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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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“velhinho <strong>de</strong> maus fíga<strong>dos</strong>, duro <strong>de</strong> ouvido 113 .”<br />

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

Nícias, por ex<strong>em</strong>plo, quando a expedição à Sicília se revelou o fracasso<br />

que ele – e também antes Péricles – previra, armou preferir morrer às mãos<br />

do inimigo do que regressar para junto <strong>dos</strong> concidadãos, pois t<strong>em</strong>ia os seus<br />

famosos processos e <strong>de</strong>lações 114 , aos quais n<strong>em</strong> Péricles escapou.<br />

O próprio Alcibía<strong>de</strong>s, cuja popularida<strong>de</strong> inconstante ora o afastava ora<br />

o aproximava das massas 115 , fugiu <strong>de</strong> enfrentar o seu veredito. Quando, por<br />

ocasião da partida para a expedição à Sicília, foi acusado 116 <strong>de</strong>, <strong>em</strong>briagado,<br />

ter <strong>de</strong>struído estátuas e ridicularizado as cerimónias <strong>dos</strong> Mistérios <strong>de</strong><br />

Elêusis 117 , Alcibía<strong>de</strong>s, começou por sentir gran<strong>de</strong> medo, já que os Atenienses<br />

113 É assim que Aristófanes (Eq. 41-42) se refere ao povo. A tradução apresentada é da autoria<br />

<strong>de</strong> Silva (1991: 39). Em Ar. Eq. 1111-1114, o coro chega a armar que to<strong>dos</strong> t<strong>em</strong><strong>em</strong> o povo como<br />

se <strong>de</strong> um se tratasse, o que é um paradoxo digno <strong>de</strong> nota, já que os Atenienses, apesar<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>testar<strong>em</strong> o regime monárquico, agiam como se estivess<strong>em</strong> à frente <strong>de</strong> um. Plu. Moralia 799D<br />

arma <strong>de</strong>claradamente que o povo <strong>de</strong> Atenas infundia pavor até aos seus governantes.<br />

114 Cf. uc. 7. 48 e Plu. Nic. 22. 2-3. Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser curioso salientar, que <strong>em</strong>bora foss<strong>em</strong><br />

a<strong>de</strong>ptos <strong>de</strong> intrigas e reagiss<strong>em</strong> a quente e normalmente <strong>de</strong> modo excessivo, os Atenienses<br />

eram capazes <strong>de</strong> se dar conta <strong>de</strong>ssa falta e <strong>de</strong> tentar voltar atrás, como aconteceu no <strong>caso</strong> <strong>de</strong><br />

Mitilene (uc. 3. 36). Mas, se o recuo não era possível, <strong>de</strong>sviavam a sua frustração e ira do alvo<br />

primordial, dirigindo-a contra aqueles que provocaram a situação. Cf. X. HG 1. 7. 35. Sobre este<br />

assunto, vi<strong>de</strong> supra p. 121, nota 36.<br />

115 Segundo Gribble (1999: 268, 277-279), a atitu<strong>de</strong> do povo para com Alcibía<strong>de</strong>s era tão<br />

inconsistente como a vida <strong>de</strong>ste.<br />

116 De acordo com Alc. 19. 3 e 22. 4, foi Téssalo, o lho <strong>de</strong> Címon (mencionado <strong>em</strong> Per. 29.<br />

2), qu<strong>em</strong> acusou Alcibía<strong>de</strong>s <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong> para com D<strong>em</strong>éter e Perséfone. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente<br />

<strong>de</strong> o Alcmeónida ser culpado ou inocente, po<strong>de</strong>mos acreditar que a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> Téssalo tenha sido<br />

uma forma <strong>de</strong> retaliação pela constante perseguição que Péricles <strong>de</strong>dicou a ele e aos seus irmãos<br />

(cf. infra p. 277, nota 306). Em Alc. 20. 6, <strong>Plutarco</strong> chama a atenção para o facto <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s não<br />

nomear os <strong>de</strong>latores do Alcmeónida e apresenta como fonte do nome que indica – Diocli<strong>de</strong>s<br />

– um passo <strong>de</strong> uma comédia <strong>de</strong> Frinico (fr. 58 CAF I 385). Este é um <strong>dos</strong> raros momentos<br />

(se comparado com a Vida <strong>de</strong> Péricles) <strong>em</strong> que o biógrafo usa citações <strong>de</strong> comédia na Vida <strong>de</strong><br />

Alcibía<strong>de</strong>s. Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> p. 242.<br />

117 Esta acusação ocorreu pouco <strong>de</strong>pois do episódio da mutilação <strong>dos</strong> Hermes, entendido por<br />

alguns como um mau presságio para a expedição que se avizinhava (cf. uc. 6. 27. 1-3; D. S. 13. 2.<br />

3; Nep. Alc. 3). Houve, por sua vez, qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>sse tratar-se <strong>de</strong> uma manobra <strong>de</strong> intimidação <strong>dos</strong><br />

Coríntios, que eram colonizadores <strong>de</strong> Siracusa cf. Cratipo (FGrHist 64 F 3) e Filócoro (FGrHist<br />

328 F 133) e também qu<strong>em</strong> atribuísse o sucedido ao <strong>de</strong>svario <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong>briaga<strong>dos</strong>. O povo<br />

não se <strong>de</strong>ixou convencer por nenhuma <strong>de</strong>stas teorias e, <strong>de</strong>sconado como s<strong>em</strong>pre da existência<br />

<strong>de</strong> conspiração para abolir a <strong>de</strong>mocracia, apressou-se a investigar <strong>de</strong> modo a encontrar um bo<strong>de</strong><br />

expiatório para punir (cf. uc. 6. 60, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>screve a reação do povo por ocasião <strong>dos</strong> Hermes).<br />

Os inimigos <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, representa<strong>dos</strong> pelo orador Ândrocles, souberam tirar proveito da<br />

conjuntura para envenenar os Atenienses contra aquele, acusando-o <strong>de</strong> ter participado na mutilação<br />

<strong>de</strong> outras estátuas (Plu. Alc. 19. 1), ou, na versão <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s (6. 28), da própria mutilação <strong>dos</strong><br />

Hermes e da profanação <strong>dos</strong> Mistérios. Tais acusações ganharam um peso proporcional à ambição<br />

<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, pelo que as suas consequências para o jov<strong>em</strong> Alcmeónida foram dramáticas, mas<br />

não sucientes para calar a sua <strong>em</strong>páa. De qualquer modo, seria pouco provável que o gran<strong>de</strong><br />

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