17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

massas, o lho <strong>de</strong> Xantipo nunca foi alvo <strong>de</strong> uma contestação séria por parte<br />

<strong>dos</strong> Atenienses (à exceção do burburinho que se levantou por ocasião das<br />

obras <strong>de</strong> <strong>em</strong>belezamento da cida<strong>de</strong>, que o estadista prontamente serenou),<br />

<strong>em</strong>bora ocasionalmente a sua vida privada fosse <strong>de</strong>vassada sobretudo pelos<br />

comediógrafos 132 . O povo só se rebelou contra ele na fase nal da sua carreira<br />

política, um período particularmente conturbado, que coincidiu com o <strong>de</strong>agrar<br />

da Guerra do Peloponeso. <strong>Plutarco</strong> dá-nos uma clara imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ssa contestação<br />

ao concentrar nos capítulos 33, 34 e 35 expressões e frases reveladoras do<br />

crescente <strong>de</strong>scontentamento popular, que culmina no afastamento <strong>de</strong> Péricles<br />

do po<strong>de</strong>r: <strong>em</strong> Per. 33. 8, menciona a «ira – – <strong>dos</strong> concidadãos»; <strong>em</strong><br />

Per. 34. 1, «a impopularida<strong>de</strong> () e o ódio ()»; <strong>em</strong> Per. 34.<br />

2, refere-se à «multidão irritada ()»; Per. 35. 3 «cam furiosos<br />

() com ele» e, <strong>em</strong> Per. 35. 4, alu<strong>de</strong> a uma das tentativas<br />

que Péricles <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>u para lhes «apaziguar a cólera ()» 133 .<br />

Tamanha revolta, que <strong>de</strong>ita por terra todo o esforço <strong>de</strong> conciliação<br />

<strong>em</strong>preendido por Péricles <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da sua carreira, é consequência direta<br />

<strong>de</strong> dois fatores. O primeiro é a guerra que, pela sua natureza, altera a serenida<strong>de</strong><br />

da população, pois <strong>de</strong>strói aqueles bens que <strong>Plutarco</strong> (Moralia 824C) consi<strong>de</strong>ra<br />

fundamentais para que o povo viva feliz 134 e para que até o bom governante<br />

consiga realizar a sua missão: a paz, a liberda<strong>de</strong>, a prosperida<strong>de</strong> e a concórdia.<br />

O segundo é o aproveitamento político que a oposição fez <strong>de</strong>sta escolha<br />

<strong>de</strong> Péricles, atacando-o <strong>em</strong> todas as frentes com argumentos que, dadas as<br />

circunstâncias, foram acolhi<strong>dos</strong> pelas massas. Os adversários quiseram fazer<br />

crer que o estratego 135 optara pela guerra como manobra para distrair da<br />

132 Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra p. 242 sqq.<br />

133 A inuência <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s nesta fase da biograa parece-nos evi<strong>de</strong>nte, sobretudo no que<br />

respeita ao vocabulário e à concentração da i<strong>de</strong>ia da ira <strong>dos</strong> concidadãos, que, no historiador,<br />

ocorre entre 2. 59 e 2. 65. Cf. uc. 2. 21. 3, 2. 60. 1, 2. 65. 1, 2.65. 3 ( irritação/rancor); 2.<br />

22. 1, 2. 59. 3 ( exaspera<strong>dos</strong>). De acordo com Huart (1968: 159-161), a era<br />

uma característica inata <strong>dos</strong> Atenienses para Tucídi<strong>de</strong>s. <strong>Plutarco</strong> partilha da mesma opinião <strong>em</strong><br />

Moralia 799C.<br />

134 Segundo Moralia 823F, as maiores provas da felicida<strong>de</strong> do povo são a sua tranquilida<strong>de</strong> e<br />

mansidão. Po<strong>de</strong>mos, por isso, <strong>de</strong>duzir que, até à eclosão do conito armado com Esparta, o povo<br />

estava satisfeito com a atuação do estadista.<br />

135 Os estrategos constituíam um colégio <strong>de</strong> <strong>de</strong>z m<strong>em</strong>bros oriun<strong>dos</strong> da classe censitária mais<br />

elevada (pentacosiomedimnos). Não eram sortea<strong>dos</strong> como a maioria <strong>dos</strong> magistra<strong>dos</strong>, mas eleitos<br />

anualmente (à razão <strong>de</strong> um por tribo) pela Ass<strong>em</strong>bleia, que lhes indicava as diretrizes a seguir e<br />

à qual tinham <strong>de</strong> prestar contas. Os m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong>sta magistratura – que nos séculos V e IV a.C.<br />

foi uma das principais do regime <strong>de</strong>mocrático – podiam ser reeleitos s<strong>em</strong> limite <strong>de</strong> mandatos,<br />

como aconteceu com Péricles durante quinze anos consecutivos. Além do po<strong>de</strong>r militar, que era<br />

o que originalmente possuíam, tinham também autorida<strong>de</strong> política e administrativa, pelo que<br />

necessitavam <strong>de</strong> ser bons oradores para convencer<strong>em</strong> a Ass<strong>em</strong>bleia das suas opções políticas. A<br />

partir do início da Guerra do Peloponeso, porque cavam muito t<strong>em</strong>po no campo <strong>de</strong> batalha<br />

e afasta<strong>dos</strong> da tribuna, vão-se assumindo cada vez mais como técnicos militares <strong>de</strong>sliga<strong>dos</strong><br />

da política e passam a ser eleitos, já não um por tribo, mas indiferent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>ntre to<strong>dos</strong> os<br />

237

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!