17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

cavalo» não aquiescia a b<strong>em</strong> às propostas que fazia (algo que aconteceu<br />

sobretudo <strong>em</strong> momentos chave da governação, como por ocasião das obras<br />

<strong>de</strong> <strong>em</strong>belezamento da cida<strong>de</strong> e <strong>dos</strong> primeiros anos da Guerra do Peloponeso),<br />

Péricles recorria a esse processo para obrigá-lo a agir do melhor modo, ou seja,<br />

a seguir pelo caminho que entendia mais vantajoso. É como se <strong>de</strong>ixasse o povo<br />

viver na ilusão <strong>de</strong> estar no comando <strong>dos</strong> interesses da cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> que apenas<br />

intervinha quando via esses mesmos interesses ameaça<strong>dos</strong> 93 .<br />

O que fazia com que o , s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>sconado 94 e renitente – que<br />

não escondia a sua animosida<strong>de</strong> para com a classe política (Moralia 813A) –,<br />

a<strong>de</strong>risse aos conselhos e opções que apresentava era sobretudo a sua enorme<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> persuasão e a conduta irrepreensível (Per. 15. 2-3 95 ), que<br />

geravam nos Atenienses uma conança quase cega, a ponto <strong>de</strong>, como parodia<br />

Telecli<strong>de</strong>s 96 , lhe ter<strong>em</strong> conado<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

(Per. 16. 2) 97<br />

como um cavalo teimoso e caprichoso, que <strong>de</strong>ve ser mantido com ré<strong>de</strong>a curta para o seu próprio<br />

b<strong>em</strong> (Moralia 800C, 802D, 814C, 821A, 823E-F). Embora reconheça que as pessoas não <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

ser tratadas como animais (Fab. 20. 4, Moralia 821D), <strong>Plutarco</strong> aceita o uso <strong>de</strong> «argumentos»<br />

físicos (sugeri<strong>dos</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, pelo recurso ao verbo ‘domesticar’ – <strong>em</strong> Num. 8. 3 e<br />

D<strong>em</strong>. 5. 5) para impor a obediência, sobretudo se a natureza do povo <strong>em</strong> causa não for boa.<br />

93 Cf. Per. 39. 3, on<strong>de</strong> se arma que muitos estavam <strong>de</strong>scontentes com o seu po<strong>de</strong>r, porque<br />

se sentiam obscureci<strong>dos</strong>.<br />

94 Em Moralia 821B, <strong>Plutarco</strong> recorda D. 6. 24, segundo o qual a <strong>de</strong>sconança é para as<br />

cida<strong>de</strong>s um modo <strong>de</strong> se precaver<strong>em</strong> contra a tirania.<br />

95 Cf. Moralia 801C, on<strong>de</strong> o biógrafo arma que o caráter é responsável pela conança<br />

ou <strong>de</strong>sconança que o povo nutre por um lí<strong>de</strong>r. Em Per. 15. 2-3, <strong>Plutarco</strong> analisa as causas<br />

da li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> exceção que Péricles exerceu sobre Atenas e do respeito e consi<strong>de</strong>ração que a<br />

população, <strong>de</strong> um modo geral, nutria por ele, a saber: a eloquência (que t<strong>em</strong> por fontes Pl. Phdr.<br />

270a e, naturalmente, Tucídi<strong>de</strong>s, que o apresenta tantas vezes no uso da palavra), a reputação<br />

<strong>de</strong> vida e ainda (neste contexto, a principal) a incorruptibilida<strong>de</strong> do estadista (cuja fonte é uc.<br />

2. 65. 8-9). Acresce o que o historiador chama inteligência () e consi<strong>de</strong>ração pública<br />

() e <strong>Plutarco</strong> conança (): assim se salienta que o povo não tinha mera consi<strong>de</strong>ração<br />

ou respeito pela integrida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Péricles, mas sim que, por causa <strong>de</strong>ssa mesma integrida<strong>de</strong>, tinha<br />

total conança no político (<strong>em</strong>bora saibamos que, por vezes, hesitava). Fica <strong>de</strong>ste modo evi<strong>de</strong>nte<br />

que Tucídi<strong>de</strong>s, correligionário <strong>de</strong> Péricles, partilhava, <strong>de</strong> uma forma geral, das opiniões políticas<br />

do estadista. Não nos surpreen<strong>de</strong>, por isso que lhe tenha tecido rasga<strong>dos</strong> elogios (cf. uc. 2. 65-<br />

66) e que tenha omitido as críticas que lhe foram feitas e as acusações <strong>dos</strong> seus opositores (vi<strong>de</strong><br />

infra p. 238, nota 139).<br />

96 Comediógrafo que parece ter obtido três vitórias nas Dionísias e quatro nas Leneias, a<br />

primeira das quais terá ocorrido <strong>em</strong> 446 a.C. Chegaram até nós alguns títulos como, Anctiões,<br />

Hesío<strong>dos</strong>, Castigo, Prítanes e fragmentos que suger<strong>em</strong> a orientação política das suas críticas.<br />

97 Fr. 45 K.-A. Este fragmento, esclarecedor do profundo domínio do governante sobre a<br />

229

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!