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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

chamado para prestar contas: é que n<strong>em</strong> o facto <strong>de</strong> Andóci<strong>de</strong>s 125 ter confessado<br />

o crime para conseguir imunida<strong>de</strong> aliviou sucient<strong>em</strong>ente a cólera do povo.<br />

Assim, uma vez encerrado o <strong>caso</strong> <strong>dos</strong> Hermes, a populaça concentra toda a sua<br />

ira <strong>em</strong> Alcibía<strong>de</strong>s. Nessa altura, o lobo vestiu a pele <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>iro, pois or<strong>de</strong>nou<br />

à <strong>de</strong>legação que tinha por objetivo trazer Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong> volta a Atenas o uso<br />

<strong>de</strong> tato e persuasão e o não recurso à violência (que estaria à sua espera no<br />

momento oportuno…). Aquele <strong>de</strong>veria acreditar que o povo o chamava <strong>de</strong><br />

volta para lhe dar a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> limpar a sua imag<strong>em</strong> e o seu bom nome. O<br />

povo revela, <strong>de</strong>ste modo, a prudência que não manifestou durante a instrução<br />

do processo contra o Alcmeónida: é que, conhecendo o seu feitio int<strong>em</strong>pestivo<br />

– tipicamente <strong>ateniense</strong> – e a estima que o exército nutria por ele, não queria<br />

correr o risco <strong>de</strong> uma sublevação militar (instigada ou não pelo general) n<strong>em</strong><br />

que as tropas, que iriam car apenas sob o comando <strong>de</strong> Nícias e Lâmaco 126 , se<br />

sentiss<strong>em</strong> ainda mais <strong>de</strong>smotivadas 127 .<br />

Mas, tal como Nícias viria a fazer mais tar<strong>de</strong>, Alcibía<strong>de</strong>s receou pela<br />

sua vida se cumprisse as or<strong>de</strong>ns do povo e… escapou-se! 128 A esta fuga cou<br />

associada uma frase do lho <strong>de</strong> Clínias que mostra b<strong>em</strong> a <strong>de</strong>sconança própria<br />

<strong>dos</strong> Atenienses, aqui representada pelo próprio fugitivo, que não cona a vida à<br />

própria mãe, quanto mais aos concidadãos <strong>em</strong> fúria 129 … Ferido no seu orgulho<br />

por este supr<strong>em</strong>o <strong>de</strong>srespeito pela sua soberania, o povo acabou por con<strong>de</strong>ná-lo<br />

à morte, o que r<strong>em</strong>eteu Alcibía<strong>de</strong>s ao exílio e <strong>de</strong>spoletou nele a reação imatura<br />

prazer <strong>em</strong> acolhê-las e <strong>em</strong> mandar para os calabouços to<strong>dos</strong> os que, com ou s<strong>em</strong> justiça, eram<br />

<strong>de</strong>lata<strong>dos</strong>. Para o relato <strong>de</strong>ste episódio, <strong>Plutarco</strong> teve como fontes [And.] 1. 38 e D. S. 13. 2. 4.<br />

125 Vi<strong>de</strong> infra p. 240, nota 145.<br />

126 Sobre este estratego, vi<strong>de</strong> infra p. 284, nota 351.<br />

127 A redação <strong>de</strong> Alc. 21. 7 baseia-se <strong>em</strong> uc. 6. 61-64, mas fornece menos informações sobre<br />

as reais intenções <strong>dos</strong> Atenienses e sobre o contexto histórico que fez aumentar a <strong>de</strong>sconança<br />

(e, consequent<strong>em</strong>ente, a ira) contra o Alcmeónida, como a <strong>de</strong>slocação das tropas lace<strong>de</strong>mónias<br />

para o Istmo e a suspeita <strong>em</strong> que incorriam os amigos que aquele tinha <strong>em</strong> Argos. No primeiro<br />

<strong>caso</strong>, o povo <strong>de</strong>sconou que a movimentação <strong>dos</strong> Lace<strong>de</strong>mónios não tinha por objetivo ajudar<br />

os Beócios, mas antes Alcibía<strong>de</strong>s, que teria a intenção <strong>de</strong> tomar Atenas. No segundo <strong>caso</strong>,<br />

julgavam que os amigos daquele planeavam um ataque contra o povo. Estamos, mais uma vez,<br />

perante o famoso caráter <strong>de</strong>sconado <strong>dos</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Teseu.<br />

128 Fugiu <strong>de</strong> barco <strong>em</strong> Túrios (uc. 6. 61. 6-7, 74. 1; D. S. 13. 5). Daí foi para o Peloponeso,<br />

mas, antes <strong>de</strong> avançar para Esparta, por precaução, instalou-se <strong>em</strong> Argos, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> enviou um<br />

mensageiro aos Lace<strong>de</strong>mónios, propondo-lhes uma aliança. Encontrava-se <strong>em</strong> Argos, quando<br />

os Atenienses o consi<strong>de</strong>raram traidor e pronunciaram a sua sentença <strong>de</strong> morte (Isoc. 16. 9).<br />

Segundo uc. 6. 88. 9, Alcibía<strong>de</strong>s não esteve <strong>em</strong> Argos, mas na Éli<strong>de</strong>. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong><br />

Hatzfeld (1940: 207 n. 2).<br />

129 Alc. 22. 2, Alc. 21. 7, Moralia 186D. Este apego à vida manifestado por Alcibía<strong>de</strong>s parece<br />

contrariar o que diss<strong>em</strong>os no capítulo «Atenas, o umbigo da Héla<strong>de</strong>» (p. 124) a propósito do<br />

<strong>de</strong>sapego que os Atenienses revelavam pela vida. De facto, o povo <strong>de</strong> Atenas dispunha-se a<br />

morrer por aquilo <strong>em</strong> que acreditava, mas não <strong>em</strong> vão. Péricles, por ex<strong>em</strong>plo, vangloriava-se <strong>de</strong><br />

nunca ter posto <strong>em</strong> risco <strong>de</strong>snecessário a vida <strong>de</strong> um concidadão (cf. p. 266). Não é, contudo,<br />

esse o contexto <strong>em</strong> que se encontra Alcibía<strong>de</strong>s, que não pretendia morrer, con<strong>de</strong>nado por algo<br />

que, aparent<strong>em</strong>ente, não zera…<br />

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