17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> saber receitar o que é mais apropriado para a doença manifestada 82 (Per.<br />

15. 1), também Péricles toma as medidas que, consoante as circunstâncias,<br />

enten<strong>de</strong> mais a<strong>de</strong>quadas. Doseia, como se <strong>de</strong> medicamentos se tratasse,<br />

me<strong>dos</strong> e esperanças 83 <strong>dos</strong> Atenienses para obter um efeito paliativo 84 para a<br />

sua arrogância e paixões (, Per. 15. 2), <strong>de</strong>correntes do gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que<br />

<strong>de</strong>tinham 85 e constant<strong>em</strong>ente inamadas pelas más inuências <strong>dos</strong> políticos <strong>de</strong><br />

baixa categoria e pelos inimigos do lho <strong>de</strong> Xantipo. Foi isso que aconteceu,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, quando conseguiu impedir novo ataque ao Egito, adiar o sonho<br />

(, nas palavras <strong>de</strong> Plu. Per. 20. 4) da Sicília (Etrúria e Cartago) 86 , b<strong>em</strong><br />

como manter a estratégia contra a Lace<strong>de</strong>mónia por ocasião da invasão da<br />

Ática 87 , <strong>de</strong>cisões fundamentais para a manutenção do império, mas que os<br />

políticos que lhe suce<strong>de</strong>ram, gananciosos e menos pru<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>itaram a<br />

per<strong>de</strong>r. Ou quando tudo fez para consolar e encorajar os concidadãos, na altura<br />

<strong>em</strong> que, além <strong>de</strong> martirizada pela peste, Atenas saiu <strong>de</strong>rrotada do cerco contra<br />

Epidauro 88 (Per. 35. 3).<br />

82 Pl. Lg. 684c arma mesmo que na política, como na medicina, não há tratamentos s<strong>em</strong> dor.<br />

A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que a cura po<strong>de</strong> implicar medidas radicais e causadoras <strong>de</strong> sofrimento no imediato<br />

surge também <strong>em</strong> Grg. 521e-522a e R. 564b-c. <strong>Plutarco</strong> refere-se a medidas <strong>de</strong>sta natureza, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> Cor. 12. 5, Cam. 9.3, mas <strong>de</strong> um modo geral <strong>de</strong>ixa a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> preferir soluções menos<br />

drásticas (Num. 8. 2, Ca. Mi. 47. 2, Caes. 31. 7). Sobre a importância da doçura nas Vidas, vi<strong>de</strong><br />

Romilly (1979: 275-292).<br />

83 A capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolher a medicação e posologia corretas <strong>de</strong>corre do profundo<br />

conhecimento que o estadista <strong>de</strong>ve possuir acerca do caráter do povo que governa. Só assim<br />

se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicar à árdua e morosa tarefa <strong>de</strong> lhe melhorar o caráter, uma das principais funções<br />

<strong>de</strong> um lí<strong>de</strong>r <strong>de</strong> excelência (cf. Moralia 799B-C, 800A). Ainda que no nosso texto associ<strong>em</strong>os<br />

esta <strong>dos</strong>ag<strong>em</strong> hábil à faceta <strong>de</strong> médico do nosso político, o certo é que, <strong>em</strong> <strong>Plutarco</strong> (Per. 15.<br />

2), tal i<strong>de</strong>ia r<strong>em</strong>ete para o comportamento <strong>de</strong> um piloto que, como ninguém, controla o l<strong>em</strong>e.<br />

Preten<strong>de</strong>mos com esta referência tornar mais evi<strong>de</strong>nte o facto <strong>de</strong> um bom governante ser<br />

simultaneamente um excelente médico, pai e piloto.<br />

84 A opção pelo termo «paliativo» foi bastante pon<strong>de</strong>rada, pois, como o futuro viria a<br />

comprovar com políticos como Alcibía<strong>de</strong>s, Péricles não conseguiu curar o povo, apenas camuou<br />

as causas <strong>de</strong>ssa sua doença crónica.<br />

85 Em Moralia 779D, <strong>Plutarco</strong> recorda uma anedota protagonizada por Platão <strong>em</strong><br />

Cirene, cuja moral é a seguinte: aqueles que, como os habitantes <strong>de</strong> Cirene, se encontram <strong>em</strong><br />

um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>, transformam-se num povo (mais) arrogante, arisco e<br />

ingovernável. Terá sido, pelo menos, essa a <strong>de</strong>sculpa que o fundador da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong>u para se<br />

recusar a elaborar a constituição <strong>de</strong> Cirene.<br />

86 Plu. Per. 21. 1, Alc. 17. 1.<br />

87 Esta foi talvez a maior diculda<strong>de</strong> por que passou, já que o contexto era particularmente<br />

difícil por causa da contestação <strong>de</strong> que Péricles vinha sendo alvo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes do início da<br />

guerra e que se intensicou por causa da sua teimosia <strong>em</strong> manter uma estratégia que, além <strong>de</strong><br />

aparent<strong>em</strong>ente não estar a surtir gran<strong>de</strong>s resulta<strong>dos</strong>, também não se coadunava com a maneira<br />

<strong>de</strong> ser ativa <strong>dos</strong> Atenienses (cf. supra p. 120 sqq). Sobre este assunto, vi<strong>de</strong> infra p. 255 sqq.<br />

88 Epidauro era a segunda cida<strong>de</strong> da Argólida e forneceu oito navios <strong>em</strong> Art<strong>em</strong>ísio e <strong>de</strong>z <strong>em</strong><br />

Salamina. A sua hostilida<strong>de</strong> com Argos, primeira cida<strong>de</strong> da região, fez com que fosse partidária<br />

<strong>de</strong> Esparta. Epidauro era famosa pelo santuário <strong>de</strong>dicado a Asclépio. O facto <strong>de</strong> Péricles atacar<br />

esta região durante uma situação <strong>de</strong> peste causa admiração, pois era mais lógico que tentasse<br />

pedir ajuda ao <strong>de</strong>us da medicina.<br />

227

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!