17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

que se serve <strong>dos</strong> test<strong>em</strong>unhos da comédia para nos revelar a dimensão do<br />

fenómeno, mas que também se recusa a atribuir gran<strong>de</strong> crédito às más línguas<br />

<strong>dos</strong> comediógrafos, pois reconhece a sátira à vida sexual <strong>dos</strong> indivíduos<br />

como el<strong>em</strong>ento tradicional da caricatura do político-tipo na comédia. Na<br />

verda<strong>de</strong>, da leitura <strong>de</strong>sta Vida camos com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o Queroneu não<br />

vê com bons olhos os comediógrafos, por consi<strong>de</strong>rar que são ten<strong>de</strong>nciosos e<br />

maledicentes. É por isso que con<strong>de</strong>na com frequência o constante levantar<br />

<strong>de</strong> falsos test<strong>em</strong>unhos que estes <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>m contra guras pro<strong>em</strong>inentes da<br />

socieda<strong>de</strong>, como Péricles 153 :<br />

242<br />

<br />

<br />

(Per. 13. 16)<br />

“porque há <strong>de</strong> alguém surpreen<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> que homens que levam a vida <strong>de</strong> sátiro<br />

sacriqu<strong>em</strong> constant<strong>em</strong>ente à inveja geral, como a uma divinda<strong>de</strong> malfazeja,<br />

calúnias contra qu<strong>em</strong> lhes é superior...”<br />

No entanto, vericamos que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> citá-los com frequência. Aliás,<br />

a Vida <strong>de</strong> Péricles é notável pelas abundantes citações <strong>de</strong> comédia. Não é<br />

difícil compreen<strong>de</strong>r este facto: por um lado, a comédia, tal como a biograa,<br />

t<strong>em</strong> objetivos pedagógicos e moralizantes, mas, para alcançá-los, serve-se do<br />

ataque e da crítica e não da admiração e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> imitação (isto é, a comédia<br />

preten<strong>de</strong> educar pela negativa, mostrando o que não se <strong>de</strong>ve fazer, e a biograa<br />

usa precisamente o método contrário). Por outro lado, tendo <strong>em</strong> conta que, a<br />

partir <strong>dos</strong> últimos anos do século V a.C., a comédia entra <strong>em</strong> uma segunda<br />

fase, menos <strong>em</strong>penhada <strong>em</strong> criticar diretamente a vida da e os seus<br />

governantes, é natural que, nas Vidas <strong>de</strong> personagens posteriores, seja citada<br />

com menor frequência (como acontece no <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s 154 ).<br />

Assim, camos com a impressão <strong>de</strong> que, se com todas as precauções que<br />

aparent<strong>em</strong>ente tomou, Péricles foi alvo <strong>de</strong> tantas intrigas, se não se tivesse<br />

no regresso <strong>de</strong> Címon do exílio. <strong>Plutarco</strong> fala-nos <strong>em</strong> «acordo secreto», o que nos faz pon<strong>de</strong>rar<br />

que esta anedota possa ser uma versão modicada <strong>de</strong> uma outra da autoria <strong>de</strong> Antístenes, autor<br />

que, entre outras alusões mordazes que faz à vida sexual <strong>de</strong> Péricles, arma que Elpinice teve<br />

<strong>de</strong> pagar o preço do regresso do irmão (Ath. 589e). Em Per. 10. 6, é mencionada a benevolência<br />

que Péricles teve para com Címon <strong>em</strong> uma ocasião <strong>em</strong> que este enfrentava uma acusação<br />

capital. Apesar <strong>de</strong> ter acolhido o pedido <strong>de</strong> Elpinice, o lho <strong>de</strong> Xantipo replicou-lhe que estava<br />

<strong>de</strong>masiado velha para se «meter <strong>em</strong> tais sarilhos».<br />

153 Alguns <strong>dos</strong> passos <strong>em</strong> que <strong>Plutarco</strong> os critica são Per. 13. 15 (sobre a hipotética ajuda<br />

que Péricles teria <strong>dos</strong> amigos para obter favores f<strong>em</strong>ininos) e Per. 16. 1 (sobre a forma como<br />

os cómicos ve<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Péricles). Esta <strong>de</strong>sconança relativamente aos cómicos, <strong>Plutarco</strong><br />

herda-a do seu mestre Platão.<br />

154 Alc. 1. 7-8, a propósito da sua pronúncia. Cf. supra p. 163.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!