17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

pelo seu comportamento <strong>de</strong> sicofanta 145 , <strong>de</strong>monstra que o povo já tinha o<br />

discernimento toldado pela e pela inveja. Uma vez na prisão, o escultor<br />

não haveria <strong>de</strong> viver por muito t<strong>em</strong>po, pois, consoante as versões, foi vítima <strong>de</strong><br />

uma doença ou envenenado pelos inimigos <strong>de</strong> Péricles, com intuito <strong>de</strong> fazer<br />

recair sobre o estadista novas calúnias e suspeitas 146 . Importa recordar que, antes<br />

<strong>de</strong>sta contestação generalizada, Péricles foi por diversas vezes atacado na sua<br />

honra. Uma das acusações que lhe foi imputada foi a <strong>de</strong> ter tido participação<br />

na morte <strong>de</strong> Ealtes, algo que, a ser verda<strong>de</strong>, faria <strong>de</strong>le um político calculista,<br />

que se livrava <strong>dos</strong> amigos quando estes <strong>de</strong>ixavam <strong>de</strong> lhe ser úteis e passavam a<br />

ser um risco para o seu po<strong>de</strong>rio. Esta possibilida<strong>de</strong> é ve<strong>em</strong>ent<strong>em</strong>ente criticada<br />

por <strong>Plutarco</strong>, que, apesar <strong>de</strong> reconhecer que, como qualquer mortal, Péricles<br />

não tinha um comportamento totalmente irrepreensível (Per. 10. 7), nega a<br />

acusação <strong>de</strong> Idomeneu 147 (FGrHist 338 F 8) e cita, <strong>em</strong> Per. 10. 8, Aristóteles<br />

(Ath. 25. 4), que atribui o crime a inimigos da vítima, na pessoa <strong>de</strong> Aristódico<br />

<strong>de</strong> Tanagra.<br />

FGrHist 328 F 121.<br />

145 Ménon teve, por <strong>de</strong>creto proposto por Glauco, direito ao perdão <strong>dos</strong> impostos e a<br />

seguranças, o que congura uma benesse excessiva, mesmo para a prática corrente <strong>em</strong> Atenas,<br />

já <strong>de</strong> si sedutora para os criminosos que queriam entregar os cúmplices. S<strong>em</strong>pre que um réu<br />

quisesse fornecer informações ao Conselho ou à Ass<strong>em</strong>bleia sobre um <strong>de</strong>lito, tinha direito<br />

a imunida<strong>de</strong> (), a menos que a acusação não tivesse fundamento – nesse <strong>caso</strong>, po<strong>de</strong>ria<br />

incorrer <strong>em</strong> pena <strong>de</strong> morte. Era a Ass<strong>em</strong>bleia que <strong>de</strong>cidia qu<strong>em</strong> seria responsável pelo<br />

julgamento: o Tribunal da Helieia, o Conselho ou a própria Ass<strong>em</strong>bleia. No <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Ménon,<br />

tudo leva a crer que seria cúmplice no roubo. <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>ve ter tido acesso ao <strong>de</strong>creto <strong>de</strong><br />

Glauco na coleção epigráca do macedónio Crátero (cf. Plu. Cim. 13. 1; Arist. 26. 1-2). Foi esta<br />

facilida<strong>de</strong> que fez com que Andóci<strong>de</strong>s (a conselho <strong>de</strong> Timeu) confessasse o seu envolvimento<br />

no <strong>caso</strong> <strong>dos</strong> Hermes (Alc. 21. 5) e <strong>de</strong>nunciasse uns quantos para obter a amnistia. Sobre este<br />

episódio, cf. uc. 6. 60.<br />

146 <strong>Plutarco</strong> não esclarece <strong>de</strong> que modo a morte <strong>de</strong> Fídias po<strong>de</strong>ria inuenciar a reputação<br />

<strong>de</strong> Péricles. Assim, são três as hipóteses que po<strong>de</strong>mos levantar: ou o estadista era afetado, já<br />

que cava <strong>de</strong>sacreditado por não ter conseguido ajudar o amigo; ou porque o aparente suicídio<br />

resultava numa conssão <strong>de</strong> culpa (logo, Péricles estaria, também ele, implicado); ou ainda<br />

visto que Péricles acaba por surgir como um indivíduo capaz <strong>de</strong> matar o cúmplice para se<br />

proteger.<br />

147 Idomeneu <strong>de</strong> Lâmpsaco (cerca <strong>de</strong> 325-270 a.C.) foi amigo <strong>de</strong> Epicuro e participou<br />

ativamente na vida política da sua cida<strong>de</strong>. Conservam-se fragmentos <strong>de</strong> três obras com<br />

caráter biográco <strong>de</strong> sua autoria: uma sobre os lósofos socráticos – <br />

– (da qual apenas conhec<strong>em</strong>os o fragmento sobre Ésquines que surge <strong>em</strong> D. L. 2. 20); outra<br />

intitulada Dos D<strong>em</strong>agogos – –, muito utilizada por <strong>Plutarco</strong> e Ateneu, on<strong>de</strong><br />

reproduz todo o tipo <strong>de</strong> calúnias; a terceira é uma história <strong>dos</strong> Samotrácios –<br />

–, cheia <strong>de</strong> anedotas polémicas. Este autor seguiu o método peripatético<br />

no que concerne à elaboração <strong>de</strong> anedotas e reproduziu muitos escândalos pouco credíveis<br />

para atacar políticos <strong>de</strong> cujas i<strong>de</strong>ias discordava. O biógrafo refuta a acusação <strong>de</strong> Idomeneu<br />

com base no comportamento <strong>de</strong> Péricles para com Címon, quando este enfrentou uma<br />

acusação capital: se o estadista não fez mal n<strong>em</strong> aos inimigos, como po<strong>de</strong>ria cometer tal<br />

atrocida<strong>de</strong> contra um amigo? Sobre a relação do bom político com os seus adversários, vi<strong>de</strong><br />

p. 207, nota 65.<br />

240

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!