17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

<strong>de</strong> atacar a pátria para dar a conhecer que estava vivo e b<strong>em</strong> vivo (Alc. 22. 3,<br />

Moralia 186D).<br />

O povo e Alcibía<strong>de</strong>s envolv<strong>em</strong>-se, assim, <strong>em</strong> uma disputa <strong>de</strong> «vale-tudo»,<br />

cujo objetivo cego e teimoso é provar ao inimigo qu<strong>em</strong> é, anal, o mais po<strong>de</strong>roso<br />

e capaz. Este comportamento, visto pelos olhos <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong> ser entendido<br />

(e até <strong>de</strong>sculpabilizado) como o <strong>de</strong> um inocente que se recusa a pagar por um<br />

crime que não cometeu ou o <strong>de</strong> alguém a qu<strong>em</strong> tudo era permitido e, a qu<strong>em</strong>,<br />

<strong>de</strong> repente, tudo passa a ser negado. Mas não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um comportamento<br />

infantil e impróprio <strong>de</strong> um <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, que tudo <strong>de</strong>ve fazer pelo b<strong>em</strong> da<br />

sua e concidadãos e, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong>, velar pela 130 , algo<br />

que Alcibía<strong>de</strong>s só muito raramente – e se calhar até <strong>de</strong> modo inconsciente e<br />

com segundas intenções – fez. Trata-se <strong>de</strong> um comportamento ina<strong>de</strong>quado para<br />

qu<strong>em</strong> pretendia rivalizar com a glória do lho <strong>de</strong> Agariste. Em jeito <strong>de</strong> parêntesis,<br />

po<strong>de</strong>mos evocar aqui uma intervenção <strong>de</strong> Péricles, que, pela forma como <strong>Plutarco</strong><br />

a <strong>de</strong>screve (Per. 9. 3,), é comparável a esta <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s: trata-se da r<strong>em</strong>oção <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>res do Areópago, pela qual o jov<strong>em</strong> lho <strong>de</strong> Xantipo pugnou através do<br />

seu amigo Ealtes 131 . De facto, ainda que o biógrafo (que <strong>em</strong> Moralia 813 C, se<br />

refere ao interesse excessivo pelas magistraturas eletivas e à obsessão por cargos<br />

como comportamento indigno e impopular) nunca o arme <strong>de</strong>claradamente,<br />

camos com a impressão <strong>de</strong> que Péricles se associa a Ealtes por obstinação e<br />

imaturida<strong>de</strong> política: é que, como não podia ace<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>ntro da legalida<strong>de</strong>, àquele<br />

órgão (cujo concurso assentava <strong>em</strong> pré-requisitos que Péricles não reunia), então<br />

tornava-se imperioso limitar-lhe os po<strong>de</strong>res.<br />

Mas volt<strong>em</strong>os à ira popular e ao <strong>caso</strong> concreto <strong>de</strong> Péricles. Como já<br />

tiv<strong>em</strong>os oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mencionar, uma vez conquistado o apoio das<br />

130 A <strong>de</strong>fesa que <strong>Plutarco</strong> faz da (Moralia 823F-825F) pren<strong>de</strong>-se sobretudo ao<br />

contexto da atuação <strong>de</strong> um político grego sob a alçada <strong>de</strong> Roma, que tudo <strong>de</strong>ve fazer para<br />

fomentar a concórdia entre concidadãos e entre estes e o po<strong>de</strong>r dominante, <strong>de</strong> modo a garantir<br />

a manutenção <strong>dos</strong> benefícios inerentes à pertença ao império latino, nomeadamente a fruição<br />

<strong>de</strong> paz e segurança. Alcibía<strong>de</strong>s nunca cultiva a , nunca assume esta postura conciliadora,<br />

que o biógrafo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> própria <strong>de</strong> um bom chefe <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>, b<strong>em</strong> pelo contrário: s<strong>em</strong>pre que<br />

po<strong>de</strong>, instiga as diferenças entre os cidadãos para colher benefícios próprios. É isso que se passa<br />

<strong>em</strong> Alc. 25.3- 26.6, quando propõe aos Sâmios a reposição do regime oligárquico (vi<strong>de</strong> infra p.<br />

289 sqq.). Sobre a , consulte-se <strong>de</strong> Blois (2004: 57-66).<br />

131 A intervenção <strong>de</strong> Ealtes contra o Areópago <strong>em</strong> 462 a.C. é um assunto controverso no<br />

que respeita à sua autoria, moral pelo menos. <strong>Plutarco</strong>, <strong>em</strong> Per. 7. 8, 9. 5 e 10. 7-8, apresenta-nos<br />

Ealtes como um mandatário <strong>de</strong> Péricles. No entanto, Plu. Cim. 15. 2 e Arist. Ath. 25. 1-2 atribu<strong>em</strong><br />

a autoria daquilo que os aristocratas consi<strong>de</strong>raram uma afronta ao po<strong>de</strong>r estabelecido e venerável<br />

pela sua antiguida<strong>de</strong> exclusivamente a Ealtes. Tal perspetiva é compreensível, já que este era o<br />

lí<strong>de</strong>r <strong>dos</strong> populares e Péricles apenas um correligionário. Sobre Ealtes, vi<strong>de</strong> supra p. 219, nota 46.<br />

Para mais informações a propósito da reforma do Areópago, uma das últimas medidas para retirar<br />

po<strong>de</strong>r da aristocracia e transferi-lo para o povo, que <strong>Plutarco</strong>, <strong>em</strong> Moralia 805D, toma como um<br />

ato louvável, por consi<strong>de</strong>rar o Areópago um conselho opressor e oligárquico, leiam-se Lewis (1992:<br />

98 sq.); Wallace (1974: 259-269); Jones (1987: 53-76); Ostwald (1986: passim); Ribeiro Ferreira<br />

(1990a: 47 sq) e Mossé – Schnapp-Gourbeillon (1994: 249).<br />

236

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!