17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Parte V - O <strong>hom<strong>em</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Estado</strong> do século V<br />

230<br />

“as taxas das cida<strong>de</strong>s e as próprias cida<strong>de</strong>s, umas para ser<strong>em</strong> subjugadas, outras<br />

libertadas; as muralhas <strong>de</strong> pedra, umas para construir, outras, pelo contrário,<br />

para <strong>de</strong>itar <strong>de</strong> novo abaixo, as alianças, a força, o po<strong>de</strong>r, a paz, a riqueza e a<br />

felicida<strong>de</strong>.”<br />

De facto, segundo <strong>Plutarco</strong>, era só a Péricles que os Atenienses entregavam<br />

as questões verda<strong>de</strong>iramente importantes (Per. 32. 6); a sua conança nele era<br />

tal que, à exceção das críticas que <strong>de</strong> início zeram aos gastos excessivos com<br />

as obras <strong>de</strong> <strong>em</strong>belezamento, não questionavam as <strong>de</strong>spesas que apresentava 98 ,<br />

n<strong>em</strong> mesmo aquelas que vinham apenas rotuladas <strong>de</strong> «gastos diversos» (Per. 23.<br />

1). Esta com que o povo presenteia Péricles po<strong>de</strong> e <strong>de</strong>ve ser interpretada<br />

como aquilo que <strong>Plutarco</strong> consi<strong>de</strong>ra o único prémio [honra] a almejar pelo<br />

bom político <strong>em</strong> troca da <strong>de</strong>voção que consagra à 99 . É que, segundo o<br />

biógrafo (Moralia 820B-821C), as maiores honras não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser manifestadas<br />

através <strong>de</strong> estátuas, mas da conança (Moralia 821C ) e afeto (Moralia<br />

821C ) ou marcas materiais discretas (como inscrições ou<br />

<strong>de</strong>cretos), porque são um reconhecimento simbólico (no <strong>caso</strong> particular <strong>de</strong><br />

Péricles, pela forma correta e séria como conduzia os <strong>de</strong>stinos da cida<strong>de</strong>) e não<br />

um pagamento pelas benfeitorias recebidas.<br />

O mesmo não se po<strong>de</strong> dizer <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s.<br />

Apesar da sua capacida<strong>de</strong> inata <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança e <strong>de</strong>streza política, o próprio<br />

Péricles, à s<strong>em</strong>elhança do que suce<strong>de</strong>u a inúmeros outros políticos <strong>de</strong> renome 100 ,<br />

não saiu ileso da sua relação com as massas. Tal facto não <strong>de</strong>ve ser encarado<br />

com surpresa por três razões: a primeira é que nenhuma relação humana é<br />

s<strong>em</strong>pre feliz e pacíca. A segunda consiste no caráter volúvel da popularida<strong>de</strong>,<br />

principalmente se o político <strong>em</strong> questão se apresenta diante do povo s<strong>em</strong>pre à<br />

vonta<strong>de</strong>, tão ou mais à vonta<strong>de</strong> do que se estivesse no recesso do lar (foi assim<br />

que Alcibía<strong>de</strong>s começou por agir), ao invés <strong>de</strong> optar por um comportamento<br />

preventivo, <strong>de</strong> pouca exposição, à s<strong>em</strong>elhança do que caracteriza, por ex<strong>em</strong>plo,<br />

Péricles e Nícias 101 . A terceira <strong>de</strong>corre da natureza sui generis do povo, e <strong>em</strong><br />

vida <strong>ateniense</strong> (sobretudo no que respeita à política externa), revela a sintonia que, por norma,<br />

pautava a relação entre Péricles e o povo e que é realçada pelo facto <strong>de</strong>, antes <strong>de</strong> apontar este<br />

test<strong>em</strong>unho da comédia, <strong>Plutarco</strong> (Per. 15. 1) ter armado que foi aquele qu<strong>em</strong> «se conou»<br />

essas e outras responsabilida<strong>de</strong>s. Po<strong>de</strong>mos, por isso, concluir que as vonta<strong>de</strong>s do lho <strong>de</strong> Xantipo<br />

acabavam muitas vezes por se transformar nos <strong>de</strong>sejos do povo.<br />

98 Sobre a honestida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles no que toca a dinheiro, vi<strong>de</strong> infra p. 251 sqq.<br />

99 Para este assunto, vi<strong>de</strong> Boulogne (2004: 197-212).<br />

100 A escolha da expressão «<strong>de</strong> renome» para caracterizar os políticos que sofreram às mãos<br />

do povo não é inocente, pois como ver<strong>em</strong>os <strong>de</strong> seguida, este não convivia muito b<strong>em</strong> com os<br />

sucessos <strong>dos</strong> seus homens <strong>de</strong> <strong>Estado</strong>.<br />

101 Cf. supra p. 190 sqq. Segundo Plu. Nic. 2. 4, a inuência consi<strong>de</strong>rável que Nícias obteve<br />

junto da populaça pren<strong>de</strong>-se ao receio que <strong>de</strong>monstrava ter-lhe. De facto, é próprio do povo<br />

t<strong>em</strong>er os que o <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nham e elevar os que o t<strong>em</strong><strong>em</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!