O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />
A vítima que se seguiu a Fídias foi Aspásia 148 , acusada pelo comediógrafo<br />
Hermipo 149 <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong> 150 e <strong>de</strong> organizar encontros entre Péricles e mulheres<br />
livres, o que, segundo Stadter (1989: 297), sugere que esse recrutamento<br />
ocorreria no interior <strong>de</strong> santuários ou durante a celebração <strong>de</strong> ritos sagra<strong>dos</strong>,<br />
que lhe seriam interditos <strong>de</strong>vido à sua fama <strong>de</strong> prostituta e/ou proxeneta.<br />
Importa aqui abrir outro parêntesis para recordar a tradicional<br />
curiosida<strong>de</strong> do povo – intriguista por natureza – <strong>em</strong> relação à vida privada<br />
<strong>dos</strong> seus governantes. Foi o conhecimento <strong>de</strong>ste traço <strong>de</strong> caráter das massas<br />
que fez com que Péricles, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da sua carreira política, evitasse<br />
ter uma vida social agitada (ao contrário do que fez Alcibía<strong>de</strong>s que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />
a sua primeira intervenção pública, <strong>de</strong>monstrou ter consciência <strong>de</strong> que<br />
imiscuir político com privado diverte e agrada ao povo 151 ), como já vimos<br />
na página 200 sqq. Mas, apesar <strong>de</strong> to<strong>dos</strong> os cuida<strong>dos</strong>, ou porque realmente<br />
fosse verda<strong>de</strong> ou por mera tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>tração, o lho <strong>de</strong> Xantipo teve<br />
fama <strong>de</strong> manter várias relações extraconjugais 152 . Disso nos dá conta <strong>Plutarco</strong>,<br />
148 A extraordinária inuência que se atribui a Aspásia na socieda<strong>de</strong> <strong>ateniense</strong> fez com que<br />
fosse a mulher grega que melhor se conhece. No entanto, a informação <strong>de</strong> que dispomos é<br />
invariavelmente escassa e por vezes pouco <strong>de</strong>digna. As principais fontes sobre esta gura são<br />
as comédias e diálogos socráticos, nomeadamente as duas Aspásia <strong>de</strong> Ésquines Socrático e <strong>de</strong><br />
Antístenes e o Menéxeno <strong>de</strong> Platão. Importa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já l<strong>em</strong>brar que da mulher <strong>ateniense</strong> não se<br />
esperava um <strong>em</strong>penho ativo na vida pública; o próprio facto <strong>de</strong> se conversar ou beber com um<br />
<strong>hom<strong>em</strong></strong> era sinónimo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>vassa. Para um melhor conhecimento da situação da mulher na<br />
Grécia antiga, leiam-se, por ex<strong>em</strong>plo, Mossé (1983); Gomme (1937: 89-115).<br />
149 Hermipo foi um comediógrafo que obteve a sua primeira vitória nas Dionísias <strong>de</strong> 436-<br />
435 a.C. e outras quatro nas Leneias. Conheciam-se quarenta peças da sua autoria, das quais<br />
apenas onze títulos chegaram até nós. Os t<strong>em</strong>as aborda<strong>dos</strong> eram a política cont<strong>em</strong>porânea e a<br />
paródia <strong>de</strong> mitos e teorias losócas. Péricles não foi a única vítima <strong>dos</strong> seus ataques: Hipérbolo<br />
e talvez mesmo Alcibía<strong>de</strong>s sentiram na pele esse incómodo. A atribuição da autoria <strong>de</strong>sta<br />
acusação a Hermipo é talvez consequência <strong>dos</strong> frequentes ataques que fazia a Péricles nas suas<br />
comédias - cf. e. g. Montuori (1981: 92, nota 33). Em (430 a.C.), ataca violentamente o<br />
estadista pela sua estratégia na Guerra do Peloponeso (vi<strong>de</strong> Per. 33. 8).<br />
150 Esta informação surgia no diálogo Aspasia <strong>de</strong> Antístenes Socrático (cf. Ath. 589e; <br />
Ar. Eq. 969; Hermog. 7. 165 Walz). A historicida<strong>de</strong> da acusação <strong>de</strong> asebeia é negada por<br />
Montuori (1981: 87-109), nomeadamente porque Aspásia não era cidadã <strong>ateniense</strong>, logo não<br />
podia incorrer neste <strong>de</strong>lito. Sobre as ofensas que eram consi<strong>de</strong>radas asebeia, vi<strong>de</strong> MacDowell<br />
(1978: 197-200); sobre a veracida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta acusação, cf. Stadter (1989: 297).<br />
151 Vi<strong>de</strong> Salcedo Parrondo (2005: 179-186). Enquanto Alcibía<strong>de</strong>s se <strong>de</strong>ixa levar pelo clamor<br />
da multidão, Péricles refugia-se daquela na acrópole para meditar nos assuntos que o preocupam<br />
(Per. 3. 6).<br />
152 A fogosida<strong>de</strong> parece ser um atributo comum a diversos políticos <strong>ateniense</strong>s e r<strong>em</strong>onta a<br />
Teseu. Foi essa a principal razão que fez com que o povo, revoltado com o abandono a que foi<br />
sujeito, se tornasse inuenciável pelo nefasto <strong>de</strong>magogo, Menesteu (como já vimos supra pp.<br />
106-107). A título <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo, po<strong>de</strong>mos recordar igualmente o <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Címon, cuja fama <strong>de</strong><br />
mulherengo <strong>Plutarco</strong> recorda s<strong>em</strong> ro<strong>de</strong>ios. No rol das suas conquistas, incluía-se, segundo Cim.<br />
4. 6-10, a própria irmã, Elpinice, que também não seria muito séria… A i<strong>de</strong>ia da promiscuida<strong>de</strong><br />
da esposa <strong>de</strong> Cálias é atestada por duas anedotas (<strong>de</strong> conotação sexual evi<strong>de</strong>nte) que <strong>Plutarco</strong><br />
reproduz <strong>em</strong> Per. 10. 5-6, segundo as quais, pelo menos por duas vezes, Elpinice terá «comprado»<br />
junto <strong>de</strong> Péricles favores para o irmão. A que o biógrafo relata <strong>em</strong> primeiro lugar (10. 5) consiste<br />
241