />

uma vez, t<strong>em</strong> um comportamento distinto do <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s: não se sentindo<br />

feliz no casamento que mantinha com a mãe <strong>dos</strong> lhos, Péricles entregou-a<br />

– <strong>de</strong> comum acordo – a outro 159 . Já Alcibía<strong>de</strong>s, que recebeu a mão da esposa<br />

(que lhe <strong>de</strong>dicava gran<strong>de</strong> afeição) <strong>em</strong> circunstâncias especialíssimas 160 , não<br />

soube respeitar os sentimentos daquela: <strong>em</strong> primeiro lugar, mesmo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

155 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra p. 253. A este propósito, é interessante recordar que<br />

Aristóteles (Pol. 1327b39) discorda do seu mestre, Platão, que, na República (375c), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que<br />

os guardiães se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> mostrar duros para com os <strong>de</strong>sconheci<strong>dos</strong> e amáveis para com conheci<strong>dos</strong>.<br />

É que o Estagirita tinha a noção <strong>de</strong> que é nos amigos e familiares contraria<strong>dos</strong> que têm orig<strong>em</strong><br />

os maiores ódios...<br />

156 FGrHist 107 F 11. Estesímbroto foi rapsodo, comentador <strong>dos</strong> Po<strong>em</strong>as Homéricos e,<br />

nos nais do século V, ensinou <strong>em</strong> Atenas como sosta. Escreveu uma obra intitulada <br />

, da qual apenas conhec<strong>em</strong>os fragmentos, que<br />

chegaram até nós por intermédio <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, on<strong>de</strong>, com recurso constante a anedotas, ataca<br />

esses políticos <strong>ateniense</strong>s. Cf. Hammond – Scullard (1992: 1013a ).<br />

157 Cf. Ath. 220c, 535c; Lys. 14. 41-42. Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s não foram os únicos acusa<strong>dos</strong><br />

<strong>de</strong> incesto. Também Címon o foi, como já referimos na página 241, nota 152.<br />

158 As que se refer<strong>em</strong> ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar da Guerra do Peloponeso serão abordadas mais à<br />

frente.<br />

159 Per. 24. 8. Não se sabe ao certo qu<strong>em</strong> foi a primeira esposa <strong>de</strong> Péricles. Bicknell (1972: 79)<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> tratar-se <strong>de</strong> uma irmã <strong>de</strong> Dinómaca, mãe <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. Já Cromey (1982: 203-212)<br />

admite que se trata da própria Dinómaca.<br />

160 Vi<strong>de</strong> supra p. 186, nota 106. Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso chamar a atenção para o contexto<br />

do tratamento do t<strong>em</strong>a casamento nas biograas <strong>dos</strong> Alcmeónidas: no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s,<br />

é mencionado logo no capítulo 8, pois v<strong>em</strong> a propósito <strong>dos</strong> muitos <strong>de</strong>vaneios do lho <strong>de</strong><br />

Dinómaca; no <strong>de</strong> Péricles, <strong>de</strong>corre da reexão sobre a inuência <strong>de</strong> Aspásia nas <strong>de</strong>cisões do<br />

estadista. Os diversos «<strong>caso</strong>s» que <strong>Plutarco</strong> t<strong>em</strong> como meras calúnias ocorr<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre que o<br />

contexto invoca ataques a Péricles.<br />

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