17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

rapidamente esqueceram a veneração que por ele sentiam e se tornaram<br />

hostis 118 . Contudo, <strong>de</strong>pressa cou mais tranquilo, porque se apercebeu <strong>de</strong> que<br />

to<strong>dos</strong> os participantes na expedição estavam do seu lado, a ponto <strong>de</strong> os alia<strong>dos</strong><br />

Argivos e Mantineus se recusar<strong>em</strong> a seguir s<strong>em</strong> ele 119 . Por isso, inteligente – e<br />

sabedor <strong>de</strong> quão inuenciável era o povo pelos inimigos daqueles <strong>em</strong> relação<br />

aos quais já estava <strong>de</strong>scontente –, ao sentir que ainda era senhor do apoio <strong>de</strong><br />

qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>tinha o po<strong>de</strong>r militar e que o povo ansiava pela partida da expedição 120 ,<br />

tudo fez para ser julgado (e ilibado) antes da partida. Mas, apesar <strong>dos</strong> seus<br />

gran<strong>de</strong>s dotes oratórios 121 e da anterior admiração que o povo nutrira por ele,<br />

não atingiu os seus propósitos 122 , pois os inimigos, que chegaram a t<strong>em</strong>er que o<br />

povo ignorasse – mais uma vez – a levianda<strong>de</strong> do jov<strong>em</strong> e <strong>de</strong>cidisse a contento<br />

<strong>de</strong>ste 123 , conseguiram apelar às enormes expectativas <strong>dos</strong> Atenienses <strong>em</strong> relação<br />

ao projeto Sicília e convencê-los <strong>de</strong> que não <strong>de</strong>viam adiar a sua execução.<br />

Deste modo, os adversários pu<strong>de</strong>ram car a conspirar na sua ausência, s<strong>em</strong><br />

que tivesse hipóteses <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa 124 . Por isso, pouco t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois, estava a ser<br />

impulsionador da expedição à Sicília <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>sse ações que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> pô-la <strong>em</strong> causa. Sobre<br />

este assunto, consult<strong>em</strong>-se Lewis (1992: 286-287); Westlake (1968: 221-222); Hatzfeld (1940:<br />

158-203, especialmente 178, n. 1); MacDowell (1962: 192-193).<br />

118 O texto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> (Alc. 19. 3) é particularmente sugestivo <strong>de</strong>ssa fúria: <br />

Nesse passo, o biógrafo chama ainda<br />

a atenção para o facto <strong>de</strong> o povo se ter <strong>de</strong>ixado inuenciar pelo veneno instilado por Ândrocles,<br />

um <strong>dos</strong> maiores inimigos do Alcmeónida. Sobre o papel que este orador <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhou no<br />

<strong>de</strong>scrédito <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, cf. uc. 8. 65. Os Atenienses voltariam a dirigir a sua cólera contra<br />

Alcibía<strong>de</strong>s (como no-lo indicam a ocorrência <strong>de</strong> e , <strong>em</strong> Alc. 36. 4, e da expressão<br />

<strong>em</strong> Alc. 38. 1), quando este conou o comando da armada a Antíoco, que<br />

<strong>de</strong>itou tudo a per<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>saar Lisandro para o combate (Alc. 35).<br />

119 Esta informação ocorre igualmente <strong>em</strong> uc. 6. 29. 3, 6. 61. 5.<br />

120 Recor<strong>de</strong>mos que este afã pela Sicília havia sido recuperado e reforçado pelo próprio<br />

Alcibía<strong>de</strong>s, como no-lo diz <strong>Plutarco</strong> <strong>em</strong> Alc. 17.<br />

121 Alcibía<strong>de</strong>s, conando certamente no amor que o povo já lhe <strong>de</strong>dicara, arrisca armar<br />

que era preferível que o con<strong>de</strong>nass<strong>em</strong> à morte se não conseguisse provar a sua inocência ou<br />

que o ilibass<strong>em</strong> para que partisse s<strong>em</strong> receio <strong>dos</strong> sicofantas que cavam para trás. A opção <strong>dos</strong><br />

Atenienses por <strong>de</strong>ixar alguém suspeito <strong>de</strong> conspirar contra a <strong>de</strong>mocracia comandar um exército<br />

tão gran<strong>de</strong> não é muito inteligente n<strong>em</strong> muito sensata e revela b<strong>em</strong> o quanto precisavam <strong>de</strong> um<br />

lí<strong>de</strong>r com cabeça para orientá-los: é que, se Alcibía<strong>de</strong>s quisesse mesmo atacar a <strong>de</strong>mocracia, estar<br />

à frente <strong>de</strong> um exército tão po<strong>de</strong>roso seria vantajoso para ele e prejudicial para Atenas.<br />

122 Facto que, <strong>de</strong> certo modo, surpreen<strong>de</strong>u os que conspiravam contra ele.<br />

123 Como ver<strong>em</strong>os adiante (p. 237), os adversários <strong>de</strong> Péricles também não estavam seguros<br />

da reação que o povo teria diante <strong>dos</strong> diversos ataques <strong>de</strong> que Péricles foi alvo. Nesse sentido,<br />

<strong>Plutarco</strong> (Per. 31. 2) arma que havia qu<strong>em</strong> quisesse experimentar, através <strong>de</strong> Fídias, «que tipo<br />

<strong>de</strong> juiz o povo seria para Péricles». Em ambos os <strong>caso</strong>s, a atuação do povo ultrapassou largamente<br />

as expectativas daqueles que iniciaram a difamação <strong>dos</strong> Alcmeónidas.<br />

124 Em Alc. 20. 4- 20. 8, <strong>Plutarco</strong> <strong>de</strong>ixa transparecer que não acredita na participação <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s no <strong>caso</strong> <strong>dos</strong> Hermes e alu<strong>de</strong> ao forjar <strong>de</strong> test<strong>em</strong>unhos contra o Alcmeónida, já que<br />

nenhuma prova se revelou sucient<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>digna. Para apoiar esta tese, menciona mesmo o<br />

facto <strong>de</strong> uma das test<strong>em</strong>unhas falsas armar ter reconhecido os rostos à luz da lua… <strong>em</strong> noite<br />

<strong>de</strong> lua nova, como se veio a vericar. Mas n<strong>em</strong> diante <strong>de</strong>sta evidência o povo passou a reetir<br />

melhor sobre as diversas <strong>de</strong>núncias falsas que ia recebendo; b<strong>em</strong> pelo contrário, parecia sentir<br />

234

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!