17.04.2013 Views

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

O homem de Estado ateniense em Plutarco: o caso dos Alcméonidas

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

O <strong>caso</strong> <strong>de</strong> Péricles e Alcibía<strong>de</strong>s<br />

É que o estadista sentia-se no <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> fazer o melhor pelos concidadãos,<br />

<strong>de</strong> pôr os interesses da à frente <strong>dos</strong> seus próprios 72 e daquilo que o povo<br />

acreditava ser o mais acertado, porque tinha a consciência <strong>de</strong> que este é uma<br />

massa <strong>de</strong> opinião inconstante (Per. 15. 1 fala-nos <strong>dos</strong> <strong>de</strong>sejos da multidão, que<br />

eram como o vento – ) e precipitada,<br />

que se <strong>de</strong>ixa levar pelos impulsos (Per. 20. 3 ), cujas<br />

consequências para o futuro po<strong>de</strong>m não ser as melhores 73 . Péricles chega a ser<br />

insultado e acusado <strong>de</strong> cobardia 74 , no entanto, o seu bom-senso e autodomínio<br />

faz<strong>em</strong> com que suporte com calma e <strong>em</strong> silêncio as injúrias <strong>dos</strong> inimigos 75 :<br />

é isso que acontece quando ele, perante a invasão lace<strong>de</strong>mónia, se recusa a<br />

combater no solo da Ática, optando por mostrar o valor <strong>dos</strong> Atenienses no<br />

mar 76 (Per. 33. 6).<br />

É por causa <strong>de</strong>sta atitu<strong>de</strong> (e da capacida<strong>de</strong> do lho <strong>de</strong> Xantipo para<br />

controlar a impon<strong>de</strong>ração <strong>dos</strong> cidadãos e <strong>dos</strong> seus colegas 77 ) que <strong>Plutarco</strong>, por<br />

inuência da teoria política <strong>de</strong> Platão 78 (Grg. 456b), compara algumas vezes a<br />

72 Tal postura aparenta ser uma incongruência com as medidas <strong>de</strong>magógicas que tomou no<br />

momento <strong>de</strong> acesso ao po<strong>de</strong>r. Mas não o é: Péricles tinha um projeto político, que só po<strong>de</strong>ria<br />

impl<strong>em</strong>entar uma vez criadas as condições para isso, ou seja, com o po<strong>de</strong>r nas mãos e o apoio da<br />

população. A <strong>de</strong>magogia foi, neste <strong>caso</strong>, um mau meio, perdoável pelo b<strong>em</strong> que do governo <strong>de</strong><br />

Péricles adveio para a .<br />

73 Esta perspetiva que <strong>Plutarco</strong> apresenta <strong>em</strong> Per. 15 é certamente inuenciada por uc. 2.<br />

65. 9, que i<strong>de</strong>ntica Péricles com a razão () e os Atenienses com as paixões. Cf. Edmunds<br />

(1975: 7-14).<br />

74 Esta acusação contrasta com a posição <strong>de</strong> Aristóteles (EN 1116a 10), segundo o qual<br />

: “os homens corajosos são ativos no<br />

momento <strong>de</strong> agir e calmos antes”. Era precisamente o que acontecia com Péricles. Ele sabia<br />

que há momentos oportunos para levar a cabo todas as ações. É então que <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os dar o nosso<br />

máximo; até lá, a serenida<strong>de</strong> é a melhor forma <strong>de</strong> reunir as energias necessárias.<br />

75 O comportamento <strong>de</strong> Péricles coinci<strong>de</strong> com o <strong>de</strong>fendido por Aristóteles (EN 1100b 35):<br />

<br />

<br />

o <strong>hom<strong>em</strong></strong> verda<strong>de</strong>iramente bom e sensato, pensamos<br />

nós, suporta <strong>de</strong>cent<strong>em</strong>ente todas as vicissitu<strong>de</strong>s e executa s<strong>em</strong>pre as ações mais nobres, como<br />

também um bom general faz o melhor uso possível do exército sob o seu comando.’<br />

76 O principal motivo que terá levado os Lace<strong>de</strong>mónios a invadir a Ática e a assentar arraiais<br />

<strong>em</strong> Acarnas foi a crença <strong>de</strong> que os Atenienses, belicosos e da<strong>dos</strong> à ação, teriam uma reação<br />

imediata, movi<strong>dos</strong> pela raiva e pelo orgulho ferido e sairiam prejudica<strong>dos</strong>, porque os Espartanos<br />

eram superiores <strong>em</strong> combates terrestres. Só não contaram com a oposição <strong>de</strong> Péricles a esse<br />

recontro, ou melhor, com a capacida<strong>de</strong> que este tinha <strong>em</strong> refrear a fúria da turba. Sobre a ação<br />

do Alcmeónida neste momento <strong>de</strong>licado da vida <strong>de</strong> Atenas, vi<strong>de</strong> p. 280 sqq.<br />

77 Per. 2. 5. Esta é uma das maiores virtu<strong>de</strong>s do nosso estadista e uma daquelas que partilha<br />

com o seu par, Fábio Máximo. Cf. Fab. 3. 7, 5.5, 10. 1. Outros políticos, como Nícias (Nic.<br />

11. 2) e D<strong>em</strong>óstenes (D<strong>em</strong>. 14. 3), mostraram <strong>de</strong>terminação s<strong>em</strong>elhante ao tentar fazer frente<br />

() aos caprichos () do povo, mas não foram tão b<strong>em</strong> sucedi<strong>dos</strong>. No <strong>caso</strong><br />

<strong>de</strong> Nícias, <strong>Plutarco</strong> (Moralia 802C-D) atribui esse insucesso aos seus fracos dotes <strong>de</strong> oratória.<br />

78 Em Lg.905e-906a, o fundador da Aca<strong>de</strong>mia compara os governantes (neste <strong>caso</strong><br />

especíco, os <strong>de</strong>uses que comandam os <strong>de</strong>stinos do mundo) a médicos, pilotos, generais,<br />

225

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!