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O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

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Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

prisioneira 107 por ocasião da conquista <strong>de</strong> Melos (Alc. 16. 5; supra p. 186)…<br />

e o povo não reagiu. O mesmo aconteceu, por ex<strong>em</strong>plo, quando enganou a<br />

<strong>em</strong>baixada <strong>de</strong> Esparta (Alc. 14): neste <strong>caso</strong>, apesar <strong>de</strong> con<strong>de</strong>nar moralmente o<br />

comportamento do jov<strong>em</strong>, os seus concidadãos não atuaram, porque caram<br />

satisfeitos com os benefícios <strong>de</strong>le resultantes 108 .<br />

Importa abrir um parêntesis para recordar que Alcibía<strong>de</strong>s não foi<br />

vítima apenas da inveja <strong>dos</strong> Atenienses. Durante o exílio, «adotou» quer os<br />

Lace<strong>de</strong>mónios quer os Persas como concidadãos e auxiliou-os na prossecução<br />

das respetivas metas com todo o <strong>em</strong>penho próprio <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> se vinga 109 . Por<br />

isso, tornou-se po<strong>de</strong>roso e célebre, quer na Lace<strong>de</strong>mónia, quer na corte <strong>de</strong><br />

Tissafernes. Em ambos os <strong>caso</strong>s, tanto os nobres mais inuentes e ambiciosos<br />

como Ágis 110 e Tissafernes começaram a sentir-se invejosos e incomoda<strong>dos</strong><br />

com o seu prestígio, o que revela o dom que Alcibía<strong>de</strong>s tinha <strong>de</strong> se fazer amado<br />

e odiado 111 . Em ambos os <strong>caso</strong>s, Alcibía<strong>de</strong>s foi «traído» e obrigado a fugir para<br />

se manter vivo, o que corrobora a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a inveja <strong>em</strong> política é um perigo<br />

<strong>em</strong> qualquer lugar do mundo (Alc. 24. 3). Todavia, nunca fraqueja ou aparenta<br />

<strong>de</strong>sanimar e <strong>de</strong>pressa busca uma solução para o seu probl<strong>em</strong>a.<br />

No entanto, quando a lua <strong>de</strong> mel cessava, porque – por iniciativa própria<br />

ou instigado pelos inimigos <strong>dos</strong> políticos <strong>em</strong> causa – o povo cava <strong>de</strong>scontente<br />

com a atuação privada, política ou militar daqueles, a sua reação era imprevisível<br />

e até perigosa, pois a fúria <strong>dos</strong> Atenienses era implacável 112 . Os políticos, <strong>de</strong> um<br />

modo geral, tinham essa noção e t<strong>em</strong>iam enfrentar esse<br />

107 [And.] 4. 22-23, segundo o qual a cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s chegou ao ponto <strong>de</strong> este matar<br />

os pais e familiares <strong>de</strong>sta mulher. Cf. [And]. 2. 14 e Ath. 534c.<br />

108 Cf. supra p. 205 sqq.<br />

109 Infra p. 285 sqq.<br />

110 Quer Alcibía<strong>de</strong>s (Alc. 24. 3-4) quer Coriolano (Cor. 31. 1-3) <strong>de</strong>sagradavam às elites locais.<br />

No entanto, o Alcmeónida sai prejudicado relativamente a Coriolano nesta comparação, na<br />

medida <strong>em</strong> que este nunca teve comportamentos ofensivos para com aqueles que o acolheram,<br />

ao passo que Alcibía<strong>de</strong>s se fez amante da mulher do rei (Alc. 23. 7-9). Não surpreen<strong>de</strong>, por isso,<br />

que a inveja que indispôs Ágis com Alcibía<strong>de</strong>s tenha tido um duplo motivo: por um lado, o<br />

obscurecimento do seu mérito nos sucessos <strong>de</strong> Esparta, que to<strong>dos</strong> atribuíam ao Alcmeónida; por<br />

outro, o facto <strong>de</strong> este não ter sabido respeitar o seu antrião e lhe ter engravidado a mulher. Por<br />

essas razões, o rei con<strong>de</strong>nou-o à morte (Alc. 24. 4). Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> uc. 8. 45; Hatzfeld<br />

(1940: 227); Ver<strong>de</strong>g<strong>em</strong>, (2005: 175). A relação que uniu Alcibía<strong>de</strong>s a Timaia será abordada com<br />

mais pormenor adiante (p. 246).<br />

111 Esta capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s é <strong>de</strong>monstrada <strong>em</strong> diversos momentos da sua vida. Um<br />

<strong>de</strong>les é mencionado por <strong>Plutarco</strong> <strong>em</strong> Alc. 25 e <strong>de</strong>corre do serviço prestado pelo Alcmeónida a<br />

Tissafernes: o Persa foi aconselhado a <strong>de</strong>ixar Esparta e Atenas lutar<strong>em</strong> até à mútua <strong>de</strong>struição;<br />

<strong>de</strong>ste modo, o po<strong>de</strong>r do inimigo seria <strong>de</strong>struído s<strong>em</strong> esforços e custos para o Rei. Como não<br />

po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser, Espartanos e Atenienses, que <strong>em</strong> período não muito distante idolatraram<br />

Alcibía<strong>de</strong>s, cam furiosos com ele.<br />

112 Cf. Moralia 799C. Disso nos dão test<strong>em</strong>unho, por ex<strong>em</strong>plo, Ar. Eq. 537, V. 243. Em Arist.<br />

26. 5, <strong>Plutarco</strong> enumera as injustiças <strong>dos</strong> Atenienses para com os seus estrategos. Sobre este<br />

t<strong>em</strong>a, vi<strong>de</strong> Knox (1957: 76).<br />

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