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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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O triunfo da sobre o <br />

o seu texto funcionasse como uma espécie <strong>de</strong> espelho, reetindo as virtu<strong>de</strong>s<br />

características <strong>de</strong> cada um <strong>dos</strong> heróis retrata<strong>dos</strong> 36 – um pouco como se se<br />

tratasse <strong>de</strong> um “speculum principum” avant la lettre. Era essa imag<strong>em</strong> reetida<br />

que <strong>de</strong>veria guiar o comportamento daqueles que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>plá-la.<br />

Com a sua obra (cf. Per. 2. 2-4), pretendia incutir no leitor a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imitação das virtu<strong>de</strong>s que apresenta <strong>em</strong> ação através das personagens que as<br />

incarnam 37 .<br />

<strong>Plutarco</strong> acreditava que qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cont<strong>em</strong>plar o B<strong>em</strong><br />

(), não resiste a agir <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com ele. Ora este interesse<br />

losóco-moral da biograa <strong>em</strong> geral e das Vidas Paralelas <strong>em</strong> particular<br />

é provavelmente a principal diferença entre a historiograa e o discurso<br />

biográco. É por sua causa que o biógrafo é levado a selecionar um indivíduo<br />

e, <strong>de</strong>ntre as suas ações (isto é, os factos históricos), aquelas que melhor<br />

manifest<strong>em</strong> a posse das virtu<strong>de</strong>s a evi<strong>de</strong>nciar. Esses feitos acabam por servir<br />

<strong>de</strong> ‘ilustração’, <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plo. No <strong>caso</strong> da historiograa (e basta pensar <strong>em</strong><br />

Tucídi<strong>de</strong>s), que enfatiza as <strong>de</strong>cisões e ações coletivas, o valor do indivíduo,<br />

<strong>em</strong>bora não seja negado, só é apreciado se este tiver um papel fundamental na<br />

vida político-militar <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado período. No fundo, o valor do indivíduo<br />

resulta não das virtu<strong>de</strong>s por ele possuídas, mas da sua contribuição para o<br />

b<strong>em</strong>-estar da .<br />

Por isso, po<strong>de</strong>mos dizer com Gentili – Reni (1970: 23) que a biograa<br />

<strong>em</strong> <strong>Plutarco</strong> não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>nida apenas como ‘<strong>de</strong>scrizione <strong>de</strong>i fatti di<br />

una vita’, mas antes ‘comme individuazione <strong>de</strong>lla natura di una personalità<br />

necessariamente consi<strong>de</strong>rata nell’aspetto unitario <strong>de</strong>lle sue azioni e <strong>de</strong>i suoi<br />

discorsi’.<br />

De facto, os biógrafos antigos não tinham a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a<br />

vida <strong>dos</strong> indivíduos enquanto tal, isto é, tendo <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração apenas os<br />

feitos e os traços <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong> que os distinguiam das restantes pessoas;<br />

o que procuravam era salientar as características comuns a <strong>de</strong>termina<strong>dos</strong><br />

tipos humanos. O facto <strong>de</strong> <strong>Plutarco</strong> agrupar os seus protagonistas <strong>em</strong> pares<br />

conrma, <strong>de</strong> certo modo, essa inclinação. Além <strong>de</strong> resultar da inuência <strong>dos</strong><br />

biógrafos latinos da época imperial, a sua opção pela redação <strong>de</strong> vidas paralelas<br />

foi favorecida (ou talvez tenha sido até suscitada) pelas circunstâncias <strong>de</strong><br />

36 Na Vida <strong>de</strong> D<strong>em</strong>étrio (1. 6), porém, <strong>Plutarco</strong> evi<strong>de</strong>ncia não as virtu<strong>de</strong>s, mas os vícios,<br />

s<strong>em</strong>pre com os mesmos objetivos pedagógicos: se a cont<strong>em</strong>plação das qualida<strong>de</strong>s nos incita<br />

a imitá-las, a <strong>dos</strong> vícios permite-nos fazer um autodiagnóstico e põe-nos <strong>em</strong> estado <strong>de</strong> alerta,<br />

pois já tiv<strong>em</strong>os oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vericar, através <strong>dos</strong> ex<strong>em</strong>plos, quão nefastos são os efeitos <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>s negativas. Além disso, só apreciamos melhor o que é bom se tivermos um termo <strong>de</strong><br />

comparação...<br />

37 Isso não signica que os protagonistas por ele escolhi<strong>dos</strong> não possuíss<strong>em</strong> <strong>de</strong>feitos. <strong>Plutarco</strong><br />

reconhece a existência <strong>de</strong>ssas máculas e não as omite, como faziam os encómios, pois <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o<br />

rigor das suas <strong>de</strong>scrições. No entanto, consi<strong>de</strong>ra que não se <strong>de</strong>ve dar <strong>de</strong>masiada importância aos<br />

aspetos menos positivos. Cf. Cim. 2. 4-5.<br />

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